É caso de terapia. O recorte do Inter desta reta final de Brasileirão indica um leão musculoso e destemido no Beira-Rio, mas um felino magrelo e deprimido fora de casa. Você lembrou corretamente: as derrotas para Chapecoense e Sport, adversários que nem de longe tiveram boas atuações, são seis pontos escorridos pelo ralo. E o empate com o Vasco? Pontos que deixariam o time de Odair Hellmann não na vice-liderança, e sim à frente do Palmeiras.
Na tarde deste domingo, contra o Ceará, o Inter terá de encerrar uma sequência de maus resultados fora da casa – conquistou apenas três dos últimos 15 pontos disputados longe de Porto Alegre (20% de aproveitamento) – para manter vivo o sonho de título e se aproximar ainda mais da vaga direta na Libertadores. Mesmo diante de 50 mil no Castelão, os jogadores precisam se libertar do trauma recente. Mas como? A resposta está dentro das próprias más atuações em plagas distantes.
Houve um momento em que o Inter era imponente sempre. Enfrentava quem encontrasse pela frente em qualquer lugar. Atropelou o Fluminense ainda no primeiro tempo, no Maracanã: 3 a 0. Mesmo no contra-ataque, em termos de estratégia, mantinha uma postura agressiva de não abrir mão de atacar. Virou para cima do Vitória, em Salvador, no último minuto. É o que explica ainda ser o quarto melhor visitante de todo o campeonato. Gordura acumulada, como se diz. Veio a leve queda de rendimento no returno. Inclusive no Beira-Rio, expressa no parto de bigorna para superar o Vitória. Voltou a jogar bem contra São Paulo e Santos. Nem tanto diante do Atlético-PR, mas seguiu somando pontos. Retornou aos trilhos em casa.
– Claro que, em 32 rodadas, há reveses. Temos de saber lidar com isso e ajustar. Mas nossa equipe tem demonstrado alma e comprometimento – afirma Odair Hellmann.
O problema tem sido fora. Contra Chape, Sport e Vasco, o Inter fez tudo menos do que costuma fazer no Beira-Rio. Em geral, teve menos posse de bola, iniciativa, finalizações. Menos cruzamentos para a área, passes trocados. Menos compactação e gente dentro da área para a estocada final. Menos blitze no desarme. Menos volume, em suma. Patrick era o melhor desarmador do Brasileirão, mas caiu para terceiro no ranking da Footstats. Está perto de liderar a relação dos que mais devolvem a bola, por errar passe ou ser desarmado.
Não só ele. O time todo. O Inter já foi o rei na arte de tomar o doce do adversário, mas o desempenho fora de casa contra times ruins baixou essa régua. Hoje é o quarto colocado, atrás de Flamengo, São Paulo e Palmeiras, nesse termômetro defensivo essencial, por medir a disciplina do time sem bola. Para piorar, ao lado do Santos, tornou-se o campeão em perda da posse. Para se ter ideia, hoje o Palmeiras é só o 11º neste quesito coletivo, o de entregar o ouro ao bandido.
A boa notícia é que, mesmo dentro dos jogos ruins, o Inter reagiu. Não deu tempo de buscar o resultado, mas houve retomada. Foi assim contra a Chape, quando as entradas de D'Ale e Damião incendiaram o time. Em cinco minutos, sem medo e com ímpeto de Beira-Rio, o time criou mais chances do que em todo o jogo. Outro ponto: recuar muito após sair na frente não funciona, como as derrotas na Arena Condá e Ilha do Retiro provaram. Toma virada. A saída é fazer diferente e manter o garrote apertado, como se o Castelão fosse o Beira-Rio. Se conseguir, e o Palmeiras tropeçar em Belo Horizonte diante do Atlético-MG, a briga pela taça do principal campeonato do país seguirá viva.
Os últimos jogos fora
CORINTHIANS x INTER (26ª rodada)
O Inter precisava vencer para assumir a liderança isolada, já que na véspera o São Paulo ficara no 1 a 1 com o América. Sem Cuesta, suspenso, e Moledo, lesionado, usou a zaga reserva. O time só saiu para o jogo a partir dos 25 minutos do primeiro tempo. Aos 44, em cobrança de falta da esquerda, Damião fez 1 a 0. O empate veio aos quatro do segundo tempo. Depois disso, mesmo com as trocas, o Inter não teve contundência, embora tenha saído mais. Nessa partida, Zeca perdeu a posição para Fabiano.
Marcelo Lomba; Zeca (Fabiano, 12'/2°), Klaus, Emerson Santos e Iago; Rodrigo Dourado, Edenilson, Nico López (Rossi, 32'/2°), Patrick e William Pottker (D'Alessandro, 34'/2°); Leandro Damião
PASSES CERTOS
1º T - 213
2º T - 205
DESARMES
1º T - 7
2º T - 6
CRUZAMENTOS
1º T - 7 (1 certo)
2º T - 11 (4 certos)
LANÇAMENTOS
1º T - 12 (2 certos)
2º T - 20 (7 certos)
POSSE DE BOLA
1º T - 46%
2º T - 44%
FINALIZAÇÕES
8 (MÉDIA É 11,5)
SPORT X INTER (28ª rodada)
Outro jogo em que uma vitória colocaria o time na liderança, mesmo que provisória. Mais uma vez, a zaga teve Klaus e Emerson. Camilo substituiu Edenilson, e Rossi ganhou a vaga de Alvez. No primeiro tempo, embora tenha passado mais tempo com a bola, o Inter pouco criou. O Sport até ameaçou nos primeiros 15 minutos, mas como era penúltimo e vinha de sequência de cinco jogos sem ganhar, estava assustado. A entrada de D'Alessandro no lugar de Rossi, aos 10 do segundo tempo, foi um facho de luz no time. Em oito minutos, ele chutou uma bola a gol e deu o passe para Nico fazer. Odair, aos 32, resolveu fechar o time, com Charles no lugar de Camilo. Levou o empate um minutos depois e, aos 43, a virada. Foi uma das piores atuações do Inter no Brasileirão. Curiosamente, ele esteve mais tempo com a bola no pé, mas sem saber o que fazer com ela.
Marcelo Lomba; Fabiano, Emerson Santos, Klaus e Iago; Rodrigo Dourado, Camilo (Charles, 32'/2°), Patrick, Nico López e Rossi (D'Alessandro, 10'/2°); William Pottker (Jonatan Alvez, 38'/2°).
PASSES CERTOS
1º T - 250
2º T - 212
DESARMES
1º T - 5
2º T - 10
CRUZAMENTOS
1º T - 18 (1 certo)
2º T - 8 (0 certo)
LANÇAMENTOS
1º T - 18 (4 certos)
2º T - 14 (4 certos)
POSSE DE BOLA
1º T - 59,1%
2º T - 57,4%
FINALIZAÇÕES
7 (MÉDIA É 11,5)
VASCO x INTER (31ª rodada)
Era a chance de encurtar a distância para o Palmeiras, que no dia seguinte enfrentaria o Flamengo. Mas o Inter repetiu o roteiro dos jogos fora de casa. Começou retraído demais e cedeu a bola ao adversário, à espera de um contra-ataque que não veio. O primeiro tempo acabou com um único arremate, errado, de Patrick. Com Nico de atacante mais avançado, faltou contundência ao time. A partir da entrada de Alvez, o Inter mostra mais presença ofensiva e ameaça. A troca de D'Ale por Wellington Silva, aos 28, acelera o time e faz com que cresça. O gol surge em jogada dele, que o uruguaio complementa. Mais uma vez, o Inter demora a entrar no jogo fora de casa.
Marcelo Lomba; Fabiano, Rodrigo Moledo, Víctor Cuesta e Iago; Rodrigo Dourado, Edenilson, Patrick, D'Alessandro (Wellington Silva, 28'/2°) e Rossi (Jonatan Alvez, 17'/2°); Nico López.
PASSES CERTOS
1º T - 159
2º T - 144
DESARMES
1º T - 6
2º T - 11
CRUZAMENTOS
1º T - 5 (0c)
2º T - 12 (3c)
LANÇAMENTO
1º T - 20 (6c)
2º T - 14 (4c)
POSSE DE BOLA
1º T - 50,5%
2º T - 49,4%
FINALIZAÇÕES
9 (MÉDIA É 11,5)
Os últimos jogos em casa
INTER x SÃO PAULO (29ª rodada)
Em confronto direto pela segunda posição, Odair promoveu a volta de D'Alessandro como titular. Na frente, Nico foi o jogador mais avançado. O técnico acabou ajudado pelo destino. Pottker sentiu lesão aos 28 do primeiro tempo. Damião entrou, Nico voltou ao seu lugar, pelo lado, caindo para dentro, e o Inter deslanchou. Damião fez dois gols e ainda sofreu o pênalti que resultou no terceiro. Com volume de jogo e muita intensidade no ataque, o Inter fez a sua melhor atuação no Brasileirão.
Marcelo Lomba; Fabiano, Emerson Santos (Klaus, 46'/2°), Víctor Cuesta e Iago; Rodrigo Dourado, Edenilson, Patrick, D'Alessandro (Wellington Silva, 39'/2°) e Nico López; William Pottker (Leandro Damião, 28'/1°).
PASSES CERTOS
1º T - 222
2º T - 83
DESARMES
1º T - 13
2º T - 10
CRUZAMENTOS
1º T - 18 (3 certos)
2º T - 8 (5 certos)
LANÇAMENTOS
1º T - 8 (6 certos)
2º T - 18 (9 certos)
POSSE DE BOLA
1º T - 61,6%
2º T - 44,7%
FINALIZAÇÕES
15 (MÉDIA É 11,5)
INTER x SANTOS (30ª rodada)
Com o privilégio de jogar depois de todos os parceiros do G-4, o Inter recebeu o Santos no Beira-Rio e fez um jogo, nos primeiros 20 minutos, com o padrão de visitante. Ou seja, ficou na defesa, acossado e foi ameaçado, com Lomba salvando um arremate de Gabriel. Só a partir dos 35 minutos é que o Inter, estabilizado, conseguiu chegar ao ataque. O gol de Damião veio aos 43. A partir daí, os dois times fizeram um jogo com tática de luta de boxe, com trocas de ataques alternados. Depois de cinco rodadas, Odair pôde contar com o time completo. Fez bom uso. O Inter teve um gol mal anulado, reclamou, mas manteve-se concentrado e chegou ao 2 a 1. Só que cedeu o empate em erro primário de Fabiano. Com o resultado, viu o Palmeiras abrir cinco pontos e caiu para terceiro.
Marcelo Lomba; Fabiano (Jonatan Alvez, 45'/2°), Rodrigo Moledo, Víctor Cuesta e Iago (Wellington Silva, 38'/2°); Rodrigo Dourado, Edenilson, Patrick, D'Alessandro e Nico López; Leandro Damião (Rossi, 35'/2°).
PASSES CERTOS
1º T - 175
2º T - 170
DESARMES
1º T - 7
2º T - 10
CRUZAMENTOS
1º T - 14 (2 certos)
2º T - 15 (5 certos)
LANÇAMENTO
1º T - 16 (7 certos)
2º T - 13 (2 certos)
POSSE DE BOLA
1º T - 44,8%
2º T - 52,8%
FINALIZAÇÕES
13 (MÉDIA É 11,5)
INTER x ATLÉTICO-PR (32ª rodada)
Sem Edenilson e Dourado, o Inter sofreu no primeiro tempo. Gabriel Dias teve dificuldades em iniciar as jogadas. Como Juan Alano também pouco contribuía na construção, foi preciso que D'Alessandro recuasse e, com lançamentos, tentasse encontrar soluções ofensivas. O resultado foi produção zero no ataque. Odair mudou o modelo tático e trocou Damião por Wellington Silva. Depois, Alano por Pottker. Em vez de posicionamento, velocidade e habilidade para quebrar as linhas. Houve suave melhora, mas as dificuldades na transição permaneciam. O Atlético-PR fez 1 a 0 aos 19. Odair só trocou Gabriel Dias aos 34. Foi como se desamarrasse o time. Rossi entrou e, coincidência ou não, o empate veio dois minutos depois. A virada chegou com Patrick de centromédio e D'Ale de volante criativo. Nico flutuava por trás do trio Pottker, Wellington e Rossi. Um desesperado 4-2-4 sem volantes marcadores.
Marcelo Lomba; Fabiano, Rodrigo Moledo, Víctor Cuesta e Iago; Gabriel Dias (Rossi, 34'/2°), Juan Alano (William Pottker, 21'/2°), Patrick, D'Alessandro e Nico López; Leandro Damião (Wellington Silva, 15'/2°)
PASSES CERTOS
1º T - 252
2º T - 200
DESARMES
1º T - 5
2º T - 11
CRUZAMENTOS
1º T - 14 (1 certo)
2º T - 19 (5 certo)
LANÇAMENTO
1º T - 24 (10 certos)
2º T - 11 (1 certo)
POSSE DE BOLA
1º T - 54,3%
2º T - 57,3%
FINALIZAÇÕES
13 (MÉDIA É 11,5)