Odair Hellmann é um homem de muita sorte. Essa frase pareceria absurda se fosse escrita no dia 10 de agosto de 2015, segunda-feira após a mais vexatória derrota colorada nos últimos 100 anos. Hoje - abril de 2018 - ela faz todo o sentido. Se há três anos o treinador foi atirado na pior das fogueiras e acabou massacrado em um Gre-Nal, agora ele dispõe de algo que absolutamente todos os treinadores gostariam de ter: tempo para treinar.
E não falo apenas dessa espécie de intertemporada forçada que estamos vivendo agora. Com a eliminação no Gauchão, abriu-se um espaço de 20 dias no calendário colorado entre o clássico do universo paralelo e a próxima fase da Copa do Brasil. Três semanas de trabalho que serão somadas à pré-temporada realizada no início do ano e à pausa para a Copa do Mundo, entre junho e julho. Há muito - muito mesmo - tempo nenhum treinador colorado teve tanto tempo para trabalhar a equipe quanto Odair terá nessa temporada.
É claro que a ameaça de demissão seguirá sempre viva, uma vez que a nossa diretoria muda de convicção com inigualável facilidade. Demitir treinadores a cada três ou quatro meses, característica que deveria ter morrido na gestão passada, segue firme com Medeiros e Melo e seus três técnicos em um ano. Imagino, aliás, que uma terceira derrota seguida contra o Grêmio, mês passado, teria derrubado mais um neste moedor de carnes que virou a casamata vermelha.
Mais tempo para trabalhar seus atletas não significa necessariamente vitórias, isso é evidente. Entretanto, em um contexto em que 97,8% das entrevistas de treinadores apresentam reclamações sobre a "falta de tempo para treino" e "meu deus como é horrível jogar quarta-domingo-quarta-domingo", Hellmann será um privilegiado.
Para que Odair consiga usufruir da sorte que lhe foi lançada, basta segurar uma campanha medíocre nas 12 primeiras rodadas do Brasileirão - as que antecedem a pausa copadomundística. Não precisa ser brilhante, não precisamos ter o início de campeonato enganador que Argel Fucks nos proporcionou em 2016. Basta que não seja um desastre. Doze rodadas de mediocridade, é só o que precisamos por enquanto.
Serão partidas complicadas, em sua maioria contra adversários que estão disputando a Copa Libertadores. A meta, aqui, vai ser aparecer fora da zona maldita. Nada além. A disputa pelo troféu sétimo lugar, afinal de contas, neste ano dará lugar à disputa do troféu décimo quinto. E está tudo bem. Nem todo ano vai ser 2006, a gente já aprendeu.
Depois de uma goleada e uma surra em clássicos e alguns jogos bastante estranhos, a sorte finalmente passou a sorrir para o nosso treinador. Serão três oportunidades de pré-temporada em um único ano. Nenhum treinador colorado deste milênio jamais teve isso.
Aproveita, Odair!
Monta um time medíocre.
Mantenha a gente fora do Z-4 por enquanto.
Quem sabe, assim, o azar não começa a deixar de vez as bandas do Beira-Rio?