A parada da Copa do Mundo, entre 14 de junho e 15 de julho de 2018, será benéfica para o Inter. Como dizem os castelhanos, me explico. Quando o Campeonato Brasileiro retornar depois da ressaca russa, poderemos ver em campo um time finalmente competitivo. Zeca e Lucca estarão completamente ambientados, e Rithely poderá ocupar o lugar de Rodrigo Dourado e dar a dinâmica da saída de bola que tanto nos aflige. Nada contra Dourado, mas de lento já basta o meu carro 1.0.
Para chegar à velocidade necessária para acelerar os jogos e martelar os adversários, a mudança definitiva terá que ocorrer com o principal personagem do Inter desde Fernandão: Andrés D’Alessandro. Apesar do talento e da liderança inquestionáveis de D’Ale, o peso da idade lhe tirou a explosão. E o meio-campo do Inter tem de ser envolvente, imprevisível, insinuante e agressivo, o que D’Ale, infelizmente, não consegue mais entregar. Isso não significa, porém, o fim do nosso capitão.
D’Alessandro é uma liderança sem igual no Rio Grande do Sul. Disciplinado, focado, aguerrido, talentoso e fiel às cores que defende, o gringo vem se preparando para um novo estágio em sua vida, provavelmente como treinador. Ele sabe enxergar a partida como poucos e contribui decisivamente para orientar os colegas dentro do campo. Os mais jovens o admiram, os mais velhos o respeitam. D’Ale é um líder, um vencedor, um dos maiores a vestir a camisa 10. Mas ele não tem mais pernas para entregar tudo que sua cabeça e seu coração querem.
Do Parque Patrícios, em Buenos Aires, vem chegando alguém com os atributos para sucedê-lo: Sarrafiore. Canhoto, 1,80m, habilidoso, 20 anos, chutador e rápido, o pibe que causou, com o perdão da redundância, um furacão ao assinar com o Inter e dar adeus ao Huracán, desembarca em Porto Alegre no dia 1º de julho. Precisará de um tempo de adaptação e reforço muscular, mas, como é jovem, pode entrar no time sem cerimônia. Tudo o que Sarrafiore precisa é jogar.
E para ele jogar, D’Alessandro terá que sair. Ambos atuam exatamente na mesma posição, e querer improvisar Sarrafiore para manter D’Ale será um erro fatal. É chegada a hora da transição para o novo camisa 10. Nada justificará que Sarrafiore fique esquentando o luxuoso banco do Beira-Rio.
A mudança de patamar do time Colorado passará pela grandeza de D’Alessandro. É o capitão que precisa dar o passo inicial para criar o seu sucessor. Dentro do Beira-Rio, em frente à torcida que tanto o ama, D’Ale precisa entregar o seu legado para o pibe de Huracán, assim como fez Diego Armando Maradona com Juan Roman Riquelme em 1996.
Com La Bombonera lotada, Maradona abraçou Riquelme, beijou seu rosto e apresentou ao garoto o futuro que lhe aguardava. A torcida entendeu, apoiou e foi junto com Maradona e Riquelme para uma nova era. É isso que o Inter precisa.
E quando Sarrafiore não corresponder, D’Alessandro estará pronto para entrar e ensiná-lo mais algumas lições, até que a transição seja completa. Nada mal para quem estava acostumado a olhar para o banco e enxergar Anderson, Andrigo, Seijas, Valdívia, Ferrareis...