Renato está em casa. Após um primeiro semestre de reestruturação no Grêmio, mas com mais um título do Gauchão conquistado, o treinador está mostrando um trabalho de excelência no Tricolor. É terceiro lugar no Brasileirão, com 36 pontos, e segue firme e forte na busca pelos objetivos da equipe.
Esta sexta-feira (1º) é uma data de celebração no CT Luiz Carvalho. É quando completa um ano desde que o técnico aceitou o convite para retornar ao clube do coração. E 12 meses depois de encontrar uma equipe na Série B, Portaluppi mira o alto da tabela do Brasileirão como objetivo. Confira abaixo a entrevista concedida aos repórteres Eduardo Moura e João Teixeira, do site ge.globo.
O quem sido diferente nessa atual passagem? São números e recordes cada mais difíceis de serem alcançados.
Está sendo de um proveito muito grande. Primeiro, feliz por sempre quebrar recordes. Os números não mentem. Quando eu cheguei, estava feia a coisa. Conseguimos subir. Foi um momento de turbulência no clube. Aí vai somando os problemas financeiros graves, praticamente mudamos 50% ou 60% do grupo. Muitos não acreditavam, mas ganhamos o Estadual, que não foi fácil. De onde nós viemos, com todas as mudanças, esse título foi muito bom pra gente, deu uma moral. Jogamos dois Gre-Nais e ganhamos os dois. O Inter vinha de uma base pronta. Essa mudança toda de grupo e chegamos numa semifinal de Copa do Brasil e terceiro lugar do Brasileiro. Reestruturando o clube em todos sentidos. É um ganho muito grande. E fico muito feliz de ter esses números maravilhosos em cima de todos esses problemas. Basicamente, eu reinventei o time três vezes. Mudar o esquema de jogo de um time numa pré-temporada, ter tempo para treinar, é uma coisa. No meio do tiroteio… Então isso é um fator muito positivo.
Qual foi o teu maior desafio na chegada? Subir, a reestruturação…
Tudo. Subir, por estar sendo muito pressionado, com um monte de problemas que encontrei, e tínhamos de subir de qualquer jeito. E, nesse ano, a reestruturação em todos sentidos. Tanto que baixamos a folha de pagamento em R$ 4 milhões, e o Grêmio é terceiro colocado. O maior problema em 2022 era a folha muito alta para um elenco de Segunda Divisão. Jogadores ganhando muito além do que deveriam. E sofrer do jeito que e o Grêmio estava sofrendo... Esse era um problema muito sério.
Qual a maior dificuldade em ser o Renato hoje em dia? Pensar em 200 coisas ao mesmo tempo?
Eu diria que 200 mil coisas. Porque eu chego aqui três horas antes do treino, circulo o clube todo, conheço como a palma da minha mão todos departamentos. Converso com os profissionais de todos departamentos, se eu vejo algo errado, eu corrijo, e faço a coisa andar, porque o treinador, para ter o controle, tem que entender das coisas, e eu entro em qualquer departamento aqui porque conheço todos e as funções de todo mundo. Porque se um departamento não andar, vai sempre estourar no campo, estourando no campo, estoura no treinador. Então seria fácil eu chegar aqui igual todo mundo, uma hora antes do treino e fazer a minha parte. Mas eu me preocupo com os outros departamentos também. Por isso eu falo que criticar o Renato é mole, quero ver ser o Renato.
O episódio do Suárez foi um grande desafio?
Foi muito fácil. Eu conversava muito com o Guerra e o Suárez. Estava a par das duas coisas e tentei conciliar. Por isso eu falava "espero que se entendam". Porque eu ouvia um lado, ouvia o outro, e tentava contornar as coisas. Segurava um pouco aqui, um pouco ali. Lógico que a palavra final é sempre do presidente junto com o jogador. Fui jogador, sei como o jogador pensa, e conheço o Guerra, sei como o clube pensa. Para mim era fácil falar e dar o prazo até dia 2 (de agosto). Porque eu sabia que iriam se acertar.
A mediação era evitar a saída?
Lógico. Era tentar evitar a saída. E evitamos. Um jogador importante pra nós, para o clube. Mas o mais importante de tudo, queria que ele ficasse, mas feliz, e foi o que aconteceu. Isso era fundamental. Não adianta ficar com o jogador infeliz, ele não vai render assim.
Circula uma possível permanência do Suárez em 2024. Isso é uma possibilidade?
Não tem possibilidade. Ele vai embora. Não adianta ficar iludindo. Comigo é olho no olho. Ele não vai ficar. Não que nós não quiséssemos. Foi uma decisão para ele seguir a vida dele, realmente no Brasil se joga a cada três dias. Se ele quer jogar mais um pouco, não pode jogar aqui. Ele não iria aguentar.
E o Renato? Pensa em ficar em 2024?
Nem parei para pensar nisso. O Suárez já pensou, eu ainda não. O que eu quero é brigar pelo título, levar o Grêmio à Libertadores, não gosto de falar sobre o contrato porque não sei o que vai acontecer.
O treinador que se garante tem de pensar em Seleção. É o auge. Se vai acontecer ou não é outro departamento. Meus números estão aí. O que tem que fazer nos clubes, eu faço.
RENATO PORTALUPPI
Sobre o sonho de treinar a Seleção Brasileira
Até quando o Renato vai aguentar trabalhar? Tem plano de vida?
Se eu não tivesse minha família, talvez pararia em breve, mas como ela é uma máquina de gastar dinheiro, aí vou ter que estender um pouco mais a carreira. Lógico que eu gosto muito de trabalhar, mas chega uma hora que tem que dar um basta. Como treinador, eu sou novo.
Te agradou a escolha do Diniz e essa condução da escolha do treinador da Seleção?
É um assunto meio polêmico. Não estou falando do Ancelotti, que é um técnico de alto nível. Acho que no Brasil temos grandes técnicos também. O Brasil é o país que mais ganhou Copas. O que eu acho errado é o Brasil esperar tanto tempo o Ancelotti. Aí eu não concordo. Por exemplo. Vai esperar um ano, o que vai ser feito nesse um ano? O Diniz assumiu. Não quero saber se vai dar certo ou não, nem é problema meu. Mas independentemente se der certo ou errado, chega o Ancelotti. E se não der certo com ele? Vai mandar embora? Aí, perdemos praticamente dois anos. Ele pode chegar e dar certo, ok. Mas e se der errado? Acho errado esperar tanto tempo por um técnico.
Sempre foi uma constatação que você não fala muito sobre tática nas entrevistas. É uma estratégia sua?
Pra mim seria muito fácil falar sobre tática. Mas por que dar armas ao adversário? A parte tática é com meu grupo. Tem treinador que gosta de falar da parte tática, que fale. Tem treinador que fala bonito. Tenho de explicar para o meu time o que tem que ser feito taticamente. E procurar falar com eles para que possam me entender. Esse é meu trabalho. E gerenciar o vestiário. Acabou. Aí te pergunto: que treinador inventa tantos esquemas sem ter tempo para trabalhar e que dá certo? Meus últimos meses estão aí. Três esquemas. Eu poderia me vangloriar, chegar na entrevista e falar só de parte tática, mas pra que vou dar armas para o adversário?
Se pegar os times que subiram ano passado, o Grêmio tem, disparado, a melhor campanha no Brasileiro.
Sem SAF e sem dinheiro. Sem nada. Mas faz parte. Por isso que eu digo que o trabalho é excepcional. Ir no mercado com dinheiro é mole. Quero ver entrar num campeonato só pagando conta. E dar resultados dos trabalhos que estamos dando. Se o cara enxerga isso, ótimo. Se o cara não quer enxergar isso, ou é mal intencionado ou é burro. Estamos apagando incêndio para, no ano que vem, colocar no mínimo numa Libertadores. Vai ter mais dinheiro, menos contas e aí, sim, poderemos formar um grupo ainda mais forte para brigar com os grandes por uma Libertadores, Brasileiro, uma Copa do Brasil de igual para igual.
Já tive vários convites, mas quando os caras vêm com esse papo eu falo "nem vem que eu não vou". Deveria ir né, por causa da minha filha, para ganhar essa bolada que o pessoal ganha lá fora. Aí eu estaria tranquilo"
RENATO PORTALUPPI
Sobre treinar no Exterior
Atualmente, você é único treinador brasileiro no G-4. Isso significa algo para o futebol brasileiro?
Sim, muito. Para os nossos treinadores. Tem uma geração como Felipão, eu, Mano Menezes, Cuca, Luxemburgo. Venho de uma geração em que a gente tem uma concepção de trabalho. Aí a gente está vendo muitos estrangeiros aqui. Por que estão tirando o espaço dos nossos treinadores? Eu sou contra, e ao mesmo tempo a favor, de muitos treinadores copiarem só o que os europeus fazem. Eu copio coisas da Europa que me servem, não copio tudo. Eu vejo muitas coisas ruins lá. Não é porque é da Europa que é certo.
O que falta para o Renato? Pretende ser presidente?
Ser presidente? Você está maluco? Presidente não ganha nada. Minha filha gastando do jeito que tá, aí eu quebro. Não, não. Na hora que eu parar vou curtir minha família, minha praia...
E o que falta como técnico? Parece que você nasceu para o Grêmio.
Deu liga. Não só eu, mas minha família toda é gremista. Me sinto em casa aqui, tenho o carinho do torcedor, como treinador, como jogador. Mas lógico que pelos meus resultados também, primeiro como jogador e agora como treinador. Ajudei bastante o clube. Muito. Por isso, tenho todo esse carinho do torcedor. O que me falta? Bem, enquanto eu estiver trabalhando aqui no Grêmio, quero ganhar títulos. Trabalho para isso, para dar sempre alegria ao torcedor.
Mas esses teus objetivos como treinador não necessariamente só aqui no Grêmio?
Não. Hoje falo aqui no Grêmio. Amanhã ou depois, posso estar em outro lugar. Também não parei para pensar nisso. Minha cabeça está aqui até dezembro, a partir do ano que vem, não sei o que vai acontecer.
Não quer treinar fora para ficar mais perto da família?
É, eu me conheço. Ficar próximo da família, estar no meu país. Lá fora você vai ganhar muito dinheiro, mas meu objetivo não é ficar milionário. Meu objetivo é que não falte nada para minha família.