A empresa estadunidense Nike, em parceria com o Sport Club Internacional, lançou no mês passado o modelo 2018-2019 do pedaço de tecido mais pesado do sul do país. Em dois tons de vermelho e com uma faixa que remete ao ritmo reggae nas costas, o novo manto colorado é o que há de mais encorpado em uma camiseta de futebol. Prova disso é o que aconteceu na Arena do Grêmio no último sábado.
Antes do Gre-Nal 416, ouvir o pré-jornada da Rádio Gaúcha era adentrar um universo paralelo. Dezenas de torcedores gremistas foram entrevistados na entrada do estádio pela equipe de reportagem da rádio. Dezenas de torcedores gremistas foram unânimes ao apostar em goleadas absolutas na partida que aconteceria em algumas horas. "Cinco a zero é pouco hoje", "vai ser de seis para cima!", "olha, sinceramente, acho que hoje vai ser seis a um", só para citar algumas das frases que mais me chamaram a atenção em meio àquele oceano de otimismo.
O pior é que faz sentido. Afinal de contas, o Grêmio tem o melhor time da história do mundo. É o que de mais completo já se viu em todos os tempos no planeta Terra. Nunca antes uma equipe praticou esporte semelhante. O futebol (gaúcho, brasileiro, mundial!) jamais presenciou tamanha qualidade técnica e tática (caso alguém tenha alguma dúvida disso, recomendo que clique nos links em laranja espalhados por este parágrafo).
E para enfrentar isso tudo, o que tínhamos?
Para encarar o que de mais avassalador já foi produzido no esporte futebol, tínhamos o pior Inter da história. Nunca antes passamos por reformulação tão gigantesca, nunca antes havíamos sido rebaixados, nunca antes havíamos entrado em um Campeonato Brasileiro coma a meta única de não cair, nunca antes foi tão sofrido torcer para o Inter. O colorado não sabe trocar três passes, tem um elenco capenga e está afundado em dívidas, crises políticas, desconfiança e azar. Nem mesmo o craque no nosso elenco, único homem capaz de derrotá-los, apresentava condições de jogo.
O que pisou no gramado da Arena às 15h54min de sábado não era um time de futebol (já que passa longe disso), era uma camisa vermelha. O S, o C e o I entrelaçados no peito diante de um adversário que nunca antes havia possuído tamanho poder.
De um lado, o melhor Grêmio de todos os tempos, com o melhor treinador de todos os tempos, no melhor estádio de todos os tempos embalados pela melhor fase de todos os tempos.
Do outro, a camisa.
Resultado: zero a zero.
Entrevistas
Após o apito final passou a ser engraçado ouvir as entrevistas do lado azul. A Gaúcha transmitia não mais torcedores empilhando gols em um universo alternativo, mas sim dirigentes e o treinador do tricolor culpando o Inter pela não-goleada. Ora, que absurdo, Inter! Não deixar o time deles empilhar gols? Deveríamos ter aberto os caminhos para o "rei de copas", para o "imortal, copero y peleador"! Como assim querer praticar futebol diante deles?! Poxa vida, Odair!
Renato falou em "massacre". Ri especialmente dessa parte. Foi um massacre, realmente. Massacre dos passes para o lado e passes para trás. Todos os 98% de posse de bola do Grêmio na partida se resumiram a um joguinho modorrento de passes sem objetividade. O "massacre" do Renato teve o massacrante número de uma finalização no massacrado gol adversário. Sempre muito divertidas, as entrevistas do treinador deles.
Ainda falaram muito em arbitragem, mas esse é um assunto que foi tratado em definitivo no Torcedor Colorado GaúchaZH nesse texto aqui. Resumindo: juiz de futebol não favorece ninguém. Juiz é ruim. Ponto.
Balança
Grêmio e Inter vestem camisas de peso (e ninguém é doido de duvidar disso). O melhor jeito de colocá-las na balança, especialmente para fugir da lógica do:
- Mundial Fifa!
- Ah, mas eu tenho três Libertadores!
- Tá bom, mas eu tenho três Brasileiros!
- É, mas e as Copas do Brasil?
- Beleza, mas quem tem Sulamericana?
em uma briga que se estenderia aos Gauchões, citadinos e chegaria até o ano de 1909, é colocar um time contra o outro. Nada parece mais correto, no que diz respeito a entender quem é melhor, do que posicionar os dois concorrentes frente a frente. Para a nossa sorte, isso já foi feito. Quatrocentas e dezesseis vezes. É uma amostragem bastante rica, eu diria. Até aqui, entre vitórias de um, de outro e empates, temos os seguintes números:
- 155
- 131
- 130
Dica: nenhum dos dois maiores números se refere a vitórias do Grêmio.
Como pesa a camisa do Sport Club Internacional.