Em 118 anos de história, o Grêmio foi rebaixado pela terceira vez para a Série B do Brasileirão. A campanha gremista no campeonato de pontos corridos desta temporada acabou com 43 pontos, na 17ª colocação, a três do Juventude, primeiro time que escapou da zona de rebaixamento.
A equipe teve três treinadores na competição. Começou com Tiago Nunes, demitido com apenas dois pontos. Buscou relembrar a história e os bons momentos com Felipão, trocado após a derrota para o Santos na Vila Belmiro. Finalizou o campeonato com Vagner Mancini, que até tentou, mas não conseguiu livrar o Tricolor da segunda divisão. Entre idas e vindas, o auxiliar Thiago Gomes foi interino em alguns jogos.
Antes da temporada de 2021, o time gaúcho já tinha sido rebaixado em 1991 e 2004, em ambas as oportunidades voltou à Série A no ano seguinte. GZH relembra como foram os rebaixamentos e as semelhanças com a queda deste ano. Confira:
1991
Na campanha do rebaixamento de 1991, o Grêmio disputou 19 jogos, com três vitórias, seis empates e dez derrotas. O time até começou o Campeonato Brasileiro daquele ano com o pé direito ao vencer o Goiás por 3 a 2, mas o balde de água fria veio logo na sequência com uma derrota para o Athletico-PR, fora de casa. A equipe ficou um bom tempo sem saber o que era uma vitória. Fábio Koff, então presidente do Conselho Deliberativo do clube, pedia reação ao Tricolor pela imprensa.
— A verdade é que tem que se reverter esta situação sob pena dos adversários perderem o respeito pelo Grêmio. O futebol funciona como um tobogã: o time perde tanto que os adversários passam a jogar de igual para igual: se tornam grandes — dizia à época.
Essa é uma das primeiras coincidências com o rebaixamento desta temporada. O Tricolor perdeu tanto a confiança com as seguidas derrotas que acabou se deixando levar por derrotas para o Sport, em casa, e o Atlético-GO, também no Olímpico.
Depois de oito jogos com apenas uma vitória, a opção foi por demitir o técnico Cláudio Duarte. Para o seu lugar, Dino Sani, campeão mundial como jogador em 1958, foi o escolhido, o que não surtiu efeito. O momento era conturbado entre time e torcida. Pelo mau desempenho, os torcedores cobravam de forma acintosa o elenco, que não era dos mais baratos, e a diretoria. Alberto Galia, então diretor de futebol, tinha sua saída exigida pelos coros vindos da arquibancada do Olímpico.
O Grêmio voltou a vencer (a segunda vitória) apenas na 13ª rodada — em 2021, conquistou o segundo triunfo na 15ª. Como forma de lotar o Olímpico, o clube diminuiu o preço dos ingressos para atrair os torcedores (em 2021, baixou para enfrentar o Juventude na Arena). A terceira vitória veio na penúltima rodada, um 3 a 0 contra o Vasco. O resultado fez o Tricolor depender apenas de um empate para permanecer na primeira divisão.
Nem isso foi suficiente para os gaúchos. O Botafogo, que fazia campanha mediana no Brasileirão, venceu por 3 a 1 no Caio Martins e rebaixou o Grêmio. A curiosidade dessa partida ficou por conta da não participação de Renato Portaluppi, então jogador do clube carioca. A versão oficial dá conta de que ele estava lesionado e, por isso, não enfrentou o clube que o revelou. Na zaga, porém, Hugo de León jogou contra seu ex-clube.
2004
O rebaixamento de 2004 pode começar a ser explicado pela temporada anterior, quando o Grêmio escapou da Série B na última rodada do Brasileirão, mas já vinha convivendo com problemas internos, dívidas e um time que nem perto parecia com aquele que tinha sido campeão da Copa do Brasil em 2001. Começar o ano na Série A já era um grande alívio para os torcedores gremistas.
Adilson Batista, técnico salvador no ano anterior, continuava à frente da equipe com um time bastante renovado, principalmente com jogadores formados nas categorias de base. Nomes importantes e experientes como Danrlei, Ânderson Lima, Roger, Gilberto, Gavião, Tinga e Caio deixaram o clube.
Só que a temporada mostrou que o Grêmio não havia aprendido com os erros do ano anterior. O Tricolor parou nas semifinais do Gauchão ao ser derrotado pela Ulbra. Na Copa do Brasil, foi até as quartas de final. Mas, no Brasileirão, amargou a lanterna da competição, chegando a ficar até 10 jogos sem vencer (sequência quebrada na 32ª rodada). Além dos resultados ruins dentro de campo (como também se vê em 2021), o Tricolor convivia com um extracampo talvez até pior.
Não foram poucos os relatos de atos de indisciplina. Somado a isso, o clube seguia enfrentando problemas financeiros, com salários atrasados (algo bem diferente do panorama de 2021, momento que o clube vive superávit).
Em entrevista ao ge.globo, o então técnico da equipe Cláudio Duarte, no fatídico dia do rebaixamento, contextualizou o momento que foi vivido pelo Grêmio à época. Claudião foi o quarto treinador a comandar o Tricolor naquela competição — antes, Adilson Batista, José Luiz Plein e Cuca tentaram salvar a equipe.
— A cada rodada, surgiam novos problemas, dificuldades de comportamento, conduta, você tinha de tudo. Eu já peguei barra pesada, mas a diversificação de pesadelos. Era um pesadelo de cada tipo. Havia um clima de impunidade pairando no ar, salários atrasado. Tudo reflete no campo, não adianta, são elementos comuns a qualquer grande clube em queda — relatou Claudião.
Mais uma coincidência que liga 2004 a 2021 é a questão da punição do Grêmio pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) — fato que também ocorreu nesta temporada. Naquele ano, o clube perdeu mandos de campo, enquanto que nesta temporada o Grêmio perdeu o direito de ter torcida também fora de casa pela invasão dos torcedores no gramado da Arena após a derrota para o Palmeiras. O clube atuou três jogos sem torcida na Arena e teve cinco partidas fora de casa sem a presença de torcida. A punição pós-julgamento foi de liberação de torcida, mas com a arquibancada norte fechada, além de multa em dinheiro.
Em 2004, o Tricolor, em três julgamentos, perdeu o mando em cinco jogos. Cumpriu três ainda na Série A e mais dois na Série B, quando atuou contra Avaí e Ituano no Beira-Rio. Em um desses jogos jogando longe do Olímpico, à época, o time gaúcho foi rebaixado para a Segunda Divisão.
Atuando em Erechim, contra o Athletico-PR, saiu perdendo por 3 a 0, mas buscou o empate em 3 a 3, com gols de Baloy, Roberto Santos e Claudio Pitbull. Mas nem isso foi suficiente para impedir o rebaixamento. Ao final da 46ª rodada, o Grêmio caiu como lanterna, com 39 pontos. Primeiro time fora da zona de rebaixamento, o Botafogo somou 51.