Enquanto o técnico Odair Hellmann dá forma ao time titular do Inter para a Libertadores, a equipe emendou uma série de quatro vitórias no Gauchão. Depois de um início trôpego, o time já se consolidou na vice-liderança às vésperas da estreia na principal competição do ano. Ainda que alguns dos 11 titulares de 2019 se mantenham uma incógnita, o Inter se fortalece com os resultados. E, curiosamente, o sucesso colorado no Estadual se dá com gols a partir dos 29 minutos do segundo tempo.
Das cinco vitórias do Inter no Gauchão, todas elas ocorreram com gols nos minutos finais das partidas. Foi assim na estreia, contra o São Luiz, quando o zagueiro Emerson Santos marcou aos 38 minutos da segunda etapa. A vitória mais emblemática neste quesito, porém, ocorreu no Beira-Rio, no 2 a 1 sobre o Caxias. Patrick substituiu Nonato aos 30 minutos da segunda etapa. Depois de 14 minutos, evitou que o Inter perdesse dois pontos em casa, marcando de cabeça após cruzamento de Rafael Sobis.
— As equipes do interior gaúcho não dispõem da mesma estrutura de preparação física da dupla Gre-Nal. É natural o desgaste após o segundo tempo. É o momento em que o adversário está mais fadigado, desconcentrado e desorganizado. Um cenário ideal para uma equipe como o Inter, que precisa de muito espaço para jogar — explica Vinícius Fernandes, analista do Projeto Footure. — Equipes do Interior normalmente optam por marcações bem individualizadas, fazendo perseguições longas, e isso desgasta muito um time. O Grêmio, por exemplo, consegue explorar melhor este fator porque se movimenta mais, roda mais a bola e acelera o processo de desgaste nos seus adversários — acrescenta.
Na recente vitória sobre o Avenida, Martín Sarrafiore saiu do banco de reservas para tirar o Inter do sufoco. Eram 29 minutos do segundo tempo quando o argentino fez o gol da vitória.
— Buscamos atacar desde o começo do jogo. Às vezes, a bola não quer entrar. São situações dos jogos, não necessariamente uma estratégia e um planejamento. O Odair, antes de me colocar, pediu para eu chegar à frente e pisar na área. A bola chegou e tive a felicidade de fazer o gol — entende Sarrafiore.
Ao contrário de anos anteriores, o atual Inter é mais espartano do que virtuoso. Um time que se impõe pela força e pela velocidade, e não exatamente pela técnica — sobretudo com a atual condição de D'Alessandro, de utilização "estratégica", segundo Odair Hellmann, o que faz o camisa 10 sequer ser relacionado para alguns jogos. Daí a necessidade de transformar a vontade na principal qualidade da equipe.
O analista de GaúchaZH Gustavo Fogaça destaca que a menor competitividade do Estadual, além do nível técnico dos adversários, não permite uma comparação ideal para o que será a temporada. Mas entende que Odair já tem mais de um ano à frente do elenco do Inter e que se cobra um time mais entrosado, com os reforços contratados para a temporada brigando por vaga na equipe.
— Não podemos afirmar uma causa única pelo Inter ter marcado seis dos nove gols (66,6%) no Gauchão depois dos 29 minutos do segundo tempo. É necessário uma análise partida a partida, já que identificamos que o time é muito irregular na sua intensidade de jogo. Contra o Avenida, foi o único gol de jogada coletiva trabalhada, méritos todos do time. Contra o Juventude, um gol de contra-ataque que pode se colocar na conta da desorganização defensiva do adversário e do preparo físico. E, contra o São Luiz, não há como não colocar na conta do goleiro Carlão a falha no chute de Emerson — comenta Fogaça.
— Os gols contra Caxias, Brasil-Pel e Veranópolis tiveram origem em jogadas de bola parada. Contaram com a insistência do Inter pela chance de gol e também pela desatenção nas vigilâncias defensivas dos adversários. Gols de perseverança. Então, 50% gols de bola parada contaram com falhas do adversário, 16,6% em gol de jogada coletiva, 16% por falha defensiva adversária mais preparo físico e 16,6% por falha do goleiro adversário. Um destaque? A vontade de vencer a partida quando surge uma jogada de bola parada ofensiva — conclui o analista.
Vitórias no fim
São Luiz 0x1 Inter
Gol de Emerson Santos, aos 38 minutos do segundo tempo
Inter 1x0 Brasil-Pel
Gol de Moledo, aos 30 minutos do segundo tempo
Juventude 1x2 Inter
Gol de Nico, aos 18 minutos do primeiro tempo e de Pedro Lucas, aos 29 minutos do segundo tempo - o Juventude descontou ao final
Inter 2x1 Caxias
Jogo estava empatado até os 44 minutos do segundo tempo, quando Patrick fez o 2 a 1
Avenida 0x1 Inter
Gol de Sarrafiore, aos 29 minutos do segundo tempo
Espírito chega até no marketing
E este espírito de aguerrimento foi colocado na campanha de marketing e de novos sócios do clube para a Libertadores. A partir desta segunda-feira, o Inter passou a utilizar a hashtag com a frase "Acreditar até o final" (#AcreditarAtéOFinal).
— A campanha da Libertadores foi fundamentada em função do que o time fez em 2018, principalmente no Beira-Rio. Tivemos uma campanha excelente e, se repetirmos este desempenho na Libertadores, teremos grandes chances de seguir a fases mais agudas do torneio — justifica Ricardo Di Sora, diretor de Marketing e Mídia do Inter. — O Inter tem uma tradição na Libertadores, uma competição diferente, na qual é preciso acreditar até o final. Daí, a hashtag da campanha. Muitos jogos do Inter e das nossas conquistas na Libertadores se deram nos últimos minutos. E queremos incentivar o torcedor a manter esta postura de acreditar no time até o final das partidas. É uma campanha que vai durar o ano inteiro, pois a Libertadores seguirá ao longo da temporada. É o maior campeonato do mundo em termos de atmosfera em estádios. Queremos a simbiose entre torcida e time para o tri — acrescenta Di Sora.
Caso o Inter siga vencendo na metade final dos jogos, o torcedor é quem deverá estar com o preparo físico em dia para suportar tanta emoção.