A semana de mobilização do Inter, quando será necessário agrupar todas as forças possíveis para seguir vivo na Libertadores, não poderia ter começado pior. A derrota de virada no Serra Dourada, por 2 a 1, para o Goiás, que tinha um jogador a menos em campo desde os 11 minutos de jogo — e levando o segundo gol aos 50 minutos do segundo tempo, beira o vexame. Ela só não foi mais grave porque o time B do Inter tem limitações evidentes, além de altos e baixos a cada rodada do Campeonato Brasileiro. Nico López, rebaixado ao time do Brasileirão, teve mais uma atuação ruim, perdendo gols que meses atrás faria de olhos fechados. Ex-goleador da equipe, ele já soma 23 jogos sem marcar.
Certamente, o voo fretado que levou a delegação a Goiânia e que a traria de volta a Porto Alegre, ainda na noite deste domingo, estava cheio de reflexões nas poltronas locadas pelo clube. Afinal, o próximo jogo pode marcar o ano colorado, e será preciso marcar três gols (ou vencer por 2 a 0, tentando a sorte nos pênaltis), não no Goiás, mas no Flamengo, para seguir na Libertadores, e para se evitar um possível abalo com reflexo na decisão com o Cruzeiro, na Copa do Brasil.
Na saída de campo, jogadores quase todos calados. Após o jogo, as explicações do vice de futebol Roberto Melo foram um tanto distintas do usual.
— Queria começar pedindo desculpas ao torcedor pelo não jogo que fizemos aqui. É inadmissível a postura que tivermos em campo. Não lembro de outra atuação tão ruim como essa — disparou Melo.
E o dirigente prosseguiu, afirmando que a derrota em Goiânia não afetará a equipe para a decisão com o Flamengo pela Libertadores.
— As cobranças já aconteceram. Agora, é mobilizar para a quarta-feira. Não tem impacto nenhum (a derrota no Brasileirão para o jogo diante do Flamengo). O Goiás, com 10 homens e perdendo por 1 a 0, sempre teve mais vontade, mais fome no jogo. Não vou dizer que é um jogo para esquecer, porque tem que lembrar bastante de como aconteceram as coisas. Eram três pontos imperdíveis, com todo o respeito ao Goiás. Abandonamos o jogo e esperamos o tempo passar para garantir os três pontos. Espero que tenha servido de aprendizado, caso contrário, fica difícil — acrescentou Roberto Melo.
Já Odair Hellmann lamentou a derrota e relatou ter avisado os jogadores para evitar justamente os lances de contra-ataque com Michael (autor do primeiro gol) e de bola parada (como saiu o gol da virada). Parece que não foi ouvido.
— Conseguimos produzir bem por 20 minutos. Após o gol e a expulsão, caímos muito de produção. O Goiás cresceu buscando a velocidade do Michel, que teve a vitória pessoal, e na bola parada, que definiu o jogo. Era uma partida para se vencer. Uma derrota não estava no planejamento. Conversamos no vestiário para evitar os contra-ataques do Michael, e para não deixarmos eles terem a bola parada. Que sirva de lição — disse Odair. — Mas esse jogo terá influência zero na nossa partida contra o Flamengo. Havíamos vencido o Fortaleza na semana passada e, depois, perdemos para o Flamengo — acrescentou o técnico.
Nico López mereceu um capítulo à parte dentro da desastrosa atuação do Serra Dourada. A má fase do camisa 7 parece longe de ter fim, ainda mais com a sua perda de relevância no elenco, passando de titular do time A a reserva, e de reserva do A a titular do Inter B.
— Como treinador, tenho que fazer a leitura do todo, do processo coletivo e do individual. Vou dar força, vou dar força para o jogador, sempre. Estou junto, não só na vitória. Temos totais condições de resgatar isso (o bom momento de Nico), com calma e trabalho, para que se reflita em campo. Nas vitórias, não se pode achar que é o melhor do mundo porque cai, e o tombo é feio. É preciso estar equilibrado na derrota para se reerguer — comentou o treinador colorado.
Roberto Melo, questionado sobre a fase de Nico López, salientou que chega uma hora em que quem precisa se ajudar é o próprio atleta.
— Isso é recorrente (o apoio a Nico), já aconteceu lá atrás. Odair foi quem mais acreditou no Nico, sequer era titular quando ele assumiu. Rodrigo (Caetano) conversa muito com o Nico também, toda a comissão trabalha para que todos os atletas tenham o melhor desempenho. Mas chega um momento em que o jogador tem que fazer por onde — alertou Melo.
Em uma tarde para "lembrar", como disse o vice de futebol colorado, as palavras do atacante Guilherme Parede parecem ser um resumo do Inter do Serra Dourada:
— Faltou um pouco mais de vontade e determinação. O Inter é muito grande e fizemos muito pouco no segundo tempo. Agora, é colocar a cabeça no travesseiro, refletir sobre o que aconteceu e pedir desculpas.