O relatório de investigações do Ministério Público (MP-RS) sobre a gestão de Vitorio Piffero no biênio 2015/2016 aponta suspeitas contra o ex-presidente e cinco ex-vices: Pedro Affatato (finanças), Alexandre Limeira (administração), Emídio Marques Ferreira (patrimônio), Carlos Pellegrini (futebol) e Marcelo Domingues de Freitas e Castro (jurídico).
A investigação já soma mais de 3,7 mil páginas e ainda não tem prazo para se encerrar. O documento com fotos, quadros, gráficos e extratos que embasou pedidos de buscas e apreensões, em 20 de dezembro, tem 243 páginas e dedica cinco a descrever a suposta participação de Piffero em irregularidades no Inter. As dezenas de documentos, além de computadores e celulares apreendidos em dezembro, deverão ajudar na elaboração da denúncia à Justiça contra os investigados. Os crimes apurados são apropriação indébita, estelionato, organização criminosa, falsidade de documentos e lavagem de dinheiro.
O que pesa contra Vitorio Piffero
O MP afirma que, pelo fato de ser o expoente máximo do clube, o ex-presidente estaria "no topo da associação/organização criminosa estabelecida" no Inter em 2015 e 2016. Assinado pelo promotor Flávio Duarte, o relatório sustenta que seria "absolutamente impossível" que os cinco vices atuassem de "forma isolada e sem qualquer relação uns com os outros".
Foi identificado depósito de R$ 70 mil na conta do ex-presidente, creditado pela empresa Argos do Brasil Consultoria em 31 de outubro de 2014, antes de Piffero assumir pela segunda vez o comando do clube. A linha de investigação dos promotores aponta para espécie de adiantamento de futuros negócios entre o Inter e a empresa. De acordo com o relatório, no biênio 2015/2016, entraram na conta da Argos R$ 294,1 mil saídos dos cofres do clube.
Segundo o MP, o ex-presidente também recebeu R$ 65 mil, com dois depósitos na conta bancária, em 7 e 19 de novembro de 2014, efetuados pela Stadium Consultoria e Assessoria Administrativa e Tecnológica Ltda, empresa de Alexandre Limeira. As quebras de sigilo bancários obtidas na investigação mostram que a Stadium recebeu, naquela época, R$ 150 mil do empresário de atletas Giuliano Bertolucci, que supostamente, de acordo com MP, antevia "vantagens financeiras que poderia usufruir no clube".
O que diz o advogado Nei Breitman, defensor de Vitorio Piffero
"Verificar comportamentos contábeis de Vitorio Piffero antes do biênio investigado para concluir que ele teria recebido valores em 2012, 2013, ou 2014, portanto, antes de assumir, para depois fazer contrapartidas, é mais especulação do que conclusão. Tudo que analisei da investigação em relação ao senhor Vitorio Piffero leva a uma conclusão mínima e precipitada que ainda não passou pelo crivo judicial: o senhor Vitorio Piffero sabia (das suspeitas de irregularidades) porque era presidente."
O que diz Gislaine Nunes, sócia da Argos na época dos fatos
"Em julho, vendi a empresa. Desconheço que a Argos tenha depositado dinheiro na conta do ex-presidente Vitorio. A Argos é uma empresa de cobrança, mas também fazia troca de títulos, cheques e duplicatas, e o MP pode estar tentando relacionar uma coisa que não tem nada a ver com a outra. A participação do Marcelo (Castro) na empresa não tem nada a ver com o Inter. Não sou laranja dele."
O que diz Alexandre Limeira
"O processo está em sigilo. Por este motivo, em respeito à investigação, não farei muitas manifestações. Mas apenas posso esclarecer que os depósitos em minha conta foram em 2014, período da eleição, antes de ser dirigente do Inter. Não há depósitos de nenhum empresário entre 2015 e 2016, período em que eu era dirigente. Os valores da CNX foram em um projeto de Santa Catarina que se iniciou em 2013, com pagamentos em 2014 e até início de 2015. Esse projeto não tem nada a ver com Inter, tenho diversas documentações que provam isso com enorme facilidade, apresentarei quando for chamado."