Não havia chance de vencermos o Grêmio. Com esse time, nesse estágio da temporada, com tão pouco tempo de trabalho. Não existia possibilidade de superarmos o nosso maior rival. Com esse time deles, no estágio de maturidade em que estão, com tanto tempo de trabalho. Ir ao Beira-Rio na quarta-feira era certeza de derrota, pois não havia universo possível onde, em março de 2018, o colorado derrotasse o tricolor.
Sabendo da impossibilidade concreta de triunfo, Andrés Nicolás D'Alessandro resolveu abrir um buraco no espaço-tempo. Comandou, em campo, uma reviravolta anímica de tal magnitude que os 11 de vermelho no gramado, como que despertados de um sono longo e apático, olharam para baixo, viram nos seus peitos o S, o C e o I entrelaçados neste vermelho de amor sem igual e resolveram, ali, durante aqueles noventa minutos, representar o Sport Club Internacional no gramado do Beira-Rio.
O que se viu durante a partida de volta das quartas de final do Gauchão 2018 foi um total e completo atropelo vermelho diante dos azuis rivais. E poucas vezes antes os sentimentos atrelados a essas cores foram tão bem representados em um campo futebolístico. O azul frio, morto, gélido sucumbindo a um vermelho inflamado, vivo, quente, desesperado por incendiar a coisa toda e sair de campo triunfante.
O festival de carrinhos, desarmes e domínio completo das intenções deixava claro que esse nosso clássico acontece mesmo em um universo paralelo, em um mundo à parte. Odair, povoando o meio-campo e acertando na escalação de Fabiano na lateral, conseguiu organizar um Inter recém-promovido à Série A de forma tal que mesmo o atual campeão da América pode sair de campo aliviado pela classificação.
E a sensação passada pelos jogadores de azul foi exatamente essa: alívio depois da pressão absurda que enfrentaram. Para cada atleta do Grêmio fazendo fiasco no chão havia doze colorados ao redor, xingando, antecipando o retorno da partida. Até o argentino Walter, defensor-símbolo deles, quem diria, se mostrou perdido, chorão e fiasquento. D'Ale, velhinho, deixou o seu jovem compatriota sem pai nem mãe com sua sempre eficaz La Boba.
Nosso capitão, aliás, comandou as emoções dentro e fora de campo. Já no aquecimento, cerca de uma hora antes do jogo, apareceu como um maestro regendo as arquibancadas do Gigante. Poucas vezes se viu um jogador com tamanho poder de mobilização quanto D'Alessandro. Regeu a torcida, comandou a vitória. Craque, capitão e ídolo.
Ao apito final do juiz, não houve decepção pela eliminação. Assim como tampouco se ouviu qualquer festa do lado azul. No Beira-Rio, as vozes vermelhas abafaram por completo qualquer coisa que se estivesse dizendo no lado visitante. Estávamos eufóricos por, depois de tanto tempo, termos reconhecido em campo representantes do clube que amamos.
Voltavam para casa as mais de vinte mil almas vermelhas depois de terem presenciado uma ruptura total na ordem. A subversão causada na realidade pelo Inter, na noite desta quarta-feira, não será esquecida tão cedo. Somos piores, mas vencemos. Na vontade, no caos e na insanidade, mas vencemos. É imenso o Sport Club Internacional. E, nesse universo, independentemente do ano, do tempo e da situação, não há azul gelado que apague o brilho e o brio do nosso vermelho.