Há um dito no futebolês gaudério que diz:
— Pior do que ganhar o Gauchão é perder o Gauchão.
Se no ano passado a arrancada do Grêmio foi sob intensa pressão, a atual temporada do Inter se abriu com duas derrotas em três jogos e com a impaciência da torcida. Os resultados negativos diante de Pelotas e São José deixaram uma impressão ruim das equipes que foram a campo.
Na estreia, o time reserva bateu o São Luiz fora de casa. A expectativa era de que, com o ingresso de titulares e de pretendentes à titularidade, o desempenho melhorasse, mas não foi o que aconteceu. Por isto, Odair Hellmann utilizará o que tem de melhor para a partida de quarta-feira (30), às 19h15min, diante do Veranópolis, no Estádio Antônio David Farina.
Ainda que quase todo o começo de Estadual mostre os times do Interior com uma preparação física superior à da dupla Gre-Nal — devido ao começo dos treinos ainda em dezembro —, a sétima colocação colorada na tabela do Campeonato Gaúcho mais a goleada dos titulares do Grêmio sobre o Juventude, colocarão ainda mais pressão sobre o grupo colorado.
— Estou ansioso para quarta — admitiu o volante Edenilson, que esteve na derrota para o Pelotas. — Eu mesmo, de casa, queria ajudar os companheiros (no 2 a 0 para o São José). A gente fica ansioso para reverter esta situação. É um pensamento do grupo. Todo mundo tem sentimentos e está aqui porque quer colocar o clube no caminho dos títulos. A cobrança do torcedor é normal. A gente viu, teve episódios de apedrejar o ônibus. Isto não condiz com o torcedor do Inter. Quem fez isso não é torcedor do Inter — acrescentou o camisa 8, relatando a pressão sobre o elenco.
Mesmo com o retorno dos titulares, não há a garantia de vitória na Serra. Nas últimas 10 edições do Estadual, o confronto Inter e Veranópolis tem equilíbrio nos resultados, com cinco vitórias coloradas, dois empates e quatro vitórias do pentacolor. Quem vencer a partida de quarta-feira, receberá o troféu da 10ª edição da Femaçã.
— Vai ser outra guerra — afirmou Edenilson, questionado sobre o jogo na Serra. — A gente tem visto que os times estão melhor preparados do que a gente fisicamente. Tem de elevar a nossa competitividade para se igualar a eles. Eles têm um pouco mais de perna. É normal. Mas a nossa competição não está sendo igual. Enquanto estávamos de férias, eles estavam se preparando. Mas não se pode usar como desculpa porque, caso contrário, você vai se acostumando a perder — sentenciou o meia.
Para voltar a vencer, Odair Hellmann deverá ser mais ousado, abrir o time, sacando Patrick e escalando o atacante Santiago Tréllez. Assim, William Pottker e Nico López terão por missão também ajudar na marcação. Assim, o treinador abre mão do tripé de volantes e dá ao Inter uma cara mais agressiva no ataque. É a tentativa de voltar a vencer, respirar na tabela e aliviar a pressão das últimas duas rodadas.
Mas é, sobretudo, a volta do 4-1-4-1 de 2018, com a vantagem de ter em Tréllez, com seu 1m87cm de altura, alguém para ajudar os zagueiros na bola aérea defensiva. Além disso, caso o sistema se mostre consistente de novo, Odair já vai preparar o terreno para a estreia de Paolo Guerrero, a partir de 5 de abril.
Para o vice de futebol do Inter, Roberto Melo, o momento de pressão tende a ser superado em breve, conforme a equipe for jogando e obtendo vitórias.
— Trabalhar no Inter é pressão constante. Todo o clube grande tem pressão, desde a pré-temporada. Estamos acostumados a isso e, agora, vamos buscar os resultados para deixar o ambiente tranquilo. É claro que não tivemos os resultados desejados até aqui, mas ainda estamos nos preparando para fazer um grande ano. Temos convicção de que, aos poucos, os bons resultados voltarão — disse Melo.
— Não é normal, tratando-se de um grande clube como o Inter, estar com duas derrotas. Mas não estamos pressionados, sabemos o que temos de fazer. Neste momento, a conversa ajuda muito. Eu mesmo estou entrando agora no time e quero ajudar. Se não estivermos em um dia legal na técnica, na força de vontade eles não podem nos vencer — comentou o lateral-direito Bruno.
O Inter que sonha com a Libertadores vai recomeçar a sua caminhada em 2019 por Veranópolis. Para retornar a Porto Alegre com o desafogo ou com uma pressão ainda maior.
Comentaristas analisam:
O que vale o jogo em Veranópolis para o Inter e se é precoce cobrar desempenho na quarta rodada do Gauchão?
Luiz Zini Pires
"O começo não anima, o time recebe críticas, o que tira um pouco da paz do treinador. Mas a época é de experiências, testes. Odair usou três escalações diferentes em três jogos. Precisou conhecer os reforços. É melhor errar no início, reconhecer os problemas e avançar. É mais fácil culpar o treinador, mesmo que o trabalho seja coletivo. O jogo com o Veranópolis não pode fugir da fase de experimentos. Odair precisa saber com quem pode contar. Quais sistemas táticos usar. Como tirar o melhor de cada um, especialmente dos que chegaram em janeiro. Por outro lado, a torcida está mais exigente. O Inter não é mais figurante do Brasileirão, como no começo de 2018. É integrante da fase de grupos da Libertadores. Odair será cobrado em dobro".
Cléber Grabauska
"Espero um Inter mais competitivo. Algo que o time reserva mostrou em Ijuí, mas não no Passo D'Areia. Essa será a segunda apresentação dos titulares que entram com a dívida gerada pela inesperada derrota para o Pelotas. D'Alessandro e seus colegas entram não só com a necessidade da vitória, mas também com a obrigação de mostrar um futebol que sinalize uma evolução em relação ao final de 2018. E Odair, com os reforços que recebeu, precisa montar novas alternativas de esquema. A bronca da torcida e a estúpida tentativa de pedradas após o jogo de domingo (27) estão relacionadas não somente às duas derrotas, mas principalmente pela expectativa que o Inter criou na sua própria torcida. A boa campanha no Brasileirão e a vaga para a Libertadores ficaram para trás. O que se exige é um desempenho melhor, que dê condições para o time lutar por títulos. E isso está muito longe ainda. Enquanto o time não evoluir, a desconfiança só vai aumentar. A ansiedade do torcedor, por enquanto, é tão grande quanto à expectativa, e essa cobrança imediata já começa a atrapalhar. Com três jogos, já tem gente dizendo que Patrick não serve, que Sarrafiore pode ser devolvido e que Odair não é técnico para o Inter. Puro exagero".
Diogo Olivier
"Vale para diminuir o risco do Gre-Nal antecipado, como no ano passado, em razão dos tropeços do Grêmio, ou até a vantagem do mando de campo nos mata-matas, garantido aos quatro primeiros da fase de classificação. No plano factual e emergencial, é isso. Em um cenário mais amplo, a exigência é de melhorar o desempenho jogo a jogo. Se o Inter titular evoluir em rendimento em relação à partida com o Pelotas, a notícia será boa na projeção da temporada. Do contrário, alerta ligado. Neste ano, com Libertadores, o Gauchão é mais preparação do que um fim em si mesmo".