![André Feltes / Especial André Feltes / Especial](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/23807013.jpg?w=700)
Investigação do Ministério Público (MP-RS) sobre a gestão de Vitorio Piffero no Inter, no biênio 2015/2016, aponta suspeitas contra ele e cinco ex-vices: Pedro Affatato (finanças), Alexandre Limeira (administração), Emídio Marques Ferreira (patrimônio), Carlos Pellegrini (futebol) e Marcelo Domingues de Freitas e Castro (jurídico).
Os crimes apurados são apropriação indébita, estelionato, organização criminosa, falsidade de documentos e lavagem de dinheiro. A investigação já soma mais de 3,7 mil páginas e não tem prazo para ser encerrada.
O que pesa contra os ex-dirigentes do Inter
Vitorio Piffero
O MP afirma que, pelo fato de ser o expoente máximo do clube, o ex-presidente estaria "no topo da associação/organização criminosa estabelecida" no Inter em 2015 e 2016. Assinado pelo promotor Flávio Duarte, o relatório sustenta que seria "absolutamente impossível" que os cinco vices atuassem de "forma isolada e sem qualquer relação uns com os outros".
Foi identificado depósito de R$ 70 mil na conta do ex-presidente, creditado pela empresa Argos do Brasil Consultoria em 31 de outubro de 2014, antes de Piffero assumir pela segunda vez o comando do clube. A linha de investigação dos promotores aponta para espécie de adiantamento de futuros negócios entre o Inter e a empresa. De acordo com o relatório, no biênio 2015/2016, entraram na conta da Argos R$ 294,1 mil saídos dos cofres do clube.
Segundo o MP, o ex-presidente também recebeu R$ 65 mil, com dois depósitos na conta bancária, em 7 e 19 de novembro de 2014, efetuados pela Stadium Consultoria e Assessoria Administrativa e Tecnológica Ltda, empresa de Alexandre Limeira. As quebras de sigilo bancários obtidas na investigação mostram que a Stadium recebeu, naquela época, R$ 150 mil do empresário de atletas Giuliano Bertolucci, que supostamente, de acordo com MP, antevia "vantagens financeiras que poderia usufruir no clube".
Pedro Affatato
![Félix Zucco / Agencia RBS Félix Zucco / Agencia RBS](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/24198762.jpg?w=300)
O ex-vice-presidente e de finanças, conforme o MP, fez adiantamentos que ultrapassaram R$ 9 milhões, em dinheiro vivo, sacado na tesouraria, normalmente fruto de bilheteria dos jogos, entre fevereiro de 2015 e fevereiro de 2016. A alegação para as retiradas era o pagamento de obras e de serviços que seriam da alçada da vice-presidência de patrimônio, então comandada por Emídio Marques Ferreira.
Para justificar os adiantamentos, Affatato apresentava notas fiscais emitidas por empresas cujo escritório de contabilidade era o mesmo e com sócios interligados. Segundo a investigação, nem mesmo havia triangulação do dinheiro entre clube, prestadora de serviço e Affatato. O dinheiro saía da conta do Inter para o dirigente, o que configuraria apropriação indébita. O MP apurou que nove retiradas tiveram como destino a conta da Sinarodo, empresa de Affatato, em valor somado de R$ 701 mil. Esses depósitos ocorreram de maio a outubro de 2015.
Entre fevereiro e dezembro de 2016, seguiu retirando valores no caixa, diz o MP. Mas, em vez de usar o pretexto de adiantamento, teria passado a apresentar notas fiscais das mesmas empresas de construção civil. Em 10 meses, teria sacado R$ 666.973,63. A investigação aponta Affatato como beneficiário de depósitos da Piratini Agência de Viagens, entre agosto e dezembro de 2016, no valor de R$ 169 mil.
Carlos Pellegrini
![Ronaldo Bernardi / Agencia RBS Ronaldo Bernardi / Agencia RBS](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/24932602.jpg?w=300)
O Ministério Público aponta que o ex-vice de futebol teria feito contratações e renovações de contrato "mediante prévio ou posterior repasses de valores".
Conforme a investigação, o dirigente e empresários, "em conluio, simulavam contrato em valores superiores ao pertinente e adequado, obtendo, dessa forma, vantagens financeiras em detrimento do clube, circunstância que pode caracterizar o delito de estelionato". Isso teria ocorrido na contratação do lateral-direito Paulo Cezar Magalhães. Dias depois de assinado o contrato com o jogador, seu tio Paulo César Magalhães depositou R$ 30 mil na conta do dirigente, conforme a investigação.
Essa prática teria se repetido na contratação do zagueiro Réver, em que o agente Fernando Otto, responsável pela intermediação do negócio, transferiu R$ 19 mil para a conta de Pellegrini. Relação mais estreita se estabeleceu com o empresário Rogério Braun, responsável pela renovação do lateral Cláudio Winck, pela venda do goleiro Alisson e pela contratação do centroavante argentino Ariel.
Através de empresas ligadas ao agente Giuliano Bertolucci, o ex-dirigente recebeu
R$ 70 mil, além de R$ 14.999 que foram transferidos para a conta de sua filha. O MP apurou também que, no período da gestão Piffero, houve na conta de Pellegrini depósitos em dinheiro que totalizaram R$ 333.440.
Emídio M. Ferreira
![Fernando Gomes / Agencia RBS Fernando Gomes / Agencia RBS](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/24952117.jpg?w=300)
O MP aponta o ex-vice de patrimônio como "personagem importante na estrutura delituosa montada no clube e com explícita participação nos fatos". Isso porque, para o MP, os adiantamentos tomados por Affatato eram justificados por notas de empresas que supostamente fizeram obras no Beira-Rio. Ou seja, teriam sido chancelados por Ferreira.
O MP apurou que a Pavitec, empresa de Emídio, recebeu R$ 5 mil da Pier Serviços. Isso dias depois de emitidas notas da Pier por serviços supostamente prestados ao Inter. O dono da empresa é Ricardo Bohrer Simões, que constava, conforme o MP, como responsável técnico da Pavitec e da Pavway, também de propriedade do ex-vice.
A Egel, outra das empresas que emitiram notas ao Inter, fez três transferências, uma de R$ 41 mil para a Pavitec, e outras duas, de R$ 5 mil e R$ 3,4 mil, para a conta pessoal de Emídio. A Egel tinha, conforme o MP, Bohrer como um dos administradores.
Alexandre Limeira
![Mateus Bruxel / Agencia RBS Mateus Bruxel / Agencia RBS](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/17890584.jpg?w=300)
O Ministétio Público aponta que há elementos capazes de apontar o ex-vice de administração como operador financeiro do grupo de dirigentes e intermediário de valores repassados, ainda antes da gestão, pelo empresário Giuliano Bertolucci a Piffero e a Pellegrini.
Limeira teria usado sua empresa, a Stadium Consultoria e Assessoria Administrativa e Tecnológica Ltda., para distribuir R$ 150 mil transferidos por Bertolucci. O ex-vice de administração também teria sido destinatário de "valores oriundos, provavelmente, de práticas delituosas perpetradas por Marcelo Domingues Freitas e Castro", vice jurídico entre janeiro e maio de 2015.
A investigação apontou ainda transferência de R$ 5.436, feita por pessoas ligadas à empresa CNX Controles de Acesso Ltda., para quem o Inter havia realizado 16 créditos entre novembro de 2015 e abril de 2017, em total de R$ 60.590.
Marcelo Domingues de Freitas e Castro
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Vice jurídico de janeiro a agosto de 2015, teria usado empresa em nome de laranja para receber R$ 300 mil do Inter nesse período. A fonte dessas receitas seria ações trabalhistas em que o clube era réu, com Castro e intermediários oferecendo acordos aos reclamantes. Ao aceitarem, esses tinham de fazer repasses a contas e empresas indicadas por Castro, o que configuraria lavagem de dinheiro. A investigação aponta que isso ocorreu em acordos judiciais feitos pelo Inter, por exemplo, com Danny Moraes e Christian.
Os contrapontos
O que diz o advogado Nei Breitman, defensor de Vitorio Piffero
"Verificar comportamentos contábeis de Vitorio Piffero antes do biênio investigado para concluir que ele teria recebido valores em 2012, 2013, ou 2014, portanto, antes de assumir, para depois fazer contrapartidas, é mais especulação do que conclusão. Tudo que analisei da investigação em relação ao senhor Vitorio Piffero leva a uma conclusão mínima e precipitada que ainda não passou pelo crivo judicial: o senhor Vitorio Piffero sabia (das suspeitas de irregularidades) porque era presidente."
O que diz Andrei Zenkner Schmidt, advogado de Pedro Affatato
A defesa nega todas as acusações e afirma que irá se manifestar apenas no processo, sem declarações públicas.
O que diz Jorge Teixeira, advogado de Carlos Pellegrini
"Alguns depósitos nas contas de Pellegrini, já justifiquei. O depósito da Argos se refere ao fato de Pellegrini ter trabalhado no escritório do Marcelo Castro, ocupava uma sala lá. Pellegrini indicava clientes para o Marcelo Castro que, por sua vez, repassava parte dos honorários para o Pellegrini. Sobre depósito da empresa Stadium para o Pellegrini, eu ainda não analisei. Estamos analisando todos, um por um, e vamos justificar no momento certo para a Justiça."
O que diz Emídio Marques Ferreira
O ex-dirigente não foi localizado por ZH. Em sua empresa, um empregado daria retorno, o que não ocorreu até o fechamento desta edição.
O que diz Marcelo de Freitas e Castro
Sobre ter recebido R$ 294 mil de três fornecedores do Inter, Castro disse desconhecer totalmente o assunto. A respeito de acordos trabalhistas, garantiu que nunca obteve vantagem:
"Em todos os acordos celebrados, sempre o clube saiu vantajoso."
Em relação ao depósito da Argos para Piffero, ele disse não lembrar:
"Se ocorreu esse depósito, não tendo ocorrido a eleição, qualquer negócio particular realizado não implica ilegalidade."
Sobre o fato de o MP apontar que ele seria um dos operadores do grupo:
— Será objeto de investigação, e o juiz vai decidir. Outra vez disseram coisa parecida e cinco ministros do STJ, por 5x0, anularam o processo e decidiram a meu favor. Estava no clube, passei por constrangimento e a imprensa nada publicou.
O que diz Alexandre Limeira
"O processo está em sigilo. Por este motivo, em respeito à investigação, não farei muitas manifestações. Mas apenas posso esclarecer que os depósitos em minha conta foram em 2014, período da eleição, antes de ser dirigente do Inter. Não há depósitos de nenhum empresário entre 2015 e 2016, período em que eu era dirigente. Os valores da CNX foram em um projeto de Santa Catarina que se iniciou em 2013, com pagamentos em 2014 e até início de 2015. Esse projeto não tem nada a ver com Inter, tenho diversas documentações que provam isso com enorme facilidade, apresentarei quando for chamado."
O que diz Aury Lopes Jr, advogado de Rogério Braun
"Todos os contratos foram firmados na mais estrita legalidade, e Rogério está à disposição para prestar os esclarecimentos necessários à autoridade judiciária competente quando solicitado."
O que diz Alexandre Wunderlich, advogado de Fernando Otto
"Os depósitos são absolutamente regulares e serão devidamente explicados no momento oportuno. Os valores são baixos e compatíveis com as atividades profissionais. Nada existe de anormal."
O que diz Gislaine Nunes, sócia da Argos na época dos fatos
"Em julho, vendi a empresa. Desconheço que a Argos tenha depositado dinheiro na conta do ex-presidente Vitorio. A Argos é uma empresa de cobrança, mas também fazia troca de títulos, cheques e duplicatas, e o MP pode estar tentando relacionar uma coisa que não tem nada a ver com a outra. A participação do Marcelo (Castro) na empresa não tem nada a ver com o Inter. Não sou laranja dele."
O que diz Roberto Podval, advogado de Giuliano Bertolucci
Sobre R$ 150 mil transferidos pelo empresário a Stadium, empresa de Limeira, em 2014:
"O Giuliano emprestou dinheiro para a campanha (de Piffero) nesta época. Os depósitos foram feitos da conta da pessoa física do Giuliano, com dinheiro declarado. O Giuliano não teve, nesse período, nenhum negócio com o Inter. Portanto, não tem nem como falar que deu o empréstimo para ganhar algum proveito depois. Esse dinheiro emprestado não foi pago. Não dá para misturar o Giuliano com terceiros. Ele deu dinheiro com cheque da conta de pessoa física, nominal, com dinheiro declarado e depositado na conta de quem pediu e a passou para ele. Quanto a terceiros, não pode responder."
Sobre participação no negócio de Réver:
"Giuliano não teve participação em nenhum jogador nesse período. A única coisa próxima no clube foi a negociação anterior que teve com o Oscar para o Chelsea, pela qual tinha direito a receber uma parcela, paga em 2015."
O que diz Luciana Scheeren, advogada da agência Piratini
"A empresa aguarda a análise da documentação pelo MP. Os serviços prestados ao Inter foram realizados sem nenhuma ilegalidade. Toda a movimentação contábil está com o MP, para ser comprovado que a empresa não realizou nenhum tipo de repasse visando o benefício ao Internacional."
O que diz Ricardo Bohrer Simões
A reportagem não conseguiu contato com o sócio da Pier.
O que diz Marcus Baggio, proprietário da CNX
"Esse valor de R$ 5.436 é referente à comissão por intermediação, pelo Alexandre Limeira ter nos apresentado ao pessoal da Chapecoense, quando da venda de catracas e sistemas de acesso. Em relação aos R$ 60.590, correspondem a serviços prestados ao Inter de forma regular, de controles de acesso e locação de catracas para eventos específicos, como acesso da torcida do Grêmio em Gre-Nais e sócios em dias de votação, por exemplo. O clube é nosso cliente desde 2000 e segue até hoje, tendo a nossa empresa passado por várias gestões."
O que diz Paulo César Magalhães, tio do lateral Paulo Magalhães
"Não fiz depósito nenhum, e o meu sobrinho também não. Se o MP tem esse comprovante, com certeza, foi forjado, e isso terá de ser apurado. Não estou questionando o MP, mas esse depósito, da nossa parte, não existe."
O que diz César perez, advogado da Egel
O Inter é um dos clientes da carteira da Egel. A empresa prestou serviços para o clube. As demais questões serão todas explicadas no devido tempo nos autos.
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