Se todo o atleta tem no clássico aquela partida especial, com a chance de ganhar de vez a torcida ou até mesmo de entrar para sempre na história do clube por apenas um jogo, o capitão do time tem uma carga extra sobre si. É ele quem puxa o time desde a entrada em campo até o agradecimento final às arquibancadas - ou o pedido de desculpas. Mais que um jogador com um número às costas, um capitão em Gre-Nal carrega a faixa no braço como se fosse o estandarte de um exército.
No clássico 413, os capitães Maicon e D'Alessandro protagonizaram o Gre-Nal antes do Gre-Nal, com um insólito bate-boca e troca de empurrões, em meio ao subir da moedinha do sorteio de Jean Pierre Lima. Um exagero sem registro recente em pelo menos cinco décadas.
Mas, afinal, como deve ser o comportamento de um capitão em um clássico? Mesmo capitães experientes como D'Alessandro (dono da braçadeira colorada desde 2012, com a interrupção em 2016, ao ser emprestado para o River Plate) acabam entrando em armadilhas devido ao calor do Gre-Nal. Zero Hora perguntou a capitães históricos do Inter, e de distintos períodos, como deve se portar em um clássico: como se vence um jogo dessa importância, como manter o foco, como não entrar em provocações. Confira os depoimentos de Elias Figueroa, Dunga, Bolívar e Luiz Carlos Winck.
Elias Figueroa
O papel do capitão é ainda maior em um clássico da importância do Gre-Nal. Ele deve incentivar sempre os seus jogadores durante a semana do jogo mesmo. O capitão do time é aquele que tem a maior responsabilidade pela equipe em campo. Tem responsabilidade com o técnico, com a direção e com a torcida. É fundamental que ele seja o mais sereno, que não se assuste com a grandeza do jogo nem com a casa do adversário. Se entra tenso no clássico, tudo fica pior, mais difícil. É preciso lembrar que, quando o jogo começa, o time está sozinho contra o outro. O torcedor não vai entrar em campo. Ser capitão colorado em Gre-Nal é uma honra para poucos. É uma mescla entre liderar o time e não deixá-lo nervoso, tenso. Espero que o Inter tenha condições de vencer o Grêmio na Arena.
Dunga
O foco de um jogador de Gre-Nal é automático. Porque este jogo é diferente de todos os outros. O capitão do time não precisa acelerar os jogadores, tentar aumentar muito a motivação, pois o clássico já faz isso de forma automática com cada um. Não é preciso acentuar as cosias. Por vezes, o capitão precisa é ajudar a baixar a adrenalina do grupo para que ninguém passe do ponto, extrapole, acabe gerando violência de alguma forma em campo. Porque também é preciso ter inteligência, acabar o jogo com 11 atletas, algo muitas vezes fundamental para se vencer um Gre-Nal. O capitão precisa tentar impedir que o adversário cresça. Ver o outro crescer no Gre-Nal é muito perigoso.
Para o clássico da Arena, vejo o Grêmio em vantagem, por ter mantido pelo menos 70% do time do ano passado. O Inter, ao contrário, todo o ano recomeça o trabalho, até duas vezes em um ano. Mas se trata de um jogo único, o que passou, passou. O Inter jogará mais focado. Se o técnico tem o grupo na mão, se montou o elenco observando as características de personalidade, assim que o time perde ele sabe que reagirá breve.
Bolívar
O capitão precisa ser o ponto de equilíbrio do time, o espelho da equipe. Os demais jogadores te admiram, te observam em campo, olham a tua conduta para fazer o mesmo. O capitão acaba sendo o espelho do time inteiro. E não é algo fácil de se carregar em um clássico. O mais importante é ter tranquilidade e passar isso aos seus jogadores. Ainda mais quando se trata de um clássico decisivo. Em 2011, nas finais do Gauchão (Falcão treinando o Inter, Renato comandando o Grêmio), em dois Gre-Nais, lembro que perdemos o jogo de ida em casa (Inter 2x3 Grêmio) e fomos decidir no Olímpico. Lá, ainda saímos perdendo por 1 a 0, mas viramos e ganhamos o título nos pênaltis. Por isso digo que é preciso que o capitão tenha tranquilidade, se mostre sereno para ser o mais cirúrgico. Isso é fundamental em um jogo deste tamanho.
Luiz Carlos Winck
O Gre-Nal é um campeonato à parte. É um jogo que exige muita concentração, responsabilidade e conhecimento de cada detalhe que envolve o clássico. A obsessão pela vitória é a mesma de ambos lados. E, por mais que seja um jogo de alta intensidade, é preciso que o torcedor não confunda a vontade de vencer com violência, seja dentro ou fora de campo. Temos nosso estilo gaúcho de jogar futebol e levamos isso muito a sério, sem perdermos a felicidade de vestir as cores dos clubes daqui. Torço para que possamos testemunhar o respeito entre as torcidas num dos maiores clássicos do nosso país.