A campanha do Inter até aqui como visitante na Libertadores é exemplar: quatro jogos, com três vitórias (sobre Palestino, Alianza Lima e Nacional-URU) e um empate (River Plate), que ocorreu somente nos acréscimos, em um dos poucos erros de Marcelo Lomba no ano. Longe do Beira-Rio em 2019, América afora, o time de Odair Hellmann tem até aqui campanha superior às do Inter bicampeão da Libertadores, em 2006 e em 2010.
A questão é que, agora, D'Alessandro e seus companheiros enfrentarão o maior desafio da temporada – sim, maior até mesmo do que o Palmeiras, no Allianz Parque. Um Flamengo reforçado por medalhões (Rafinha, Filipe Luís, Gerson, Gabibol, Arrascaeta e Bruno Henrique) e, como se isso não fosse um desafio suficiente, empolgado pela golada por 4 a 1 sobre o principal rival e empurrado por um Maracanã que terá 70 mil torcedores apoiando. Um mata-mata do tamanho do continente.
Com o trabalho do técnico português Jorge Jesus minimamente consolidado, o Flamengo marcou sete gols nas duas últimas partidas (3 a 1 nos reservas do Grêmio, 4 a 1 nos titulares do Vasco), mas também foi goleado por 3 a 0 pelo Bahia, três rodadas de Brasileirão atrás – além de ter sido eliminado na Copa do Brasil pelo Athletico-PR.
Odair fechou os portões do Beira-Rio na manhã de segunda-feira. Ainda que Edenilson já tenha voltado a dar trote e até tenha arriscado alguns piques, após a lesão muscular sofrida na vitória sobre o Cruzeiro, pela Copa do Brasil, ele dificilmente jogará no Maracanã. Há o temor de que uma lesão mais séria ocorra e que o Inter fique sem o seu camisa 8 por longo período.
Assim, com Rodrigo Lindoso confirmado na vaga de Rodrigo Dourado (que já está há quase 40 dias parado, devido às novas dores no joelho esquerdo) e, possivelmente Nonato (ou Bruno Silva) na vaga de Edenilson, o Inter deverá apresentar uma forte marcação, com saídas rápidas para os contra-ataques. Lindoso, porém, após o treino fechado, fez aumentar o mistério sobre a postura colorada no Maracanã.
— O nosso estilo de jogo sempre foi um só. Sabemos que o ímpeto ofensivo do Flamengo será enorme. Odair já nos passou tudo. Teremos uma estratégia um pouco diferente para esse jogo, mas não posso falar muito para não entregar o esquema do Odair. Agora, tem uma coisa: sempre jogamos para vencer — afirmou Rodrigo Lindoso.
Por "estratégia diferente", o plano colorado poderá ser jogar o tempo todo com dois jogadores abertos e prontos para contra-atacar. Algo com o que o Flamengo ainda não parece saber lidar muito bem – vide a goleada sofrida na Fonte Nova.
Segundo o camisa 19 do Inter, mesmo a vitória sobre o Fortaleza, pelo Brasileirão e com o time reserva, serve de motivação para que a equipe de Odair encare o empolgado Flamengo.
— Tivemos três vitórias e um empate nos últimos jogos fora. Estatísticas não entram em campo. Ganhamos agora do Fortaleza. Não vamos ao Maracanã pensando nisso, cada jogo é uma história, e tomara que ela seja favorável a nós de novo. Cada time tem a sua força em casa. A minha esposa pergunta se fico nervoso antes dos jogos, e digo: "Claro que não". River fora foi um teste de fogo. É sempre difícil jogar no Maracanã — entende Lindoso.
Tudo indica que, empurrado pela torcida, o Flamengo ataque o Inter desde os primeiros minutos, a fim de tentar definir o jogo o mais cedo possível.
— O modelo de jogo de Jorge Jesus exige muita intensidade, quando a pressão diminui, a equipe dá liberdade ao adversário atacar. Quanto mais rápido o Inter conseguir sair da defesa, mais fácil será para chegar ao gol do Flamengo — observou Carlos Mansur, colunista do jornal O Globo.
— Os números mostram que não há muita diferença do desempenho colorado dentro e fora de casa. A média de posse de bola (54% x 53%) e de acerto nas ações (80% x 79%) apresentam um time competitivo e equilibrado. A questão parece mais de caráter psicológico e de difícil mensura. E pela maturidade que as ideias de Odair já estão assimiladas pelo elenco, o time tem capacidade para impor mais hierarquia, dar as cartas da partida, e controlar melhor o tempo, a bola e os espaços. Controle mental e foco para jogar o seu futebol. Por aí, deve começar a postura do Inter no Maracanã — acredita Gustavo Fogaça, analista de desempenho e comentarista do DAZN.
O jogo no Maracanã, porém, pode apresentar um Inter com um jogo um pouco distinto daquele apresentado em recentes partidas fora de casa.
— Para esse jogo, me parece que o Inter precisa mudar um pouco a postura fora de casa, sobretudo a daquele jogo contra o Palmeiras (derrota por 1 a 0, na Copa do Brasil). Decidir no Beira-Rio é ok, mas, contra esse Flamengo, me parece bobagem — aponta o comentarista dos canais SporTV Sérgio Xavier Filho. — O Flamengo está muito forte agora, estão agressivos no ataque. Assim, se você ficar tentando se defender, será a posição mais confortável para um Maracanã lotado. Jesus arrumou mais rápido o ataque do que a defesa, mas deixa enormes crateras na defesa. Talvez seja jogo para Wellington Silva aparecer forte e em velocidade. O Inter pode manter dos lados sempre a opção do contra-ataque — acrescentou Xavier.
Diante de um Maracanã lotado, e com o regulamento abrangendo o gol marcado fora de casa como critério de desempate, o ataque poderá ser a melhor defesa do Inter contra o badalado Flamengo.
Na Libertadores
O Inter fora de casa em 2019 (os quatro primeiros jogos como visitante)
- Palestino 0x1 Inter
- Alianza Lima 0x1 Inter
- River Plate 2x2 Inter
- Nacional-URU 0x1 Inter
- Aproveitamento: 83,3%
O Inter fora de casa em 2010 (os quatro primeiros jogos como visitante)
- Deportivo Quito 1x1 Inter
- Cerro-URU 0x0 Inter
- Emelec 0x0 Inter
- Banfield 3x1 Inter
- Aproveitamento: 25%
O Inter fora de casa em 2006 (os quatro primeiros jogos como visitante)
- Maracaibo-VEN 1x1 Inter
- Pumas 1x2 Inter
- Nacional-URU 0x0 Inter
- Nacional-URU 1x2 Inter
- Aproveitamento: 66,6%