Nesta terça-feira (11), o Grêmio comemora mais um aniversário do maior feito de sua história. Há 35 anos, o Tricolor batia o Hamburgo, em Tóquio, e se sagrava campeão mundial. Esta história, qualquer gremista conhece – tenha acompanhado o jogo pelo rádio ou pela TV à época ou visto fotos e ouvido histórias. O que poucos realmente sabem é que o clube levou exatamente uma década para formar a equipe vitoriosa. GaúchaZH remonta, por meio de uma linha do tempo, a contratação dos 13 jogadores que atuaram naquela partida épica do outro lado do mundo.
1973: Tarciso
O ano era 1973. Contratado pelo Grêmio, Tarciso chegava com a credencial de, meses antes, ter marcado o gol da vitória do América-RJ sobre o Inter pelo Brasileirão de 1972. Ser campeão do mundo era um sonho para lá de distante. Até então, somente o Santos de Pelé havia alcançado este feito entre brasileiros. Para o Grêmio, era utopia total. O objetivo àquela altura era simplesmente romper com a hegemonia estadual do rival.
— Não aguento mais perder para o Internacional — disse o atacante após perder o Gauchão de 1975, o sétimo consecutivo do Colorado.
Mas Tarciso foi persistente. Seguiu na equipe, ajudou na conquista estadual de 1977 e, em 1981, deu voos maiores. Como ponteiro-direito, foi titular na conquista do Brasileirão. Dois anos depois, acabou perdendo a camisa 7 para um garoto chamado Renato (11 anos mais novo), que emergia das categorias de base. Foi deslocado da ponta direita para a esquerda e, posteriormente, virou centroavante contra os alemães do Hamburgo. Tinha 32 anos na decisão.
1979: Renato
O ano de 1979 ficou marcado como o ano em que o Inter conquistou o Brasileirão de maneira invicta. Era o terceiro título nacional dos colorados. Restava ao Grêmio se consolar com o Gauchão. Mas, mais importante do que isso, surgia no Esportivo, de Bento Gonçalves, um ponteiro-direito de 17 anos. Insinuante dentro de campo, não conseguia se firmar no time principal devido às brigas e confusões que arranjava fora dele. Apesar das broncas com o técnico Ênio Andrade, em 1982, atuou no jogo decisivo contra o Flamengo, que culminou com o vice-campeonato brasileiro. No ano seguinte, já sob o comando do velho parceiro Valdir Espinosa – que havia sido seu treinador em Bento Gonçalves –, cavou seu espaço no time. Com apenas 21 anos, transformou-se no grande nome da conquista mundial em Tóquio, marcando os dois gols da vitória sobre o Hamburgo.
1980: China e Bonamigo
O Grêmio iniciou o ano sendo treinado pelo ex-zagueiro Oberdan. De cara, duas ações da direção para reforçar a defesa: contratou China junto à Chapecoense e subiu da base Paulo César Bonamigo. Ambos eram volantes e demoraram a cavar um espaço entre os titulares. O primeiro, no ano seguinte, tornou-se o cão de guarda da área tricolor no inédito título brasileiro. O segundo era apenas uma opção na exitosa campanha da Libertadores e Mundial. No jogo decisivo, contra o Hamburgo, em Tóquio, entrou no segundo tempo, no lugar do meia Osvaldo.
1981: De León, Paulo Roberto, Baidek e Paulo César Magalhães
A contratação do técnico Ênio Andrade era um forte indício de que o Grêmio sonhava alto em 1981. Apesar de ter conquistado o Brasileirão de 1979, o Inter não renovou com o treinador depois de perder a Libertadores de 1980. Mas, se ele chegava ao Estádio Olímpico sem o título da América, o zagueiro Hugo de León chegava com as faixas de campeão continental e mundial, recém-conquistadas com o Nacional-URU. Naquele ano, foram promovidos das categorias de base três jovens: o lateral-direito Paulo Roberto, o zagueiro Baidek e o lateral-esquerdo Paulo César Magalhães. O primeiro conquistou a titularidade de cara. Os dois últimos só se firmaram a partir de 1983 – Baidek superou o experiente Newmar, enquanto Paulo César ganhou a vaga de Casemiro para encarar os alemães no Japão.
1983: Espinosa, Caio, Osvaldo e Mazaropi
O início do ano promoveu uma revolução no Olímpico. Depois de cair na fase de grupos da Libertadores e perder a final do Brasileirão para o Flamengo em 1982, a direção resolveu trocar o comando técnico. O ex-lateral Valdir Espinosa, então com 36 anos, recebeu sua primeira oportunidade como treinador de um grande clube (só havia trabalhado por Esportivo e Londrina). Com a saída do centroavante Baltazar, chegaram dois outros atacantes: César, que veio do Benfica-POR, e Caio, vindo da Portuguesa. Para o meio-campo, foram trazidos Tita, insatisfeito com a reserva no Flamengo, e Osvaldo, que havia se destacado um ano antes com a Ponte Preta. Faltava um goleiro para substituir o temperamental capitão Emerson Leão, que havia se transferido para o Corinthians. Depois de iniciar a Libertadores com Remi e Beto (tio de Danrlei), o Tricolor foi buscar Mazaropi no Vasco – que seria fundamental, principalmente, ao defender um pênalti contra o América de Cali.
1983 (pós Libertadores): Mário Sérgio e Paulo César Caju
Se 10 anos antes, o título da Libertadores parecia impensável, agora a taça repousava no Estádio Olímpico. O novo objetivo era o Mundial Interclubes, em Tóquio. O adversário seria o surpreendente Hamburgo, que havia vencido a grande Juventus, de Platini, na decisão da Copa da Europa (atual Liga dos Campeões). Para conhecer o rival, o técnico Valdir Espinosa viajou para assistir a uma partida contra o Werder Bremen, pelo Campeonato Alemão. No retorno a Porto Alegre, pediu a contratação do experiente meia Mário Sérgio, de 33 anos, para substituir Tita, que havia retornado ao Flamengo após a venda de Zico à Udinese.
— Os alemães são velozes demais, saem para a frente com uma facilidade incomum. É necessário ter alguém que seja capaz de parar com a partida e de, em certo momento, pegar a bola, "colocar debaixo do braço" e sair — disse o comandante gremista à Zero Hora do dia 26 de setembro.
Não foi uma negociação fácil, pois a Ponte Preta insistia em segurar seu camisa 10. Após uma semana de tratativas, o Grêmio fechou a contratação por Cr$ 200 milhões (equivalente a R$ 730 mil). Porém, pagaria bem mais por Paulo César Lima, o Paulo César Caju. Maior reforço trazido pelo Tricolor, o meia de 34 anos (que havia disputado as Copas de 1970 e 1974 com a Seleção Brasileira) estava no futebol francês. Mas já havia passado pelo Estádio Olímpico em 1979 e queria retornar ao Grêmio, inclusive pagando a metade dos US$ 10 mil ao Aix Provence, da França. Estreou no dia 2 de novembro, em um Gre-Nal, válido pelo Gauchão, que terminou empatado em 0 a 0. Mas deixou uma bola na trave ainda no primeiro tempo do clássico.
— Poderia ter sido o gol da vitória. Não ganhamos, está certo, mas demos um show de bola. O Grêmio mostrou sua superioridade durante os 90 minutos. Temos mais time — analisou o próprio Caju, a um mês de embarcar rumo a Tóquio.
O resto da história, todo mundo já conhece. Pelo menos, os gremistas que se prezam.