Eram 23 minutos do segundo tempo de um Gre-Nal em 2003. O clássico estava 2 a 0 para o Grêmio, em pleno Beira-Rio.
Corta, troca de clássico.
O jogo que decidiria o campeão gaúcho de futebol feminino de 2017 mal havia começado e... Gol do Grêmio, que já havia vencido o confronto de ida por 2 a 0.
Corta outra vez.
Para seguir contando essa história, é preciso dizer que havia uma Luizelli em cada cena. Em ambas, o jogo virou. Nos dois casos. Duda, a irmã mais experiente em Gre-Nais e hoje gerente do futebol feminino no Inter, fez jus ao número 10 às costas, saiu do banco na etapa final daquele clássico de 2003 para comandar a virada histórica por 3 a 2. Grávida, é bom que se diga.
– Mas era bem no comecinho – justifica ela, para em seguida completar: – Só o técnico e eu sabíamos. Ninguém entendia por que estava no banco. Depois, descobriram – relembra.
Duda, hoje com 46 anos, saiu do campo e virou gestora. No seu currículo, brilham conquistas como o bi sul-americano com a seleção brasileira em 1991 e o penta gaúcho com o Inter.
Mas até sair o terceiro gol naquele Gre-Nal de 14 anos atrás, correr contra o cronômetro do árbitro e repor a bola em campo com agilidade virou peça fundamental. É onde Gabi, a caçula entre as quatro irmãs Luizelli, aparece em cena pela primeira vez. A volante que iniciou a virada por 3 a 1 sobre o Grêmio no último dia 9 e ajudou a levar a decisão do Gauchão para os pênaltis e ao título colorado era gandula naquela final de 2003.
– Sabia que um dia eu seria jogadora do Inter. Quando comecei a jogar, o clube interrompeu as atividades do futebol feminino. Apostei no futsal, fui jogar na Itália, mas mantive a vontade acesa de vestir essa camisa não só como torcedora – emociona-se a volante de 28 anos, que retornou ao Beira-Rio para ser a capitã do time.
Lapidada na escolinha da irmã, Gabi cresceu no futebol sob a batuta de Duda.
– Nós idealizamos uma jogadora. Ela não era aqueles fenômenos raros. Fomos buscando fundamentos importantes. E, quando ela se viu preparada, foi em atrás do seu sonho – conta Duda.
A caminho da Itália, com 23 anos, Gabi decidiu que era hora de esconder o Luizelli carregado (e bem-sucedido) pela irmã nas passagens por Verona e Milan. Adotou o sobrenome do meio e virou Gabi Marranghello. Só. Voltou de lá casada com Rodrigo Canabarro, um gaúcho que, assim como ela, reforçava uma equipe de futsal local – ela, o Pescara, ele, Acqua e Sapone.
A profissão do marido, a propósito, é o que a impede, neste momento, de projetar como será 2018. Se na caçula o futuro imediato causa incerteza, na primogênita dos Luizelli o assunto provoca sorriso e brilho no olho.
– Vamos em busca na consolidação e expansão da marca Gurias Coloradas. Montamos um time do zero, com uma das maiores peneiras do Brasil. O título foi só a consolidação de um trabalho maravilhoso no qual a direção do Inter aposta – comemora Duda.
A temporada 2018 das Gurias Coloradas começará em março, em uma seletiva para jogar a A-2, Segunda Divisão do Brasileirão. São 13 vagas para 26 clubes. O Grêmio não precisará participar por já ter vaga assegurada, devido o rebaixamento em 2017.