Estávamos ainda no primeiro dos três Gre-Nais deste infeliz mês de março. O capim ainda balançava no fundo da goleira do Inter, Luan corria na direção do escanteio para celebrar o segundo gol marcado no clássico do Beira-Rio. Apenas metade do primeiro tempo havia se passado e eles já venciam por dois a zero. Sapateavam na nossa desgraça, riam das nossas falhas, exibiam - carregados de soberba e superioridade - o melhor do seu futebol no nosso Gigante. Ali, naquele exato momento, peguei o celular e fiz a seguinte busca:
Eu nunca havia bloqueado ninguém em aplicativo algum, não possuía experiência nessas coisas. O que eu tenho, entretanto, é um relacionamento estável. Namoro uma gremista. A mais gremista das criaturas que já conheci nessa vida. Descobri como se faz para bloquear alguém no aplicativo de conversas para bloquear a mulher que eu chamo de amor.
Não podia suportar as risadas que ela mandava na nossa janela outrora recheada de corações (os meus, vermelhos, os dela sempre azuis) e declarações fofas. Não havia como ver a felicidade dela e seguir sobrevivendo. Era Luan sorrindo, dois a zero no placar, 20 e poucos minutos, Beira-Rio, festa deles, deboche daquela que amo no meu celular... não aguentei. Bloqueei a minha namorada.
O Sport Club Internacional está desgraçando a minha cabeça.
As coisas não vem bem desde 2016. Na reta final daquele amaldiçoado brasileiro, qualquer menção à palavra "queda", "cair", "rebaixado" e suas variações acabava destruindo o meu dia. Aí alguém vinha falar do tal "fantasma" e a vontade era de abandonar em definitivo o esporte futebol e passar a torcer para alguma equipe de curling.
Mas o Inter é imenso e, assim sendo, é impossível para mim não amá-lo e seguí-lo. Assim continuei. Chorei com o gol do Valdívia contra o Cruzeiro, uma arrancada daquelas, em uma rodada daquelas... só poderia significar uma coisa. "Não cairemos" pensei, às lágrimas na arquibancada.
Caímos.
Nada mais fez sentido. Passei a questionar se essa loucura toda valia a pena mesmo. Era derrota em casa para o Boa Esporte, empate sem chutar uma bola no gol do Paraná, noite épica contra a Luverdense no Beira-Rio... Nada se encaixava, vencemos o Barcelona, poxa vida! Agora vou ser obrigado a sofrer assistindo o Inter perder para o CRB? Há pouco jogávamos semifinal da América, agora estávamos a disputar - e perder - posição com o América Mineiro. O caos e a insanidade haviam se acampado em definitivo às margens do Guaíba.
Subimos.
(Por óbvio, não entraremos aqui no mérito de descrever tudo o que aconteceu com o time de azul e de todas as noites de secação inútil e tristeza latente. Já é sofrido demais falar só do Inter).
Agora de volta à elite, agora que as coisas poderiam começar a se organizar, três Gre-Nais. Assim, em sequência. Assim, quando o time deles joga o melhor futebol da sua história e o nosso está saindo do pior dos buracos em que já se enfiou. Não há chance de vitória, mas mesmo assim a gente se engana, a gente sofre, a gente se irrita, a gente bloqueia pessoas amadas nos aplicativos de conversa.
E aí, quando tudo parece mais calmo e a aceitação da nossa temporária inferioridade futebolística parece evidente e superada; quando a namorada já foi desbloqueada do whatsapp e toda essa história parece um exagero cometido em um passado muito distante; quando tudo parece que está, finalmente, fazendo algum sentido, o Sport Club Internacional nos manda um e-mail.
Um e-mail convidando o seu torcedor para ir ao Gigante no próximo clássico.
Um e-mail para tentar ocupar o Beira-Rio contra o Grêmio.
O Sport Club Internacional está desgraçando a minha cabeça.