Baidek sai do carro estacionado em frente ao terminal 2 do Aeroporto Salgado Filho. Do outro lado da calçada vem sussurros e dedos apontados ao ex-zagueiro do Grêmio. Instantes depois, ele tira de uma sacola com o distintivo do clube a camisa 3 vestida há 40 anos na conquista do Mundial. O torcedor não resiste, atravessa a rua e pede para tocar no manto sagrado. A empolgação está estampada no olhar. O gremistão tocava na joia mais valiosa da história gremista e retorna para onde estava.
A cena ocorreu em 4 de dezembro, dia em que Baidek, a convite de GZH e da RBS TV, refez o trajeto que os campeões do mundo percorreram na chegada do Japão, em 15 de dezembro, quatro dias depois da vitória por 2 a 1 sobre o Hamburgo. Na hora e meia em que esteve com a reportagem, relembrou a insanidade vivida naquele dia.
As recomendações para que os torcedores não fossem ao aeroporto não foi cumprida. Muitos compareceram para acompanhar a saída. Alguns resistiram do primeiro passo até a chegada ao Olímpico.
— Os casacos (do traje oficial) não duraram muito. Todos pediam algo, fomos dando casaco, gravata, camisa. Uma atenção para o torcedor que sempre esteve conosco. Sabíamos que teria uma recepção, mas foi mais do que esperávamos. Era uma multidão. Foi importantíssimo o calor humano do torcedor na nossa chegada — ressalta Baidek, enquanto a chuva tamborilava no teto do carro, bem diferente do calorão vivido quatro décadas atrás.
Quando o caminhão do Corpo de Bombeiros fez a curva da Avenida Farrapos em direção ao Centro, um povaréu de gremista esperava os campeões. Na rua. Na calçada. Nas marquises. Nas janelas. Nas sacadas. Não tinha lugar em que não tivesse um torcedor.
Se pudéssemos retribuir a todos os torcedores, retribuiríamos. É uma imagem que fica para sempre
BAIDEK
Campeão mundial com o Grêmio
Na reconstrução do caminho, Baidek conheceu alguns torcedores que estiveram naquela festa com cara de kerb, iniciada na madrugada de domingo (11) e finalizada na quinta-feira (15). Entre eles, Jairo Anselmini:
– Grande, Baidek, ícone daquele time! Naquele dia, esperei vocês aqui (Avenida Farrapos). Era um mar de gente tentando subir no caminhão. Foi lindo.
O olhar de Baidek, arma para intimidar atacantes abusados, brilhou como reconhecimento do torcedor que aos 16 anos abandonou o trabalho por alguns minutos para acompanhar o desfile dos campeões.
—Se pudéssemos retribuir a todos os torcedores, retribuiríamos. É uma imagem que fica para sempre. Todos queriam estar mais próximos de nós — explica Baidek durante a conversa.
O ex-zagueiro tem muito carinho por aqueles que o abordam. Cada um que o para, recebe atenção, um abraço e um cartão de visitas do campeão do mundo.
Mas a multidão na Farrapos não era nada. A massa gremista invadiu a cidade. Parecia que todos estavam de corpo e alma na comemoração pelas ruas da cidade. Em frente ao Parcão, o veículo com os jogadores “estacionou”. Era impossível não se emocionar diante de tamanha festa.
— Ficamos sem conseguir dar andamento (ao cortejo). Ficamos muito tempo aqui (no Parcão). Paramos para dar a atenção devida, sem nos mexermos praticamente. O caminhão podia desligar (o motor) porque não dava para andar — relembra o ex-jogador.
Ainda assim era pouco. O Centro de Porto Alegre parou para ver os ídolos desfilarem. Mas ainda era possível reunir mais gremistas em um mesmo local. O cortejo cruzou a João Pessoa, atravessou a Ipiranga, e o trajeto ganhou clima de jogo.
Eram mais de 30 mil tricolores no pátio do Olímpico. Baidek foi um dos primeiros a subir no palco. Ergueu uma das taças conquistadas na viagem.
— Foi uma realização nossa. Quase três horas depois passando pelas ruas, foi uma realização para a multidão que nos esperava. Chegamos com cautela, muita calma, porque todos queriam estar próximos. Era como um estádio lotado. A emoção que o torcedor passava era uma realização para nós — detalha.
Corta para os tempos atuais. Em um momento de trégua na chuva, Baidek caminhou até o portão de entrada do Olímpico, na Rua José de Alencar. Ali, encontrou José Luiz da Silva Neto, um dos mais de 30 mil gremistas que se aglomeraram no Largo dos Campeões naquele 15 de dezembro. O encontro teve um abraço efusivo entre os dois. O aposentado, hoje com 60 anos, emocionou-se ao encontrar o ídolo e relembrar as alegrias de 40 anos atrás.
Nunca tive a oportunidade de agradecer pessoalmente para um daqueles heróis que nos deram o maior título. Muito obrigado!
JOSÉ LUIZ DA SILVA NETO
Torcedor do Grêmio que foi ao Olímpico receber os campeões
— Nunca tive a oportunidade de agradecer pessoalmente para um daqueles heróis que nos deram o maior título. Muito obrigado!
— É emocionante — emendou Baidek.
O tempo presente utilizado por Baidek é correto. Quarenta anos depois, ainda é emocionante.