Nesta semana, GaúchaZH ouve treinadores que passaram pela dupla Gre-Nal neste século para relembrar histórias de bastidores de suas passagens por Porto Alegre e saber mais sobre a continuidade de suas carreiras.
Campeão da Libertadores em 1995 como atleta, Vagner Mancini voltou ao Grêmio em 2008, mas desta vez como treinador. Jovem na profissão, trazia no currículo a recente conquista da Copa do Brasil com o Paulista, de Jundiaí. Porém, sua estadia em Porto Alegre durou pouco mais de um mês, deixando o cargo sem ter perdido uma única partida — foi substituído por Celso Roth.
Mais de 12 anos depois, Mancini aceitou falar com GaúchaZH para relembrar o motivo que o levou a ter uma passagem tão curta pelo Estádio Olímpico. De Ribeirão Preto, onde vive com a família o período de pandemia de coronavírus, o treinador comentou também a pequena mudança que adotou em sua carreira, quando atuou como coordenador de futebol no São Paulo.
Seu último trabalho foi como técnico no Atlético-MG. Teve proposta de algum clube antes da pandemia?
Eu tive alguns contatos após a saída do Atlético-MG, no início do ano, e tive outro contato em março. Mas achei que não era o momento certo. O cargo de treinador requer inteligência para escolher o momento certo, e acho que tomei a decisão correta, porque em seguida veio a pandemia e o cenário se modificou. Mas torcemos para que o futebol possa, assim como a nossa vida, voltar ao normal rapidamente. E aí, com calma, vamos ver o que fazer. Penso que o cenário do futebol vai sofrer mudanças, com os clubes dando um pouco mais de valor a um perfil diferente de treinador, mais agregador. Talvez muita gente perca o emprego, infelizmente, mas espero que ao longo do tempo possamos retornar de uma forma mais humana, solidária, entendendo o que a pandemia nos mostrou: que não adianta ter bens e dinheiro no banco, porque todo mundo é igual.
Nos encontramos outras vezes. Não tenho nada contra o Pelaipe. Volto a dizer: foi um choque de ideias que acontece no futebol e temos que saber administrar
VAGNER MANCINI
técnico do Grêmio em 2008
Você teve uma passagem muito curta como técnico do Grêmio em 2008. O que aconteceu?
Eu fui atleta do Grêmio, fui campeão da Libertadores e sei muito bem como a torcida gosta que o time se comporte. O que aconteceu foi um atrito com o diretor da época, o Paulo Pelaipe. Não nos entendemos. Por eu ser um jovem treinador naquela época, ele queria que eu abaixasse a cabeça, e eu achei que não devia fazer isso, pois seria um marco na minha carreira. Isso acabou na minha demissão. Óbvio que ele tinha que justificar algo, e ele falou que eu não tinha o perfil do Grêmio. Mas, na minha mão, o time estava invicto, era início de ano. Enfim, já se passou muito tempo. O mais importante é aprender com o que acontece, e isso foi uma lição para mim. Vivi outros momentos, alguns semelhantes a esse, e aprendi.
Você e o Paulo Pelaipe chegaram a se encontrar depois deste incidente?
Nos encontramos, sim, mas hoje não temos nada. Aconteceu um choque de ideias na época. Achei que, em uma determinada situação, ele passou do limite dele e entrou no meu campo. Mas nos encontramos em um jogo entre Grêmio e Ceará, lá no Estádio Presidente Vargas, acho que em 2012, e conversamos. Ao longo tempo, nos encontramos outras vezes. Não tenho nada contra o Pelaipe. Volto a dizer: foi um choque de ideias que acontece no futebol e temos que saber administrar.
Você tem o desejo de voltar ao Grêmio algum dia?
É lógico que tenho. O Grêmio é um gigante do nosso futebol. O Renato faz um trabalho espetacular, torcemos por ele e espero que fique aí bastante tempo. Mas qualquer profissional quer vestir a camisa do Grêmio, porque é um clube que sempre chega com muita força para ganhar tudo o que disputa.
Você foi dirigente no São Paulo recentemente. Voltaria a trabalhar nesta função?
O São Paulo me abriu as portas como coordenador de futebol. Tive a oportunidade de vivenciar coisas que, normalmente, um técnico não vivencia. Por mais que se queira saber dos bastidores do clube, o técnico está no campo, enquanto as demais pessoas estão na diretoria escutando o que acontece durante as partidas e no dia a dia. A função de coordenador é muito importante, porque a pessoa que está ali funciona como um elo entre a diretoria e treinador. E, às vezes, como citei em 2008, com o Pelaipe, acaba tendo algum tipo de atrito. Então, é importante ter esse profissional. O fato de eu ter sido jogador e treinador acaba facilitando no convívio com o cara que está à frente da parte técnica. Vejo como uma função muito interessante, gostei de ter feito, mas prefiro estar no campo. Decidi que não vou ficar de um lado para o outro. Vou direcionar minha visão e meu estudo para ser treinador. Por isso, aceitei o convite do Atlético-MG ao término do ano. Foram apenas 90 dias de contrato para mostrar ao mercado que minha função é treinador.