Nesta semana, GaúchaZH ouve treinadores que passaram pela dupla Gre-Nal neste século para relembrar histórias de bastidores de suas passagens por Porto Alegre e saber mais sobre a continuidade de suas carreiras.
Ao longo de 2004, ano em que amargou seu segundo rebaixamento, o Grêmio teve quatro treinadores. Um deles foi o gaúcho José Luiz Plein, contratado graças aos bons trabalhos feitos por clubes do Interior.
A passagem do técnico pelo Estádio Olímpico, entretanto, durou apenas quatro meses. A carreira também chegaria ao fim logo em seguida, quando ele passou a se dedicar à vida pública, chegando a ser secretário de Esportes da gestão de José Ivo Sartori em Caxias do Sul — atualmente, é diretor na pasta.
Aos 69 anos de idade, morando na Serra até hoje, Plein atendeu GaúchaZH, revelou ser gremista de coração e falou sobre aquele período conturbado que viveu há 16 anos.
Como avalia sua passagem como técnico do Grêmio?
Minha carreira teve um divisor de águas, que foi quando saí do Grêmio. Eu tinha feito bons trabalhos no Juventude e Glória de Vacaria, quando fui convidado para trabalhar no Grêmio em 2004. Eu já tinha uma relação com o clube, porque havia sido jogador em 1980 e 1981, sendo campeão gaúcho e brasileiro. Hoje percebo que, se eu tivesse continuado, talvez o Grêmio não tivesse caído. Mas eu estava com vergonha da situação e, pela relação de respeito que tinha com o clube, não queria que o Grêmio caísse comigo. Isso fez com que eu pedisse demissão precipitadamente, hoje percebo. Mas não fico lamentando, pois tudo que consegui foi através do futebol. Posteriormente, não tive um trabalho que pudesse dar continuidade, até que disse: "Chega. Vou cuidar da minha família e das coisas que tenho".
Hoje percebo que, se eu tivesse continuado, talvez o Grêmio não tivesse caído. Mas eu estava com vergonha da situação e, pela relação de respeito que tinha com o clube, não queria que o Grêmio caísse comigo.
JOSÉ LUIZ PLEIN
Técnico do Grêmio em 2004
Você acha que o time do Grêmio de 2004 era ruim? Tinha alguns jogadores como Christian, Felipe Melo, Michel Bastos e outros que fizeram sucesso em outros clubes.
Não era um mau time. Quando assumi, pedi à direção que mandasse embora 10 jogadores que estavam atrapalhando o grupo. Não vou citar nomes, mas a direção disse que ia afastar. Também pedi a contratação de dois jogadores. Um deles se chamava Fred, era um menino que estava no América-MG, e que depois veio a ser o Fred que conhecemos, da Seleção Brasileira. O outro era o Arango, meia-esquerda da seleção venezuelana. Não estou justificando, mas outros jogadores foram trazidos. E eu vi uma entrevista do Felipe Melo depois, admitindo que não foi profissional na época do Grêmio e que aprendeu isso jogando no Exterior. Ele sempre foi um bom jogador, mas não estava em um momento bom como profissional e pessoa. Não quero me justificar, mas aconteceram coisas que atrapalharam essa trajetória. Quando pedi demissão, depois de uma derrota para o Botafogo, no Rio de Janeiro, falei primeiro para vocês da imprensa: "Estou saindo porque não estou feliz e não estou fazendo as pessoas felizes". Eu estava com vergonha. Depois, no hotel, os jogadores e os dirigentes foram ao meu quarto, mas eu, alemão teimoso, disse que sairia. Talvez minha carreira fosse outra se eu tivesse aceitado o apelo deles. Mas hoje estou bem, trabalho na Secretaria de Esportes como diretor, estou bem comigo mesmo, e isso é o mais importante.
Qual foi seu último trabalho como treinador?
Em 2007, no Guarani de Venâncio Aires. Antes, tive um trabalho muito curto no Criciúma também. Depois, não tive mais nenhum convite, até porque nunca tive empresário, e talvez isso tenha me atrapalhado. Se eu tivesse empresário, estaria treinando até hoje. Sempre fui muito observador. Em 2002, eu já aplicava no juvenil do Juventude o 4-2-3-1. Descobri isso assistindo aos jogos da Europa. Ninguém fazia isso no Brasil. Teve um jogo, em 2003, que um empresário italiano perguntou ao presidente do Juventude se o treinador era estrangeiro. Nunca fiz curso, sou professor de Educação Física, mas sou muito observador, e isso me ajudou bastante. Mas sou muito perfeccionista também, e quando as coisas não acontecem como imagino, eu me cobro muito. Prefiro ser assim, mas talvez seja por isso que não tenha seguido minha carreira de treinador.
Hoje, você acompanha os jogos do Grêmio? Tem o Grêmio como seu clube do coração?
Acompanho bastante o Grêmio, sim. Tive o prazer de jogar e torço pelo Grêmio, até porque, no início da minha carreira, acompanhei o surgimento do Renato, junto com todos aqueles outros jogadores como China, Paulo Roberto, Baidek. E torço pelo Grêmio muito em função dele (Renato), que todos diziam que era louco, mas eu falava: "Esse cara é bom e vai virar um grande jogador". E, de fato, foi. Então, torço pelo Grêmio, com certeza.