A confirmação do rebaixamento do Grêmio para a Série B acende o alerta para as finanças do clube na próxima temporada. Isso porque a arrecadação pode diminuir substancialmente, especialmente nos direitos de transmissão. A receita do Tricolor pode ter uma queda de mais de R$ 80 milhões somando o repasse da TV, uma possível diminuição no quadro social e a ausência de premiações pelas participações nas competições continentais.
Detalhando cada uma das perdas que o Grêmio poderá sofrer, a maior delas é relativa ao repasse pelos direitos de transmissão da TV. Na Série A, os clubes ganham uma cota pelos assinantes do pay-per-view, outra pelo número de jogos exibidos em TV aberta e canais por assinatura, e a premiação pelo desempenho, repassada aos 16 clubes que se mantiverem na Primeira Divisão — na temporada passada, por exemplo, com o sexto lugar no Brasileirão, o Tricolor recebeu R$ 24,7 milhões de premiação.
Na Série B, porém, desde 2019 os clubes têm de optar por receber o valor do pay-per-view ou a cota fixa de TV, que neste ano foi de cerca de R$ 8 milhões para cada equipe — antigamente, recebiam a cota inteira da TV, igual ao que ganham na Primeira Divisão. Agora, no entanto, é preciso escolher. No caso do Grêmio, por ter uma grande torcida, a opção natural é pela receita do pay-per-view, o que pode render aproximadamente R$ 40 milhões ao clube. Foi o que fizeram neste ano o Vasco e o Cruzeiro, por exemplo.
Como na Primeira Divisão esse valor fica próximo de R$ 100 milhões, só com o repasse referente aos direitos de transmissão haverá uma queda de receita na casa dos R$ 60 milhões.
— A maior perda mesmo é a de direitos de transmissão. O Grêmio, por ter essa cota alta de pay-per-view, acaba largando muito na frente dos outros rivais da Série B. E, historicamente, não há quedas violentas de assinatura com rebaixamentos, até porque esses torcedores que assinam o Premiere são aqueles mais aficionados, que dificilmente vão deixar de acompanhar o clube por estar na Segunda Divisão — diz o economista Fernando Ferreira, da Pluri Consultoria.
Além disso, Ferreira explica que, em média, os clubes grandes ao serem rebaixados perdem em torno de 20% da receita com o quadro social e bilheteria. Como não houve a presença de público na maior parte do campeonato deste ano, o que arrecadar de ingressos será um ganho para o Grêmio na Série B. Os valores com associados, no entanto, podem diminuir.
Sendo assim, se levarmos em conta essa queda de 20% que costuma ocorrer, os R$ 71 milhões arrecadados em 2020, conforme o último balanço financeiro divulgado pelo clube, passaria para cerca de R$ 56 milhões, uma queda de R$ 14 milhões.
Há, ainda, as premiações. Como não disputará nenhuma competição continental por conta do rebaixamento, nem mesmo os valores das fases iniciais serão recebidos. Em 2021, o Grêmio somou cerca de R$ 5,7 milhões pelas etapas preliminares da Libertadores, mais R$ 7,7 milhões pelas fases de grupos e de oitavas de final da Sul-Americana. Assim, serão mais de R$ 13 milhões que não entraram em caixa.
Somadas todas essas quantias que podem deixar de ser arrecadadas, considerando os R$ 60 milhões de direitos de transmissão, mais os R$ 14 milhões no quadro social e R$ 13 milhões em premiações, a perda de receita pode superar os R$ 80 milhões. Fernando Ferreira alerta, ainda, que há outros prejuízos a serem considerados, mas nada que possa impactar de forma tão negativa.
— Os patrocinadores é preciso olhar contrato a contrato se há cláusula de diminuição automática nos valores em caso de rebaixamento. A vitrine dos jogadores para venda também diminui, mas no primeiro ano na Série B isso ainda é bem controlável, ainda mais para um clube com grife como o Grêmio. É importante dizer para o torcedor que, quando se cai para a Série B, a receita não desaparece. Mas tem um impacto, é lógico. Principalmente porque a exposição é menor — ressalta o economista da Pluri Consultoria.
É preciso pensar, ainda, na montagem do grupo para a disputa da Série B. Novos jogadores chegarão e outros tantos devem sair — muitos, com contratos sendo rescindidos e tendo que receber indenizações. Historicamente, quando a equipe é rebaixada, diversos atletas são emprestados, mas com o time tendo de arcar com parte dos salários. Tudo isso também terá de ser levado em conta pelo Grêmio — e pela torcida — na próxima temporada. Com menos receita, a equação fica ainda mais complicada. Hoje, a folha salarial da equipe é de aproximadamente R$ 14 milhões, e terá de ser diminuída para 2022.