— Pô, a gente utiliza isso aqui também, só que ninguém sabe. Quando eu joguei na Europa, eles já usavam isso. Só que o de vocês é muito melhor.
As duas frases são do lateral-direito do Grêmio Fabio, no vestiário do CT Luiz Carvalho, em maio, após viralizar um vídeo do técnico Abel Ferreira explicando sobre os métodos do Palmeiras no controle do sono dos jogadores.
O Tricolor tem um sistema próprio desde 2021 para o monitoramento da qualidade do descanso dos atletas. O programa desenvolvido especificamente para o aproveitamento interno do clube passou por atualizações no manuseio e aplicação, mas foi elogiado pelo experiente jogador, que construiu praticamente toda a sua carreira na Europa, tendo passado por equipes inglesas como Manchester United, Queens Park Rangers e Middlesbrough, pelo Cardiff, do País de Gales, e Nantes, da França.
Em Porto Alegre, Fabio e os demais jogadores gremistas têm uma rotina: a apresentação é uma hora antes da atividade para preenchimento do formulário intuitivo que capta informações variadas: do sono, dores musculares e até mesmo o humor específico daquele dia.
GZH apresenta agora o mecanismo que tem colaborado no rendimento do time nos últimos meses. Giovanni Ramírez, fisiologista com passagens por Joinville e Ceará, está há dois anos em Porto Alegre. Filho do ex-lateral-esquerdo da seleção uruguaia Sergio Ramírez, ele é um dos tantos membros do estafe que chegam com horas de antecedência e preparam a rotina para os jogadores terem as melhores condições possíveis para alta performance. O trabalho dele é conceituado, tanto que foi convidado a integrar a seleção brasileira sub-20 recentemente.
O controle do sono é uma das medidas que a comissão técnica avalia individualmente cada atleta. Todos devem ser sinceros na aferição do descanso para saber o nível de repouso.
— A gente começou esse processo no dia a dia. São questionários subjetivos e que o atleta responde para a fisiologia algumas questões, e essas questões são repassadas para o departamento médico, a fisioterapia — explica Ramírez, demonstrando a integração entre as áreas que compõem o Departamento de Ciência, Saúde e Performance. do Grêmio.
Basicamente, os profissionais chegam e, de imediato, deparam-se com uma espécie de totens digitais. O sistema, desenvolvido exclusivamente para o Grêmio, chama-se SGA. A primeira ação é o reconhecimento facial para evitar duplicações. A medida também indica ao Departamento de Futebol a presença do funcionário nas dependências gremistas.
Posteriormente, contando com a sinceridade de cada um, os jogadores precisam responder perguntas simples, mas que servem para os membros da comissão técnica definirem desde a participação eventual na sessão, mas também o nível de intensidade que poderá ser aplicado. São indagados temas como sono, recuperação, nível de cansaço, humor, dores, nível da dor (de zero até 10) e o local.
— Você demora 10 segundos para responder questões que tem uma importância muito significativa no dia a dia e na manutenção da performance desses atletas. E daqui a pouco a gente consegue um perfil clínico, de dor do atleta, não de um do grupo ou só daquele atleta. A gente consegue analisar em um mês o que que aquele atleta relatou, se aquela dor está baixando. Então, tudo está dentro do sistema — detalha Ramírez.
— Quando o sono não está dentro do necessário para um jogador profissional, ajustes na rotina diária são sugeridos. Cada caso é diferente de outro. Por exemplo: filhos pequenos podem influenciar no tempo de descanso. Ou até mesmo dificuldades para adormecer. Nesses casos, o departamento de nutrição entra com algumas suplementações específicas e o departamento médico também, além de todos os profissionais para informar aos atletas sobre a higiene do sono, que são estratégias básicas, para o atleta dormir melhor. Os estudos científicos comprovam que a melhor estratégia de recuperação é o sono e a alimentação — completa o fisiologista.
De posse de todas as informações, 30 minutos antes do horário previsto para o treinamento, toda a comissão técnica se reúne para discutir os relatórios diários e também quais trabalhos são os mais indicados.
— Algumas atividades podem ser moduladas de acordo com aquela dor, por exemplo, o atleta se apresentou com dor no joelho ou no tendão, mas o médico detectou que ele pode treinar. Alguma coisa que possa prejudicar essa dor é modulado, é feita uma pequena intervenção — comenta Ramírez.
Para o sucesso da metodologia, o fisiologista explica que a sinceridade é fundamental. A preservação eventual de partes das atividades em virtude de dores pode evitar algo mais grave.
— Para manter uma performance alta, eles respondem com sinceridade, e a gente vai tomando as devidas decisões — justifica.
O processo é aprimorado. Em 2021, os próprios fisiologistas perguntavam jogador a jogador. Em 2022, tablets foram acoplados no vestiário. Agora, há modernos totens na chegada do ambiente de trabalho. Assim, o Tricolor tenta deixar todos aptos e em um bom condicionamento físico para renderem sob o comando de Renato Portaluppi.