Está claro para qualquer espectador atento aos jogos do Inter em 2018. William Pottker está diferente. Infiltra na área com mais frequência e junta-se ao centroavante. Por vezes abandona tanto o lado direito que chega a aparecer no outro flanco do gramado.
Odair admite que orienta o atacante para fazer esse tipo de movimentação. Avalia que mantê-lo somente em um vai e vem junto à linha lateral é desperdício.
Tem dado certo. Em seis jogos em 2018, Pottker marcou cinco gols. Os números, quando comparados aos registrados na Série B em 2017, mostram alguma evolução em quase todos os quesitos (veja abaixo).
Há unanimidade de que os deslocamentos em direção à área são responsáveis pelo crescimento, mas a transformação nas estatísticas não se estende aos mapas de calor, que permanecem quase inalterados em relação aos do atacante no ano passado. A seguir, GaúchaZH analisa o motivo do sucesso da movimentação de Pottker até aqui e explica por que ela não aparece nos gráficos que registram seus deslocamentos.
Médias de William Pottker a cada 90 minutos em campo
Série B 2017
21,69 passes
0,64 desarme
0,34 gol
0,40 drible
3,04 finalizações (1,48 na direção do gol)
0,24 passe para gol
1,35 passe para finalização
Gauchão e Copa do Brasil 2018
25,97 passes
1,37 desarme
1,14 gol
0,68 drible
3,42 finalizações (1,59 na direção do gol)
0,45 passe para gol
1,14 passe para finalização
O fator surpresa
A posição de William Pottker no campo não mudou. Quando as jogadas do Inter começam, ou quando o time perde a bola e tem de se esforçar para recuperá-la, seu lugar no campo é o de um ponta, aberto pela direita. Daí os mapas de calor com poucas alterações. O que não significa que a transformação tão comentada em sua movimentação seja ilusória.
O fato de que Pottker passa muito tempo rente à linha lateral ajuda a entender a eficiência desses novos deslocamentos orientados por Odair. Como fica a maior parte dos 90 minutos na direita, o atacante surpreende quando faz o popular "facão", aparecendo na área para finalizar.
Cléber Xavier, auxiliar de Tite na Seleção Brasileira, explica que usa outro método para mapear as movimentações, de modo a captar esses deslocamentos que podem pegar a marcação desprevenida:
— A gente costuma usar as setas, em que a gente registra todos os deslocamentos que o jogador faz, não só os mais frequentes. Lembro que, quando estávamos no Inter, fizemos esse estudo com a movimentação do Verón, antes da final da Sul-Americana contra o Estudiantes (em 2008). Agora, na Seleção, também fizemos a respeito do Messi antes de enfrentar a Argentina.
Jogador "terminal"
Um dos motivos para a movimentação em diagonal de Pottker funcionar é o fato de que ela combina com suas características.
Essa intenção do Odair de colocar a bola no chão pode beneficiar mais o Pottker, fazer com que ele escolha melhor o momento para infiltrar.
RENATO RODRIGUES
Jornalista e analista de desempenho da ESPN
— Sempre vi o Pottker como um jogador terminal. Geralmente pensamos no extrema como alguém que prepara jogadas para os companheiros, que cria situações. Não é o caso dele — avalia Renato Rodrigues, jornalista e analista de desempenho da ESPN.
Xavier ressalta que o atacante não tem a característica de "flutuar", ou seja, de sair da ponta para o centro do campo para trabalhar como um articulador. Concorda que a infiltração na área condiz mais com suas qualidades, mas alerta que é cedo para tirar conclusões definitivas:
— Temos de tomar cuidado para fazer estas avaliações, especialmente no Brasil, em que não há muito tempo para trabalhar. É preciso repetição em vários jogos para consolidar esse tipo de movimentação.
Contexto coletivo
Há quem explique o crescimento de Pottker somente pelas mudanças na forma com que se movimenta em campo. Mas há outro fator a ser considerado: o jeito do time jogar.
— Temos a tendência no Brasil de explicar tudo pelo individual, mas tem um contexto coletivo a ser considerado. Essa intenção do Odair de colocar a bola no chão pode beneficiar mais o Pottker, fazer com que ele escolha melhor o momento para infiltrar. Com o Guto, o time trabalhava mais com ligações diretas — alerta Rodrigues.