Receber a notícia de que um herdeiro está a caminho é passível de superstição para que venha com saúde. Promessas costumam ser feitas, ainda mais se o caso é de uma gravidez de risco. Nada de se sacrificar ao atravessar um campo de joelhos, como é comum após um título – ou uma volta por cima.
Há quem tenha prometido homenagear um ídolo caso, como diz o colorado André Luis Dornelles, hoje com 41 anos, "desse tudo certo".
– Houve algumas complicações de saúde, então, fiz promessa: daria o nome de D'Alessandro a meu filho – conta Dornelles, morador de Canoas.
Cena semelhante ocorreu há 23 anos, em Rio Pardo. A vontade de Marno Krug, 54 anos, era homenagear o goleiro gremista Danrlei, que havia sido peça fundamental no Tricampeonato da Copa do Brasil, no Bi da Libertadores e do Brasileirão. Seu filho nasceria com o nome do ídolo, Krug decidiu. Só que o destino deu um drible – nele e no colorado Dornelles.
Os exames, em ambos os casos, anunciaram: seria uma menina. Mas, como promessa é dívida, nasceram D'Alessandra e Danrléia. A colorada, hoje com oito anos, foi registrada pouco antes de o Inter conquistar o Bicampeonato da Libertadores, em 2010. E, depois de muita insistência do pai no cartório, avisando que era fundamental "a virgulinha em cima, depois do D".
D'Alessandra ouviu muitos colegas de escola a chamarem de Alessandra. Rebateu todos, sempre, com uma frase:
– Pode me chamar de D'Ale.
Ela já conheceu o camisa 10 e, junto a outros 44 D'Alessandros, todos registrados em homenagem ao ídolo, entrou com ele em campo no jogo contra o Bahia, pelo Brasileirão.
Danrleia também já viveu emoção semelhante. Antes, porém, teve de aprender a gostar do próprio nome. Na infância, sentia estranheza. Na adolescência, orgulho pelo nome exclusivo, que a motivou a conhecer melhor a história do camisa 1 – e do próprio clube de coração.
– Onde já se viu uma Danrleia sair colorada? Não! – diz a guria.
Ela conheceu o goleiro em 2016, quando tinha 21 anos. Foi no município vizinho de Pantano Grande, visitado pelo agora deputado federal. Funcionária de uma cooperativa à época, Danrleia travou ao vê-lo. Diz que não conseguia levantar da cadeira.
– Ele teve de vir até mim. Eu simplesmente não conseguia me mexer de tão nervosa – lembra.
Hoje, Danrleia não vê a hora de ser mãe. Mas apesar de carregar o fanatismo pelo Grêmio do pai, não pretende dar o nome do filho em homenagem a nenhum jogador de futebol.