O cargo de vice-presidente de futebol do Grêmio não ficou vago por muito tempo. Assim que Marcos Herrmann pediu desligamento, após a derrota para o Fortaleza, na noite desta quarta-feira (13), o presidente Romildo Bolzan Júnior passou a discutir com seus pares a quem entregaria a chave do vestiário da Arena.
Por conta do mau momento da equipe, que tenta deixar a zona de rebaixamento desde o início do Brasileirão, a direção recorreu a um nome do passado vitorioso do clube, oficializando convite a Dênis Abrahão, que prontamente aceitou.
Formado em Administração de Empresas pela PUCRS, no final dos anos 1970, o conselheiro gremista pode não ser uma figura conhecida para o torcedor mais jovem, mas convive nos bastidores do clube há pelo menos 30 anos.
— Fui eu quem levou ele para o Grêmio, em 1990. Eu era o vice de administração, ele era o diretor de administração. Fui para o futebol e pedi para ele assumir a vice-presidência de administração. Ficou lá nos quatro anos em que eu fiquei no futebol e mais os dois em que eu fui presidente. Conhece bem o Grêmio e me ajudou muito— conta Luís Carlos Silveira Martins, o Cacalo.
Portanto, Abrahão era figura importante no Estádio Olímpico quando o Grêmio, na segunda gestão de Fábio Koff, empilhou títulos sob o comando de Felipão. Naquele período, inclusive, ficou conhecido por conceder entrevistas alfinetando o arquirrival Inter.
— Romildo está dando uma demonstração de grandeza trazendo alguém que não faz parte do dia-a-dia do clube, para aproveitar a competência do Dênis — comenta Cacalo. — É um cara que vai ser dirigente dedicado exclusivamente ao clube, deixando de lado qualquer participação paralela de política. Penso que vai enfrentar os eventuais problemas de frente, cara a cara e olho no olho. É uma das virtudes necessárias para dirigir o futebol. Sempre agi assim. O mais importante é manter uma atitude de respeito com os atletas profissionais e saber dizer não. O atleta tem que saber quem manda e decide. E o Dênis sabe agir assim — conclui.
Primeiro executivo
A passagem vitoriosa na gestão Koff fez com que seu nome fosse escolhido como o primeiro dirigente remunerado para ocupar o departamento de futebol na história do clube.
— Foi a primeira experiência de executivo profissional no clube — recorda Antônio Vicente Martins, que ocupava o cargo de vice de futebol — A escolha do nome dele passou muito pelo (José Alberto) Guerreiro, que era o presidente na época. O Dênis já tinha trabalhado com ele como executivo em alguma empresa, e foi feita esta escolha, unindo um cara que tinha perfil de ser um executivo empresarial, mas também tinha a experiência dentro do vestiário — analisa.
Era dezembro de 1999 e Dênis Abrahão recebeu a missão de montar o time do ano seguinte, que teria o investimento da empresa suíça International Sport and Leisure (ISL). Foram contratados jogadores de renome, como o meia Zinho e os argentinos Amato e Astrada.
Na primeira temporada, as coisas não se desenvolveram conforme o imaginado, nem fora e nem dentro de campo. Com a falência da multinacional, o clube afundou em dívidas. Ainda assim, com a contratação do técnico Tite, o Tricolor conquistou o Gauchão e a Copa do Brasil de 2001, chegando à semifinal da Libertadores de 2002. Ao final daquele ano, o dirigente deixou o cargo.
— A gente trabalhou juntos durante todo o ano de 2000. Foi bem turbulento e o pós 2000 foi ainda mais turbulento, porque foi o período da ruptura de contrato com a ISL. Acho que o Dênis é um cara muito leal. Eu tinha o cargo político, e ele tinha o cargo de executar mesmo as coisas. Então, a gente discutia, decidia as operações e ele fazia as execuções. É uma pessoa que passou por várias gestões do clube, e acho que pode desempenhar bem esse papel de ligação entre a política, o Conselho de Administração e o vestiário. Conhece bem o ambiente para entrar neste momento de crise — conclui Vicente Martins.