Com sete partidas oficiais na temporada, o Inter de Odair Hellmann ainda não conseguiu ter desempenhos convincentes que mostrem a consistência coletiva que o time alcançou no ano passado. Importante lembrar que, após um mês de férias, o desempenho nos primeiros jogos tende a ser abaixo da média.
Além disso, é necessário destacar o contexto dos campeonatos estaduais, onde a competitividade é menor e o nível técnico dos adversários não permite uma comparação ideal para o que será a temporada.
Mesmo assim, como Odair já tem um ano com a maior parte deste grupo, esperava-se uma evolução um pouco mais acelerada dos processos. Os novos reforços deveriam assimilar as ideias do treinador com mais facilidade, com o time encaixado em um modelo de jogo.
E é aí que reside a questão desta análise: o modelo de jogo colorado demanda de seus atletas algo básico, que é a intensidade defensiva. O que é isso? A energia com que os jogadores pressionam o adversário ao perder a bola, ao recompor defensivamente, ao fechar linhas, ao "dar o bote". Sem essa intensidade para retomar a posse, o time de Odair perde força.
MEDINDO A INTENSIDADE
Existem vários índices para medir a intensidade defensiva de uma equipe. Nesta análise vou utilizar um índice da InStat que mede a quantidade de disputas, interceptações e desarmes do time por minuto de posse do adversário. No Brasileirão do ano passado, por exemplo, a média do Inter neste índice foi de 8,6 pontos, sendo o quarto time mais intenso do campeonato.
Nestes sete jogos do Gauchão, a média colorada é de 8,4 pontos, praticamente dentro da média do ano passado. O que complica é como alterna de um jogo para o outro, saltando de um jogo muito intenso, como contra o Brasil de Pelotas (12,1), para um de baixíssima intensidade, caso da partida diante do Juventude (6,6), na rodada seguinte.
Cruzando esse índice de intensidade com as finalizações sofridas em cada jogo, podemos observar onde o Inter foi intenso e não correu riscos (Brasil-Pel), onde foi intenso mas correu riscos — e chegou a perder — como contra o Pelotas e o São José, e onde não teve intensidade alguma e correu muitos riscos.
Se diante do São Luis era o primeiro jogo da temporada e não dava para esperar intensidade do time (6,3 pts), contra Juventude (6,6) e Caxias (7), o Inter foi muito mal na pressão ao portador e nas ações defensivas. Contra o Ju, por exemplo, teve aproveitamento de 60% nos desarmes (segundo mais baixo do ano) e contra o Caxias venceu apenas 32% das disputas aéreas.
AÇÕES DEFENSIVAS
Muito se fala da paixão de Odair pelo famoso "tripé do meio-campo". Esse tripé precisa de um Dourado mais fixo guardando posição, com os dois jogadores à sua frente de mais mobilidade e condução de bola. Essas duas pontas da frente, no ano passado, faziam algo fundamental: roubar bolas no campo do adversário. E, assim, começar ataques velozes mais perto do gol.
Em 2019, isso ainda não se repetiu. O Inter realizou apenas seis desarmes no último terço, sendo que nenhum foi no quadrante do gol adversário (o chamado "funil"). Se Patrick foi a figura decisiva nesse fundamento no ano passado, o Inter perdeu seu "cão mordedor" já na última etapa do Brasileirão e ninguém assumiu este papel nesta temporada. Ainda.
Outro detalhe que mostra a baixa intensidade defensiva colorada são as disputas aéreas. No Brasileirão ano passado, a média foi de 50% de aproveitamento nas bolas alçadas para a área, sendo o 11º neste quesito. Neste ano, o aproveitamento é de 48% até aqui. Próximo da média de 2018, mas ainda abaixo do que o time precisa para uma Libertadores.
É interessante ver que o Inter disputou 42 bolas aéreas no quadrante do seu gol e apenas 16 bolas no quadrante do gol adversário. Ou seja, mesmo contra times tecnicamente inferiores, o Inter precisou disputar mais bolas aéreas na frente do seu gol do que na frente da meta adversária. Algo a ser pensado e observado como evolui durante a temporada.
EM RESUMO
Diagnosticamos que, mesmo no começo da temporada, momento em que há adaptação de novos reforços e implantação de novas ideias táticas, o Inter tem sido muito irregular no que se refere à intensidade defensiva. Essa irregularidade prejudica o modelo de jogo colorado.
Se Odair Hellmann pretende repetir aquele time de força, vertical, com transições rápidas, precisa preocupar-se com desempenhos mais regulares na intensidade defensiva e voltar a pressionar mais ao perder a bola. Principalmente no campo do adversário.
Os gráficos exclusivos e números usados são da InStat, plataforma de dados de futebol.