O principal reforço do Inter para o segundo semestre começou a ser contratado durante o recesso do calendário, em Atibaia. Em meio à intertemporada, a direção colorada se desdobrou para manter no elenco o meia Edenilson. Ao assédio dos petroeuros do Al-Hilal, o clube negou se desfazer daquele que é o seu principal nome em 2019.
Deu certo: Edenilson ganhou um novo contrato, passou a receber salário de protagonista e, na noite dessa quarta-feira, fez o gol da vitória sobre o Cruzeiro, no Mineirão, resultado que agora deixou o time de Odair Hellmann a um empate da final da Copa do Brasil.
Perto de completar 30 anos, Edenilson assumiu o meio-campo do Inter, jogando de área à área. E, novidade em sua carreira, tem marcado gols. Já são 11 pelo Inter, desde a sua chegada na baixa de 2017. Antes disso, em toda a sua carreira profissional, de 2010 no Caxias, passando pelos títulos com o Corinthians, pela Udinese, até chegar ao primeiro semestre de 2017, defendendo o Genoa, ele somava oito gols. Edenilson se tornou vital para um clube que sonha retomar os grandes títulos.
— Nos tempos de Corinthians, Edenilson foi uma peça fundamental para o título da Libertadores 2012. Alessandro se lesionou ao longo da campanha, Edenilson foi escalado como lateral-direito, e fez 10 partidas como titular. Entrou e deu conta do recado. Depois, foi vendido à Itália, onde aprimorou a sua técnica, melhorou muito, e apurou o seu faro de gol — conta Rodrigo Vessoni, um dos autores do livro A reconstrução do Timão, que conta o retorno do clube à Série A, e repórter do site Meu Timão, portal especializado em notícias sobre o Corinthians.
Da várzea para o futebol profissional sem passar pelas categorias de base, Edenilson teve a sua primeira experiência em um clube no Guarani, de Venâncio Aires, em 2008, atendendo a um pedido de seu irmão, Edmar, que atuava no clube. O então office-boy de uma clínica de oftalmologia em Porto Alegre, e craque do Garratt, da Vila dos Ferroviários, logo foi aprovado aos 18 anos para os juniores do Guarani. Ficou pouco tempo por lá.
Mas, nesse período, menos de 40 dias, chegou a ascender aos profissionais e jogar a Segundona gaúcha. O Caxias o contratou em seguida. Em 2011, após um sólido Gauchão, foi eleito para a seleção do campeonato, formando o meio-campo com os gremistas Fábio Rochemback e Douglas mais Diego Torres, então no Cruzeiro. Aí, foi a vez do Corinthians colocar o olho no esguio meia do Caxias, e levá-lo para o parque São Jorge.
— Não sei como a dupla Gre-Nal deixou Edenilson passar. O Corinthians o contratou ao Caxias e ele se tornou um dos atletas mais vitoriosos do clube, conquistando Libertadores, Mundial, Brasileirão, Recopa e Paulistão. Porém, ele nunca foi no Corinthians o "goleador" que vem sendo no Inter, uma vez que não tinha a liberdade de hoje para avançar, pois se revezava entre ser volante e lateral — comenta Vessoni.
Logo após se destacar no Gauchão de 2011, Edenilson despertou o interesse da comissão técnica do Corinthians, formada por Tite e por Cléber Xavier. Entendiam que o guri de Porto Alegre seria um jogador útil para aquele começo de campanha continental.
Os atuais técnico e auxiliar da Seleção Brasileira têm o camisa 8 do Inter em alta conta - e, não fossem as finais da Copa do Brasil, caso o Inter esteja lá, Edenilson poderia até mesmo ser convocado para os amistosos contra Peru e Colômbia, ambos nos Estados Unidos.
— O Edenilson é um cara de cabeça boa, um atleta que se cuida, que tem valências físicas importantes, com muita força, mobilidade, agilidade e velocidade — diz Cléber Xavier.
— Ele tem uma boa leitura de jogo. Podendo jogar por dentro e por fora, com boa técnica geral. Mas o importante nesse crescimento dele é a continuidade dentro de uma equipe com padrão. E, sobretudo, com um padrão compatível com as características dele. O coletivo faz crescer a individualidade — completa Xavier.
No retorno da delegação de Belo Horizonte para Porto Alegre, na tarde dessa quinta-feira, Edenilson foi um dos mais saudados pelos torcedores, no desembarque da equipe no aeroporto Salgado Filho. Neste domingo, quando o Inter retomará o Brasileirão, em casa, contra o Corinthians, Odair Hellmann poderá utilizar alguns titulares.
Edenilson, porém, está fora do clássico. Além de suspenso, pelo terceiro cartão amarelo, o camisa 8 deixou a partida do Mineirão se queixando de uma "fisgada" no músculo adutor da coxa direita, será reavaliado pelos médicos, mas, desde já, passará a merecer cuidados especiais para que possa estar em campo no dia 21, quando o Inter abrir o mata-mata diante do Flamengo, no Rio, pelas quartas de final da Libertadores.
— Farei um exame amanhã (nessa sexta-feira), mas acho que não foi nada grave — comentou Edenilson, logo na chegada da equipe a Porto Alegre.
De qualquer forma, diante do ex-clube de Edenilson, domingo, no Beira-Rio, Odair precisará se virar sem o seu principal meia.
— Edenilson foi a evolução mais significativa do Inter nos últimos anos. Daquele volante de transição, que passava e desaparecia, se tornou um construtor capaz de liderar e conduzir o time com a bola nos pés. Sempre foi vigoroso e resistente, mas, agora, apresenta a faceta de organizador, ainda inédita na sua carreira, e carente no Inter desde a saída de Charles Aránguiz — atesta Vinicius Fernandes, analista do Footure.
Há uma máxima entre os fisiologistas do futebol profissional, com relação a jogadores que saltam da várzea para o mundo profissional sem escalas. Se o jogador que não passa pelas categorias de base pode demorar mais a se desenvolver — em uma defasagem tático-técnica que pode chegar a seis anos —, exceções como Edenilson também têm vida mais longa na bola, justamente por, na infância/adolescência, não terem sofrido com o desgaste das exigências dos treinos.
O que leva muitos desses atletas a uma longa carreira, como a do ex-atacante do Grêmio Jonas, que se aposentou no mês passado pelo Benfica, aos 35 anos de idade. Caso essa lei não escrita se confirme também com Edenilson, o Inter poderá ter um meio-campo titular por pelo menos mais seis temporadas. O principal reforço do Inter para as etapas finais das copas estava em casa e vestia a camisa 8.