Rodrigo Dourado é um símbolo dos altos e baixos que o Inter tem vivido desde 2015. Titular há quatro temporadas, o camisa 13 já foi até capitão do time e, hoje, é um dos jogadores mais contestados do elenco. Lançado no time de cima em 2012, aos 18 anos, enquanto Osmar Loss treinava o time B no Gauchão — os titulares de Dorival Júnior estavam envolvidos na pré-Libertadores —, o volante conseguiu se firmar e virar titular somente em 2015. Foi com o técnico Diego Aguirre, mas, sobretudo, jogando ao lado de Charles Aránguiz.
O tempo passou, o chileno foi embora, outros jogadores foram rodando no meio-campo colorado, veio o rebaixamento, a Série B, a volta à Série A, e a crise técnica de 2018. Dourado segue titular com Odair Hellmann, mas já não tem o mesmo status de temporadas passadas, nem o mesmo moral aos olhos da Europa, que o viu compor a seleção olímpica, que ganhou a medalha de ouro no Rio. A carreira de Dourado, assim como a vida do Inter, parece ter virado uma montanha-russa.
Depois da partida de Aránguiz para o Bayer Leverkusen, Rodrigo chegou a ter a companhia de Nico Freitas, de Anderson, de Bertotto, de Alex, de Fabinho, de Fernando Bob, de Jair, de Seijas, de Eduardo Henrique, de Anselmo, de Felipe Gutiérrez, de Uendel, de Edenilson, de Gabriel Dias e de Patrick. Muita gente, poucos afirmados, característica distintas nesta rotatividade extensa do meio-campo colorado.
Em um Inter que enfrenta constantes crises desde a eliminação da Libertadores de 2015, Dourado sofre com a "expectativa e realidade", com o que o torcedor projeta nele. Para o analista do projeto Footure Eduardo Dias, o Gre-Nal válido pelo returno do Brasileirão de 2015, vencido pelo Inter por 1 a 0, com gol de Vitinho, em assistência justamente de Rodrigo Dourado — o clássico que abreviou a carreira de Erazo no Grêmio, após ser driblado no lance, prejudicou o jogador. Aquela jogada, segundo Dias, permaneceu no imaginário do torcedor, com um Dourado que ele nunca foi.
— Ele é um ótimo volante defensivo, que faz o seu trabalho com eficiência, e certa elegância, inclusive. Que ganha 60% dos duelos aéreos no seu campo, que comete poucas faltas, que antecipa mais de seis bolas por jogo, e que tem um excelente número de roubadas de bola no campo ofensivo. Está clara a sua utilidade e importância para o time. Rodrigo Dourado é um dos grandes volantes defensivos do Brasil. O que não podemos é exigir a sua participação na construção ofensiva, Dourado não é desprezível neste aspecto, até se posiciona muito bem na cobertura ao portador da bola, mas exigir algo que foge das suas características, o expõe e desvirtua a análise — entende Eduardo Dias. — Dourado não é o volante construtor, o volante "2.0" que o futebol atual tem apresentado, mas não é obrigação dele ser este jogador. Nem todos os times precisam jogar como o "Barçapep", nem todos os times do mundo possuem volantes construtores, não há fórmula mágica, e tampouco exclusiva para a vitória, o que não podemos é avaliar um jogador pelo que ele não é — agrega.
Dourado atrasa, sim, o jogo do Inter. Mas ele é apenas uma vítima de um elenco mal montado
RENATO RODRIGUES
Jornalista e coordenador do Data ESPN
Rodrigo Dourado também foi alvo dos protestos de cerca de 30 torcedores, na manhã dessa quarta-feira, no Beira-Rio. Além do volante, cujo nome foi associado a impropérios e xingamentos, o atacante Nico López foi criticado. E, principalmente, o vice de futebol Roberto Melo sofreu pesadas críticas do grupo, que gritava e soltava rojões no pátio do estádio, uma vez que o treinamento foi realizado a portões fechados.
— Rodrigo Dourado atrasa, sim, o jogo do Inter. Mas ele é apenas uma vítima de um elenco mal montado e de um clube que desde 2015 teve oito treinadores, um com ideias bem diferentes do outro — afirma Renato Rodrigues, jornalista e coordenador do Data ESPN. — A questão do Inter é a falta de identidade. Com estes jogadores, é uma equipe com características de reagir, de acelerar o jogo, jamais de propô-lo. São jogadores de velocidade, não de apoio ou de jogo curto — completa.
Rodrigues entende ainda que Dourado seja um produto da confusa política de futebol estabelecida no Beira-Rio há alguns anos. Ele compara o Inter ao São Paulo: clubes que tiveram o auge na primeira década dos anos 2000 e que, por incompetência, pararam de ganhar títulos, perderam relevância nacional e passaram a queimar jogadores. Cita o zagueiro Rodrigo Caio, um jogador "monstruoso" nas categorias de base do São Paulo, e que não conseguiu seguir crescendo no time profissional, por falta de incentivo de diversas comissões técnicas.
— Com Dourado se dá o mesmo. Não conseguiu dar a guinada que se esperava na carreira. Ele tem todas as características que um primeiro volante de contenção precisa. Mas não consegue ser, por exemplo, um volante que "desarma, passa e vai". O passe é interação. No Inter, o único com esta capacidade de criação é o D'Alessandro, mas que também não vem entregando o que promete. Com o elenco que o Inter tem, não é possível propor o jogo, mas, sim, esperar e contra-atacar. Mas para isto é preciso que o ego não atrapalhe. Dourado é apenas parte deste processo — finaliza Rodrigues.
Um dado, pondera Eduardo Dias, mostra que o problema do Inter é estrutural, não apenas de individualidades. Maicon, primeiro volante do Grêmio, tem 46 passes no último terço do campo (a partir da intermediária de ataque) no Brasileirão. D'Alessandro, o camisa 10 do Inter, tem 41 passes.
— A principal qualidade do Dourado é o desarme não faltoso. Raros são os lances como o de domingo passado, quando levou amarelo por um puxão em Éverton Ribeiro. Seu maior defeito é a lentidão na saída de bola. Sobram situações de jogo em que o lateral desmarcado pede a bola, mas Dourado prefere o passe mais curto e menos produtivo, o que atrasa o serviço do setor. É um problema, sim, mas não vejo outro jogador no elenco capaz de tirar Dourado do time — avalia o comentarista do Grupo RBS Maurício Saraiva.
Nesse sábado, na Arena, Rodrigo Dourado terá a chance de provar uma vez mais que pode ser o jogador valorizado de 2015, e não a versão contestada de 2018.
Os números de Dourado na temporada
- Jogos: 18
- Minutos em campo: 1.628
- Gols: 1
Passes no Brasileirão
- Inter 2x0 Bahia: 36 certos, 8 errados
- Palmeiras 1x0 Inter: 63 certos, 2 errados
- Inter 0x0 Cruzeiro: 44 certos, 5 errados
- Flamengo 2x0 Inter: 38 certos, 4 errados
Desarmes no Brasileirão
- Inter 2x0 Bahia: 4
- Palmeiras 1x0 Inter: 2
- Inter 0x0 Cruzeiro: 1
- Flamengo 2x0 Inter: 3