A partir deste sábado (30), o Grêmio conta um reforço chinês na sua campanha de retorno à Série A. Elkeson, 32 anos, naturalizado cidadão do país asiático e conhecido localmente por Ai Kesen, está liberado para fazer sua estreia na partida contra o CBR após um longo processo burocrático que confirmou a regularização do governo chinês para que ele pudesse trabalhar no Brasil.
Desde o início da carreira até a consolidação no Botafogo como centroavante, a busca pelo gol é descrita por pessoas ligada ao jogador como uma de suas obsessões. E os números comprovam essa fama. No total, entre todas os campeonatos que disputou na Ásia, fez 156 gols em 280 partidas — média de uma bola na rede a cada dois jogos. Números que o colocam como esperança para dividir a tarefa com Diego Souza no Grêmio na Série B.
Natural do Maranhão, Elkeson deu os primeiros passos nas categorias de base do Vitória. Antes mesmo da estreia como profissional, era apontado como aposta do clube. O Benfica comprou 50% dos direitos do jovem na expectativa de o levar para o futebol europeu, mas nunca exerceu essa opção. Começou no time principal em 2009 no Campeonato Baiano, com Vagner Mancini como técnico, mas só se afirmou na sequência da temporada.
A estreia de Elkeson no Brasileirão ocorreu justamente contra o seu atual clube. O jovem de 19 anos entrou durante o segundo tempo da partida válida pela 4ª rodada da competição de 2009, no Barradão. Ainda como meia, participou dos últimos 30 minutos da partida, vencida pelo Vitória com um golaço de Leandro Domingues em chute no ângulo de Marcelo Grohe nos acréscimos.
Na época, Elkeson atuava em uma função diferente da atual e que o levou até o posto de um dos maiores ídolos do futebol chinês. Era mais meia do que um atacante, mas já mostrava muitas das características que o levaram a ser adiantado para atuar dentro da área:
— Era um menino que já estava despontando, mereceu a chance. O Elkeson era um ponta de lança, não era um centroavante ainda. Tinha uma característica boa. Era rápido, inteligente e sabia chegar bem na área. Tinha fome por fazer gols — cita Paulo César Carpegiani, técnico do Vitória na época.
Comprado pelo Botafogo em 2011, o Elkeson teve uma rápida ascensão no cenário nacional. Chegou a ser convocado por Mano Menezes para a disputa do segundo jogo do Super Clássico das Américas no segundo semestre e alterou o seu posicionamento de forma mais efetiva. Após ser opção no meio e também para os lados do campo, virou centroavante, eventualmente atuando pelos lados. Um processo que aconteceu na busca de Oswaldo Oliveira para a ausência de Loco Abreu.
Após a perda do título Carioca para o Fluminense, o Botafogo realizou um período de treinos na Granja Comary antes de enfrentar o Corinthians, recém-campeão da Libertadores. Sem contar com o uruguaio, Oswaldo resolveu apostar em Elkeson em uma nova função. No jogo da entrega das faixas de campeão ao time paulista, o centroavante marcou dois gols na vitória por 3 a 1 e tomou conta da posição. Em alta, e com duas temporadas de sucesso no futebol carioca, foi vendido ao Guangzhou Evergrande para a temporada de 2013.
— Jogava comigo pelo lado, mas era um sacrifício danado. O biotipo dele não ajudava, chegava ao final da partida muito cansado. Mas era um menino com uma capacidade absurda de finalização. Muito rápido, um jogador inteligente. Era muito atrativo para ele fazer mudança. Queria fazer gols e aconteceu o que queríamos. Não durou muito, logo vieram os chineses e perdi meu centroavante — comentou Oswaldo.
Na China, Elkeson foi moldado inicialmente pelo trabalho da escola italiana de técnicos. Na sua chegada ao país asiático, conquistou logo em sua primeira temporada a Liga dos Campeões da Ásia. Também garantiu o bicampeonato da Super Liga Chinesa e foi o artilheiro da competição nos títulos com Marcello Lippi no comando do Guangzhou. O desempenho o rendeu o prêmio de melhor jogador da temporada 2014 da China. Antes de trocar o Guangzhou pelo Shanghai em 2016, em uma das maiores negociações da história do futebol local, ganhou mais uma vez o título nacional e a Liga dos Campeões da temporada de 2015.
Com as parcerias de Hulk e Oscar, comprado por 60 milhões de euros do Chelsea, Elkeson fez uma campanha discreta na nova casa. O time conquistou apenas uma vez a Super Liga chinesa, na temporada de 2019. Entre Guangzhou e Shanghai, virou o maior artilheiro da competição nacional com 122 gols feitos em nove edições do torneio.
— O Elkeson é muito importante no futebol chinês, fez o gol do título pelo Guangzhou em 2015, quando o Felipão chegou lá. Ele é muito parecido com o Diego Souza. Não é muito de se movimentar, mas é presente dentro da área. Sabe fazer gol como poucos. Foi o que eu vi quando estive na China. Ele teve muito bem lá. Foi naturalizado para jogar pelo país. O povo gosta muito dele — relembra Paulo Turra, que fez parte da comissão técnica de Felipão no Guangzhou entre 2015 e 2017.
Recontratado pelo Guangzhou em 2019, Elkeson completou o processo de naturalização chinesa e passou a defender a seleção do país. Fez 13 jogos, com quatro gols marcados pela China, e tem a expectativa de recuperar o seu melhor momento no Grêmio para voltar a ser convocado para a disputa da Copa da Ásia de 2023. Um objetivo revelado pelo próprio jogador em sua entrevista de apresentação no Grêmio. A sua história, em Porto Alegre, pode começar neste sábado.