Quando não é possível vencer pela técnica, vai na raça mesmo. Mas o Inter que bateu o Grêmio por 2 a 0, que voltou a vencer um clássico depois de mais de dois anos, que apesar da vitória foi eliminado do Gauchão, teve raça e teve técnica. E entregou aos mais de 20 mil torcedores colorados exatamente aquilo que eles foram buscar no Beira-Rio: esperança.
Com uma postura agressiva em campo e uma entrega que não foi vista nas duas derrotas anteriores para o Grêmio, o Inter tenta renascer na temporada. Se o Campeonato Gaúcho ficou para trás pelo segundo ano seguido (e pela primeira vez desde 2007 o Inter não vai à final do Estadual), agora restam para os colorados a Copa do Brasil (o mata-mata com o Vitória) e uma campanha longe do Z-4 e bem próxima da Libertadores no Campeonato Brasileiro.
Com muitos desfalques e um meio-campo recheado de marcadores (até D'Alessandro e o lateral Fabiano jogaram de volantes em muitos momentos), Odair Hellmann apostou em segurar o ímpeto de Luan e companhia e, em um segundo momento, atacar. E, atacando, conseguiu chegar ao 2 a 0, bater o orgulhoso tricampeão da Libertadores, além de sair de campo sob aplausos. Ao final, as duas torcidas comemoraram no Beira-Rio, como no clássico de 1999, pela Copa Sul, quando o Inter com gols de Fabiano e de Dunga derrubou o rival, mas igualmente foi eliminado do torneio.
Se os colorados possivelmente assistirão ao Grêmio campeão gaúcho de 2018, pelo menos eles verão também o trabalho de Odair Hellmann prosseguindo na temporada. E o processo corria sérios riscos. Uma terceira derrota seguida para o time de Renato Portaluppi balançaria a estrutura do projeto do Inter.
— O Grêmio tem mérito por ter se classificado. Eu cheguei ainda em 2016, e a gente sofreu muito, a confiança estava muito abalada. A gente se recuperou ano passado, mas foi muito difícil também. Hoje, é muito bom a gente ver uma torcida apaixonada jogando junto, mesmo desclassificado. É muito importante poder voltar a jogar esses grandes jogos de igual para igual. Nós vamos dar a volta por cima — disse o goleiro Marcelo Lomba.
— Conseguimos fazer um enfrentamento, jogar. Tivemos as melhores chances. Poderíamos ter feito o terceiro gol. Quem sabe se o árbitro tivesse expulsado o Jael, que deu um soco no Cuesta, tivéssemos feito os três gols. Talvez pelo nosso pouco tempo de trabalho tivéssemos mais maturidade para fazer cera. Tem jogador do Grêmio que deve ter feito curso de teatro. O goleiro se atira o tempo inteiro no chão. Se tivéssemos essa maturidade, fazer toda essa cera como o Grêmio faz. Temos cerca de 10 jogadores ausentes. Perdemos o nosso ataque titular. São vários fatores que levaram a esses resultados. Mas hoje tivemos regularidade nos dois tempos — comentou o vice de futebol Roberto Melo.
Depois, o dirigente deu sequência ao protesto de D'Alessandro durante a semana e lamentou que ainda exista entre conselheiros do clube a secação ao próprio Inter:
– O Grêmio está um passo à frente de onde nós estamos hoje. No ano passado jogamos a segunda divisão, um trauma muito grande. O Grêmio tem uma equipe que joga junto há três anos. Essa continuidade é que vejo como a grande diferença. O Inter merece ter essa continuidade. O que nos dói é ver que podemos vencer, vencer e vencer que, na primeira derrota, cai o mundo. Colorados, que parecem esperar o time perder para ir a programas de rádio e de TV para dizer que tem de mudar tudo. Se o Inter não mudar nesse sentido, vai demorar a sair dessa situação de descontinuidade e insucessos. Vamos olhar para o lado. As coisas que acontecem aqui, não acontecem no Grêmio. E o Grêmio está vencendo. Quem deveria ajudar está sempre puxando para baixo.
O técnico Odair Hellmann agradeceu o apoio da torcida, elogiou a entrega do time e lamentou a eliminação no Estadual.
— Quero fazer um elogio ao torcedor do Inter: quando o Beira-Rio ruge assim, leva a equipe para cima do adversário. Tentamos nos classificar até o fim, mas não conseguimos. Vamos tentar melhorar para as próximas competições. Criamos chances iguais às do Grêmio nos outros jogos, mas a nossa bola não entrou. Sabíamos que se conseguíssemos reproduzir o segundo tempo daqui (do primeiro jogo no Beira-Rio) e o primeiro tempo da Arena, poderíamos conseguir a classificação – afirmou o treinador.
Vencedor de seu primeiro Gre-Nal, ele lembrou que precisava conviver com as críticas por ainda não te vencido um clássico:
— Não gosto de perder nem par ou ímpar. Não vou aceitar a derrota, mas tenho de ter convicção no meu trabalho. Tenho de respeitar opiniões e até as brincadeiras, mas preciso seguir adiante.
A vitória no Gre-Nal com eliminação no Gauchão serviu para que D'Alessandro e companhia devolvessem ao torcedor o orgulho. Nessa quinta-feira, camisas vermelhas voltarão a ser vistas nas ruas. O torcedor voltará a caminha de cabeça erguida, ainda que o futuro imediato do Inter não seja dos mais fáceis. A primeira perna do Brasileirão terá clássicos atrás de clássicos na vida de Odair Hellmann. Jogadores precisam sair do departamento médico e voltar ao campo, reforços são necessários. Afinal, o Inter não fará a cada rodada um jogo de superação, como foi o Gre-Nal 415.