Foi no Beira-Rio e já faz três anos e meio. Em 30 de junho de 2014, Manuel Neuer chocou o planeta ao interceptar com os pés nada menos do que 20 ataques da Argélia e quebrar o recorde de toques na bola de um goleiro fora de sua área.
Naquela partida, oitavas de final da Copa do Mundo, o alemão estabeleceu um novo parâmetro para quem quiser se fixar na posição. De lá para cá, os times de ponta buscam desenvolver em seus goleiros a capacidade de jogar com os pés. Nos primeiros dias da pré-temporada colorada, no mesmo Estádio Beira-Rio, o Inter também tenta melhorar este aspecto.
Por orientação de Odair Hellmann, os goleiros colorados devem primeiro procurar algum companheiro apto a receber o passe e só em último caso rifar para o campo de ataque. A ordem é manter a posse de bola e criar alternativas ofensivas desde o campo de defesa.
— Ficou bem exposta essa nova maneira que estamos implantando, com goleiro inserido no trabalho com os pés. Eles vêm treinando bastante para que, quando ocorra no jogo, possam estar preparados para esse tipo de situação — analisou o preparador de goleiros do Inter, Daniel Pavan.
Marcelo Lomba, o reserva imediato de Danilo Fernandes, concordou com a nova filosofia:
— Como essa ordem (de usar os pés) vem do treinador, nos dá mais segurança. Entendemos que é importante sair jogando, ter confiança. Desde o ano passado, Odair nos avisa para jogar, não se livrar da bola. Isso aumenta a posse do nosso time.
Essa saída de bola com o goleiro é tão importante no futebol atual que treinadores que preferem manter a bola e propor jogo chegam a colocar no topo da lista de habilidades a capacidade de jogar com os pés. É o caso de Pep Guardiola, que levou para o Manchester City o brasileiro Éderson, ex-Benfica.
— Éderson é muito bom com os pés, e isso foi o diferencial da contratação. Quando jogou contra o Bayern de Munique, na Liga dos Campeões (pelo Benfica), ele foi muito bem. Botava a bola, no tiro de meta, no outro gol. É incrível a força que ele tem. Nenhum goleiro tem isso. Aquilo chamou a atenção do Guardiola — relatou o goleiro brasileiro Julio César ao SporTV.
Claro que é um fundamento importante, mas não é o principal. Antes, o goleiro precisa saber defender, sair do gol, se posicionar, tomar decisões de dar soco ou segurar a bola. Isso é o mais importante.
DANIEL PAVAN
Preparador de goleiros do Inter
Apesar da importância da habilidade com os pés, Pavan lembra que essa não é a principal função do goleiro.
— Claro que é um fundamento importante, mas não é o principal. Antes, o goleiro precisa saber defender, sair do gol, se posicionar, tomar decisões de dar soco ou segurar a bola. Isso é o mais importante.
De fato, a pré-temporada dos goleiros (que, como brinca o preparador, vai de janeiro a dezembro, porque a posição exige estar sempre no auge) não vai ser "só" voar, espalmar, segurar e antecipar: acertar passe e fazer lançamento está na rotina colorada.