Alguns dos maiores exemplos de superação podem ser vistos em episódios esportivos. Por vezes, até parece impossível descrever como certas situações se concretizam. Mas as histórias de pessoas que lutam pela profissão nos provam, sim, que é possível sonhar e, mais do que isso, realizar.
Mesmo com apenas 19 anos, Claudia de Oliveira já sabe bem o que é isso. Até chegar ao Grêmio, em 2021, passou por diversas situações que quase fizeram com que ela desistisse do futebol.
Inicialmente, atuando como centroavante, pela altura de 1m87cm, ela viu a história mudar aos 16 anos, quando foi convocada pela professora do colégio em que estudava para atuar em outra posição em uma competição.
— Minha professora foi até o local onde eu trabalhava, pois a goleira que iria jogar se machucou. Ela queria que eu fosse para o gol. Eu respondi: você tá louca?! Era a última posição que eu pensava em jogar.
Mesmo com negativa inicial e sem nenhum conhecimento sobre a função, Claudia competiu. A atuação naquela edição do torneio Bom de Bola despertou o interesse de um time que estava montando uma equipe feminina, o Ouro Verde/Toledo.
Em um primeiro momento, houve contestação da mãe pela possibilidade da filha única precisar sair de casa. Ao lado do pai, Claudia insistiu para conhecer o local, que ficava a uma distância de três horas de Pérola D’ Oeste, onde a família morava.
— Quando eu fui para lá, eu não tinha noção sobre a posição. Foi graças à altura que eu consegui passar.
Por lá, permaneceu por dois anos. Por ser um time em formação, não havia grande estrutura. Claudia também não tinha um preparador de goleiras em tempo integral nos treinos.
— Eu entrava em campo sempre perdida, porque eu não sabia muito o que fazer. Não tinha noção, mas eu seguia.
Em 2020, veio a disputa por uma competição nacional: o Brasileirão Feminino sub-18. O Toledo terminou a primeira fase em terceiro da Chave A, que tinha Inter, Palmeiras e Bahia. A campanha de seis pontos não foi suficiente para avançar aos mata-matas.
— Nesse Brasileiro, em um jogo eu ia bem, no outro não. Não foi um desespero, mas a situação é que, por mais que quisesse tanto tanto jogar futebol, as coisas não davam certo.
A decisão de voltar para casa
No final daquele ano, veio a decisão de voltar para casa. Apesar do convite do clube para que ela retornasse novamente no início da temporada seguinte, Claudia já tinha em mente que era necessário buscar um novo rumo
— Eu pensei em não jogar mais, porque não estava dando certo e eu também não tinha ajuda. Eu não culpo o clube, era porque não tínhamos estrutura mesmo — conta.
O clube me convidou para retornar em janeiro do ano seguinte, mas, no primeiro momento, eu não queria. A pandemia de covid-19 que assolou o país também interrompeu as atividades do futebol. Já naquela situação, Claudia tomo a decisão de retornar ao seu antigo emprego em um supermercado.
Nome completo: Claudia Luana de Oliveira
Nascimento: 22/7/2022 (19 anos)
Altura: 1m87cm
Naturalidade: Pérola D'Oeste - PR
Nessa época, ela estava sendo assessorada por agência esportiva e buscava um novo clube. Logo no primeiro dia após o retorno ao emprego, veio um contato que mudaria seu destino novamente. Era um novo caminho para o gol.
—No primeiro dia que eu voltei a trabalhar, retornei pra casa triste, porque eu queria muito jogar. Quando eu olhei meu celular no horário do almoço, tinha uma mensagem da minha empresária. Ela tinha conseguido um teste no Grêmio. Nossa, eu chorei muito. Minha família é toda gremista. Na mesma hora, eu fui no mercado e me demiti de novo (risos).
Eu já tentei desistir, mas sempre tem alguém que me empurra. É pra ser, e eu não posso desistir.
CLAUDIA
goleira do Grêmio
A chegada ao Rio Grande do Sul
Claudia chegou ao Estádio Vieirão, em Gravataí, sede das Gurias Gremistas, para um período de testes na metade de 2021. Foram três meses de ambientação, treinos e, especialmente, a orientação com uma preparadora da posição, Sol Farias, que é a profissional do grupo Tricolor.
— A Sol acreditou muito em mim. Ela me pegou praticamente “crua”. Eu costumo falar que ela salvou meu futebol e me trouxe de volta. Eles me ajudam demais, acreditam em mim mais do que eu mesma, às vezes. Amo estar aqui.
Durante este mês de maio, Claudia escreveu mais um capítulo na sua trajetória profissional com o Grêmio. No dia 12, durante a partida contra o América-MG, pela disputa do Brasileirão Feminino, ela entrou em campo pela primeira vez em uma partida pelo clube. Foram 35 minutos na goleada por 6 a 0. Na rodada seguinte, diante do Coritiba, ganhou a inédita chance como titular. Esta foi novamente a construção de um passo de uma história que só quer caminhar em frente.
— Acho que todo mundo almeja chegar à Seleção, né. No momento, eu penso em evoluir ao máximo para poder ajudar minha equipe. A partir do momento que eu puder ajudar elas aqui, vai ser mais fácil o caminho até lá. Eu já tentei desistir, mas sempre tem alguém que me empurra. É pra ser, eu não posso desistir.