O Grêmio comemora nesta segunda-feira (11) os 40 anos do seu título mundial. E uma das polêmicas envolve a legitimidade da conquista tricolor em 1983.
Qualquer gaúcho, torcedor da dupla Gre-Nal, já entrou em alguma discussão sobre a validade ou não do título conquistado pelo Grêmio em Tóquio. Os gremistas estufam o peito, orgulhosos, para dizer que foram os primeiros gaúchos campeões mundiais. Os colorados, por sua vez, alegam que o torneio não era chancelado pela Fifa e, por isso, não se tratava do Mundial de Clubes. E assim o debate se estende por décadas, das arquibancadas às mesas de bar.
Copa Europeia/Sul-Americana
Desde muito tempo, clubes europeus e sul-americanos já organizavam competições entre si e se autoproclamavam campeões mundiais. O Palmeiras, por exemplo, reivindica para si o título da Copa Rio de 1951, quando venceu a Juventus, da Itália, na final. Mas como considerar um campeão da América se a Libertadores só passou a existir na década seguinte?
Portanto, a partir da criação do torneio sul-americano, em 1960, é que Conmebol e Uefa decidiram pela gênese do enfrentamento entre dois continentes. Por isso, passou a ser chamada como Copa Intercontinental, mas seu nome de batismo verdadeiro era "Coupe Européenne-Sud-américaine" (Copa Europeia Sul-Americana, em francês), o que inclusive está na taça. O campeão era validado após dois confrontos, um em cada continente, tendo o Real Madrid vencido o Peñarol na edição inicial.
Em 1962 e 1963, foi a vez do Santos de Pelé levar o troféu e, por conta disso, colocar duas estrelas em cima de seu escudo, proclamando-se e sendo reconhecido como bicampeão mundial.
Este formato de ida e volta perdurou até 1979, quando, após inúmeros incidentes de violência em solo sul-americano e desistência de alguns europeus, a competição ganhou outro formato.
Copa Toyota
Em 1980, o torneio teve seus direitos comprados pela montadora de carros japonesa que, além de emprestar seu nome à competição, confeccionou uma nova taça e levou a decisão para Tóquio. Assim, os campeões continentais passariam a se enfrentar em uma partida única. O primeiro vencedor foi o Nacional-URU, que superou o inglês Nottingham Forest por 1 a 0. No ano seguinte, foi a vez do Flamengo, de Zico, atropelar o Liverpool e ser proclamado por toda a imprensa nacional como o primeiro clube brasileiro a alcançar este feito em terras nipônicas.
Eis que, em 1983, o Grêmio chegou à disputa contra o Hamburgo, da Alemanha. Após a vitória, o time recebeu os dois troféus: Copa Europeia/Sul-Americana e Copa Toyota. E, embora se diga que os europeus minimizassem o torneio àquela época, o jornal Hamburger Abendblatt do dia 12 de dezembro diz exatamente o contrário em sua manchete: "Somos apenas uma sombra de outrora. Copa do Mundo em Tóquio: exausto, HSV perde por 2 a 1 para o Grêmio de Porto Alegre". Ou seja, a imprensa alemã considerava, sim, aquele torneio como a "Copa do Mundo" dos clubes.
— Falei com Jakobs (zagueiro) e com o Magath (meia). Eles têm o mesmo sentimento que eu. Ainda se mostram decepcionados com a derrota. Passados quase 30 anos, parece que ficamos cada vez mais desapontados, porque agora, como ex-jogadores, não temos mais a chance de disputar uma final como aquela — declarou o lateral-esquerdo do Hamburgo, Bernd Wehmeyer, em entrevista exclusiva a Zero Hora em 2012.
Reconhecimento da Fifa
No início de 2000, a Fifa resolveu tomar conta do projeto. Organizou no Brasil a primeira edição de um torneio envolvendo todos os campeões continentais — incluindo América Central e do Norte, África, Oceania e Ásia. Também participava o campeão do país-sede. Assim, Corinthians e Vasco disputaram a decisão, com os paulistas levando a melhor e um novo troféu (que é entregue até hoje). O problema é que, ao final daquele mesmo ano, no Japão, o Boca Juniors superou o Real Madrid e ficou com a Copa Toyota. Além disso, a Fifa só voltaria a repetir sua competição em 2005 e, neste intermeio, sul-americanos e europeus seguiram se enfrentando em jogo único na capital japonesa.
Para acirrar ainda mais o debate (principalmente em Porto Alegre), às vésperas do duelo entre Inter e Barcelona, em 2006, o então presidente da Fifa, Joseph Blatter, deu a seguinte declaração:
— Nos livros da Fifa, o Corinthians é o primeiro campeão do mundo. Tivemos alguns problemas, o torneio ficou um tempo sem ser disputado, mas podem ter certeza de que consideramos o Corinthians como primeiro campeão mundial.
Definição da Fifa
Por fim, em outubro de 2017, a entidade máxima do futebol atendeu a um pedido da Conmebol e chancelou os vencedores de 1960 até 2004 como campeões mundiais.