Tudo indica que a temporada do Inter seguirá baseada no discurso da reconstrução, na falta de recursos para investir, no fazer mais com menos, além do recomeçar e se manter na elite nacional. Pois em um ano que já se avizinha do final do primeiro semestre — e do recesso no calendário para a Copa da Rússia —, um dos dramas colorados está no setor ofensivo. Neste domingo, diante do Flamengo, William Pottker e Leandro Damião deverão ser mantidos no ataque para o clássico do Maracanã.
Dos 29 gols da equipe na temporada (entre Gauchão, Copa do Brasil e Brasileirão), 13 deles foram marcados por atacantes — e por apenas quatro: Nico, Pottker, Damião e Roger. É bem verdade que o departamento de atacantes do Inter sofreu as baixas dos titulares William Pottker e Leandro Damião por quase 60 dias, que Roger se mostrou uma contratação equivocada (e já foi para o Corinthians), que Rossi se lesionou, que Wellington Silva soma apenas 181 minutos em campo com a camisa vermelha, que Marcinho não aprovou, que Brenner recebe chances de poucos minutos quando entra, que Lucca estreou na última partida, e que Ronald é utilizado apenas em treinos. Sobra Nico López, o atacante colorado que mais atuou em 2018, com 18 partidas, e autor de cinco gols. Está empatado com Pottker como o artilheiro da equipe no ano.
Para o analista de desempenho Gustavo Fogaça, o ataque de Odair Hellmann tem pecado justamente onde não poderia: em lances dentro da área.
— No futebol, nunca existe uma resposta única e simples para as coisas. Esporte é sistêmico e coletivo, onde vários fatores influenciam ao mesmo tempo. Há dois a serem trabalhados. O primeiro: os passes-chave, que são os passes de ruptura e as assistências, e o Inter tem produzido poucas chances assim. E o segundo: o espaço, finalizar nos últimos 10 metros de campo, onde as chances de gol aumentam. Nos três jogos do Brasileirão, o Inter não teve nenhuma finalização na pequena área. Os dois fatores estão ligados. Com mais construção coletiva (passes-chave), se criam mais infiltrações, e chances de finalizar de perto do gol — avalia Fogaça.
O acréscimo de Lucca parece ter dado nova vida ao setor, ainda que dificilmente ele comece a partida contra o Flamengo. Diante do Bahia, o Inter teve 12 finalizações a gol, convertendo duas vezes. Na derrota por 1 a 0 para o Palmeiras, foram sete conclusões (e um gol mal anulado). Já diante dos reservas do Cruzeiro, tendo Lucca no segundo tempo, o Inter teve 21 finalizações, consagrando o goleiro Rafael como o melhor jogador em campo.
— O Inter precisa de 20,5 finalizações para fazer um gol, em média, nesse Brasileirão, sendo o 16º colocado nesse índice. Contra o Cruzeiro, foram construídas mais do que as 20,5 finalizações, 11 delas dentro da área adversária, contra o duro sistema defensivo de Mano Menezes — entende o jornalista Eduardo Dias, analista do projeto Footure. — Odair tem uma equação que precisa de tempo, que talvez não tenha, para resolver. A característica do grupo de jogadores montado sugere um time reativo, contra-atacando em velocidade, e com alguns metros de campo à frente. Porém, esse tipo de jogo, principalmente no Beira-Rio, se proporcionará poucas vezes, apenas contra quatro ou cinco grandes que, dependendo do contexto, vierem jogar com equipes titulares — adverte ele.
Para Dias, Odair ainda está em busca de uma solução para a construção de jogo do Inter. Segundo o analista, há três pontos são fundamentais para a equipe chegar com mais eficiência ao gol: a média de passes por minutos de posse, a aproximação entre os jogadores e a subida em bloco — além da pressão pós-perda da bola no ataque que não acontece ainda de forma natural.
— Quando os jogadores estiverem mais próximos, trocarem passes de forma mais rápida e subirem em bloco, de preferência com algum extrema bem aberto, pisando na linha lateral e abrindo a defesa adversária, as chances serão maiores, mais claras e os gols aparecerão. Os perfis de Lucca e Zeca podem ajudar nesta evolução e são coerentes com a necessidade de amplitude, rapidez na criação e participação no jogo - aponta Eduardo Dias. - É muito importante ressaltar que essa fase é a mais demorada da evolução e ela só vai chegar se o Inter continuar não sofrendo gols, com isso a confiança virá e Odair terá o tempo para resolver a equação — completa.
Os perfis de Lucca e Zeca podem ajudar nesta evolução e são coerentes com a necessidade de amplitude, rapidez na criação e participação no jogo
EDUARDO DIAS
Analista do projeto Footure
Ainda que o Inter tenha feito apenas dois gols em três jogos no Brasileirão, sobre o Bahia, e ambos de Nico López, a equipe não marca há três jogos (depois da estreia contra o Bahia, e a vitória em casa por 2 a 0, o Inter enfrentou o Vitória pela Copa do Brasil, mais Palmeiras e os reservas do Cruzeiro).
Em anos anteriores, nas três primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, o Inter só marcou menos gols em 2015, quando estava às voltas com uma boa campanha na Libertadores. No Maracanã, o palco dos sonhos de muitos jogadores, o ataque do Inter terá mais uma chance de provar se pode ou não liderar a equipe a voos mais altos no Campeonato Brasileiro.
Os gols do Inter nas três primeiras rodadas da Série A
- Brasileirão 2018 - 2 gols
- Brasileirão 2016 - 3 gols
- Brasileirão 2015 - 2 gols
- Brasileirão 2014 - 5 gols
- Brasileirão 2013 - 5 gols
- Brasileirão 2012 - 6 gols
- Brasileirão 2011 - 5 gols
- Brasileirão 2010 - 4 gols
Atacantes do Inter em 2018
(Os atacantes colorados respondem por apenas 44,8% dos gols do time em 2018)
- Nico - 5 gols em 18 jogos
- Pottker - 5 gols em 12 jogos
- Damião - 1 gol em 8 jogos
- Roger - 2 gols em 13 jogos
- Wellington Silva - oito jogos
- Lucca - nenhum gol em um jogo
- Rossi - nenhum gol em três jogos
- Brenner - nenhum gol em seis jogos
- Marcinho - nenhum gol em 11 jogos
- Ronald - nenhum gol em um jogo
Os autores dos demais gols do Inter em 2018
- D'Alessandro - 4 gols
- Patrick - 3 gols
- Edenilson - 2 gols
- Danilo Silva - 2 gols
- Iago - 2 gols
- Thales - 1 gol
- Rodrigo Dourado - 1 gol
- Klaus - 1 gol
Total de gols na temporada
- 29 gols em 22 jogos