O pragmatismo do Grêmio desde o início da Série B motiva debates entre os torcedores. A escolha por uma estratégia que reduz as chances de vencer, mas minimiza significativamente o risco de perder, consolidou o time de Roger Machado no G-4. A impressão até o momento é de que o retorno à Primeira Divisão é mera questão de tempo.
De ponto em ponto, o torcedor enfrenta 90 minutos de partidas muito brigadas e de pouca qualidade técnica, mas que aproximam o clube de seu principal objetivo na temporada. Essa postura incomoda parte dos gremistas, que querem ver um time com investimento muito maior do que os adversários ter maior controle do jogo, mais posse de bola e, principalmente, mais gols marcados. Ser categoricamente superior. Sobrar no campeonato, como se diz.
Após conquistar o Gauchão com uma proposta com mais jogadores de características voltadas à marcação, o Grêmio encontrou dificuldade no início da Série B. Ao tentar soltar a equipe, Roger não viu o rendimento que esperava. Alguns adversários souberam aproveitar as chances de surpreender.
Mesmo com investimento na folha salarial e na aquisição de atletas com valores bem acima dos demais clubes, o Tricolor só conseguiu entrar no G-4 quando deu um passo atrás na sua proposta de jogo e alicerçou sua campanha na solidez defensiva. Foram poucos os jogos em que o time venceu e empolgou o torcedor.
Dono de uma invencibilidade de 15 partidas, a maior entre os 40 clubes das Séries A e B, o Grêmio ainda enfrenta contestações. Mesmo com sete jogos a mais sem perder do que o segundo colocado na lista — o Fluminense de Fernando Diniz —, o Tricolor tem desempenho que não empolga o torcedor gremista. Ainda que com um estilo distante do idealizado pela torcida, caminha sem sustos rumo ao retorno para a Primeira Divisão. A faculdade de matemática da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) coloca o Grêmio com 75,3% de possibilidades de subir. O índice do portal Infobola é ainda mais otimista: 81%.
Mas ainda assim a campanha tricolor é questionada publicamente. O time tem números que não correspondem ao nível de investimento feito na formação do grupo de jogadores. É o sexto time em posse da bola, em média, na Série B. Além disso, é a segunda equipe que mais erra passes. Exibe o terceiro lugar na média de erros por partida, porém, lidera o ranking de desarmes e tem a melhor defesa entre as Série A e B, com apenas sete gols sofridos.
— Se puder jogar bem, melhor. Mas queremos os pontos. O importante é vencer. É o que precisamos fazer. O resultado é o que manda. Se jogar bem e perder, é ruim — resumiu o presidente Romildo Bolzan.
O principal ponto de desconforto entre Grêmio e quem acompanha o time está na diferença de percepção do rendimento nas partidas fora de casa. A equipe vem de uma invencibilidade de oito rodadas como visitante, mas empata demais: seis vezes. Levou apenas três gols, mas também marcou três vezes. Em termos gerais, o aproveitamento como visitante está dentro do planejamento da direção para assegurar o retorno à Série A. A meta é somar 35% dos pontos longe da Arena. Até a 21ª rodada, fez 36% dos pontos disputados.
O que alimenta o debate é o desempenho. A questão foi abordada por Roger Machado em sua última entrevista coletiva. O técnico desse que não avalia a série de empates como bloco único, e sim partidas com circunstâncias específicas e contexto que explicariam cada resultado individualmente. O exemplo dado foi o jogo contra a Chapecoense. Com um jogador a menos desde os 30 minutos do primeiro tempo, o Grêmio teve de adaptar a estratégia montada. A previsão era de que o time teria um rendimento parecido aos jogos como mandante, pela qualidade do gramado ser mais próxima ao do nível do piso da Arena.
— O futebol convencionou as análises a falar do copo vazio, que é o que repercute. Internamente, vou sempre falar do copo meio cheio. Faz parte. É o que vende, o que repercute. Internamente a gente discute de uma outra forma — disse Roger.
O empate em Chapecó trouxe o desfalque de Ferreira para as próximas três partidas na competição. O camisa 10 era avaliado como um dos poucos jogadores do grupo capaz de elevar o nível técnico da equipe. Mas com o problema muscular na coxa esquerda, o jogador estará afastado para tratar de lesão muscular nas partidas contra Guarani, Operário e CRB.
Confira o desempenho do Grêmio na comparação com os adversários da Série B:
Finalizações certas
- 96 (3º)
- 4.57 por jogo (6º)
Finalizações erradas
- 182 (7º com mais erros)
- 8,67 por jogo (10º)
Passes certos
- 6.397 (5º)
- 304.62 por jogo (7º)
- 87,53% de acerto (12º)
Passes errados
- 911 (2º com mais erros)
- 43,38 por jogo (3º)
Desarmes
- 306 (1º)
- 14.57 por jogo (2º)
Posse de bola
- 49,11% por jogo (15º)
Obs.: não leva em conta as estatísticas dos jogos de sexta-feira (29).