Os problemas enfrentados na semana passada com os casos de covid-19 e a dificuldade na preparação somado ao fato de ter ficado com dez homens desde os 13 minutos do segundo tempo fizeram com que a derrota de 2 a 1 para o Independiente del Valle, no Paraguai, não fosse tratada como um resultado ruim para o Grêmio.
No entanto, o Tricolor entrará em campo na Arena nesta quarta-feira (14) com a obrigação da vitória para avançar à fase de grupos da Libertadores. Esse cenário forçará a equipe de Renato Portaluppi a ter uma postura ofensiva, um desafio para um time que tem encontrado dificuldade para propor o jogo em partidas decisivas desde a última temporada.
O Grêmio que se notabilizou nas grandes conquistas de 2016, 2017 e 2018 por ser um time de alta posse de bola, de muitas trocas de passes e de empurrar os adversários para o campo de defesa vem mudando sua forma de jogar nos últimos anos. Isso ficou mais evidente desde a temporada passada, quando os melhores resultados em grandes jogos foram conquistados com a equipe assumindo uma postura reativa.
O mais emblemático deles talvez tenham sido o confronto com o São Paulo na semifinal da Copa do Brasil, quando o Tricolor teve 31% de posse de bola na vitória de 1 a 0, na Arena, e repetiu esse percentual na volta, no Morumbi, segurando o 0 a 0 sem permitir nenhuma grande chance de gol para os paulistas.
Estratégia parecida foi adotada com sucesso nos clássicos contra o Inter de Eduardo Coudet, em 2020, e de Miguel Ángel Ramírez, no começo deste mês, dois treinadores adeptos de um jogo ofensivo e de presença no campo de ataque. Foram cinco vitórias em Gre-Nais sempre com o Grêmio adotando uma postura de conter o rival tendo menos a bola e atuando na base de transições ou forçando erros do adversário.
No último, por exemplo, vencido com o gol de Leo Chú nos minutos finais, o Grêmio teve apenas 31% de posse de bola, igualando o menor percentual da Era Renato na Arena, que havia sido naquela vitória também por 1 a 0 sobre o São Paulo na semifinal da Copa do Brasil. Curiosamente a única derrota para o Inter no período aconteceu no Brasileirão, quando o time de Abel Braga virou nos minutos finais tendo menos a bola que o Tricolor.
Para o comentarista dos canais Globo Paulo Vinicius Coelho, o PVC, o problema que tem impedido o Grêmio de ser uma equipe mais criativa com a posse passa pelo meio-campo.
— O Grêmio está há um tempo tentando encontrar uma solução para o seu meio-campo. Sem acreditar no Jean Pyerre e sem ter o Maicon em forma, não consegue ter uma equipe que construa o jogo como já construiu. Não dá para dizer que o Renato tem uma deficiência para montar times assim porque o Grêmio fazia isso em 2016, 2017 e 2018. A questão é quem cria no time do Grêmio? O Alisson até se aproxima do Diego Souza, mas não é esse homem e o Pinares não se afirmou. O Grêmio joga pelos lados, mas não tem retenção e organização pelo meio-campo — observa.
Essa dificuldade para obter resultados quando precisou propor em grandes jogos se confirmou na eliminação para o Santos na Libertadores e na final da Copa do Brasil contra o Palmeiras. Em ambos confrontos, a primeira partida foi disputada na Arena com o Tricolor tendo altos índices de posse, mas sem sucesso para superar os rivais. Fora de casa, precisando desfazer as vantagens paulistas, novamente o Grêmio teve mais a bola sem encontrar soluções ofensivas.
O analista tático e comentarista do DAZN Gustavo Fogaça acredita que a mudança se deu porque Renato vem se sentindo mais cômodo quando monta o time para jogar de forma reativa.
— O Grêmio tinha uma ideia muito clara para criar chances com a bola, tendo muita mobilidade na entrelinha e movimentações para criar espaços. Era uma metodologia que vinha do treino para o jogo. Isso desde o Roger Machado. O Renato chegou, corrigiu algumas coisas, mas não mudou o modelo de jogo. Só que nos últimos anos não houve uma evolução do modelo. Quando um time é tão reativo está dizendo “eu não quero ser protagonista”. Quando você tem a bola, tenta dominar o tempo do jogo e se impor — avalia.
Como chegar à vitória
Apesar de ter vencido por 2 a 1 na última sexta-feira, o Independiente del Valle mostrou no Defensores del Chaco alguns dos problemas defensivos que vem enfrentando desde o começo da temporada: na bola aérea e na transição defensiva. Foi em uma cabeçada após cobrança de falta que Diego Souza abriu o placar em Assunção. O gol mal anulado de Ferreira teve origem em uma roubada de bola que o fez o Grêmio chegar à área equatoriana com a defesa adversária desarrumada.
Até o momento, o Del Valle sofreu 14 gols em 10 partidas em 2021, uma média de 1,4 por jogo. Desses 14, nove foram a partir de bolas roubadas pelos adversários que geraram contra-ataques (seis) ou em jogadas de bola aérea (três).
Por conta disso, Gustavo Fogaça acredita que um bom caminho para o Grêmio encarar o Del Valle é apostar em uma marcação parecida com a feita no último Gre-Nal tentando levar vantagem nos duelos individuais a partir de uma pressão alta.
— Vejo dois recursos para o Grêmio. O primeiro é ter muita intensidade nos encaixes individuais, marcação homem a homem e alto, como foi feito no Gre-Nal. Tentar ganhar no físico e não deixar que o Del Valle jogue. Outro é apostar muito nas bolas paradas. Treinar bastante escanteios e faltas laterais para tentar buscar a vitória na bola parada — projeta.
PVC faz o alerta de que o Grêmio precisa ter calma no início do jogo. O comentarista vê como terminante que o Tricolor não sofra gol na Arena.
— O Grêmio não precisa ser mais ousado no início do jogo, tem que ser organizado. Não adianta você ter um time de louco indo para cima porque o Del Valle vai circular a bola e achará o espaço. O Grêmio tem a desvantagem, mas pode classificar se ganhar de 1 a 0. Não estou dizendo para o Grêmio marcar atrás e sair no contra-ataque, mas ter organização. Tem que tentar chegar a esse gol de forma organizada — analisa.
Nesta quarta-feira será preciso que o Grêmio supere os problemas recentes para obter a classificação para a fase de grupos da Libertadores, o que permitirá a Renato tempo para fazer o time recuperar o melhor desempenho e ainda poder almejar a conquista do tetra da América.
Jogos importantes recentes do Grêmio na Arena:
Grêmio 1 x 1 Santos - Quartas de final da Libertadores 2020, ida
- Posse de bola: 63% x 37%
- Finalizações: 11 x 13
- Finalizações no gol: 4 x 5
- Passes do Grêmio: 488
Grêmio 1 x 0 São Paulo - Semifinal da Copa do Brasil 2020, ida
- Posse de bola: 31% x 69%
- Finalizações: 2 x 11
- Finalizações no gol: 1 x 3
- Passes do Grêmio: 250
Grêmio 0 x 1 Palmeiras - Final da Copa do Brasil 2020, ida
- Posse de bola: 67% x 33%
- Finalizações: 15 x 9
- Finalizações no gol: 3 x 2
- Passes do Grêmio: 595
Grêmio 1 x 0 Inter - Gauchão 2021, 9ª rodada
- Posse de bola: 31% x 69%
- Finalizações:10 x 9
- Finalizações no gol: 2 x 2
- Passes do Grêmio: 271
Fonte: SofaScore