Nesta semana, GaúchaZH ouve treinadores que passaram pela dupla Gre-Nal neste século para relembrar histórias de bastidores de suas passagens por Porto Alegre e saber mais sobre a continuidade de suas carreiras.
Meses depois de ter sido campeão do mundo, o Inter viveu uma grande ressaca e sofreu eliminações precoces na Libertadores e no Gauchão. Diante deste cenário, a direção apostou no jovem técnico Alexandre Gallo. Apesar de ter levado a equipe ao título da Recopa Sul-Americana, o treinador não conseguiu terminar o ano no cargo.
Ao deixar o Beira-Rio, Gallo deu sequência a sua carreira, trabalhando em cargos diretivos na CBF e Atlético-MG, mas voltou a atuar como treinador, estando à frente do São Caetano atualmente. Ele atendeu GaúchaZH e fez um balanço sobre o período vivido em Porto Alegre há 13 anos.
Como está o trabalho no São Caetano?
Está sendo um recomeço até para mim, que trabalhei como diretor de futebol no Atlético-MG em 2018. Tenho um negócio paralelo ao futebol, morei por cinco meses nos Estados Unidos, em 2019. E, depois de ficar por um tempo fora do futebol, pela primeira vez, recebi uma ligação do Paulo Pelaipe. Sempre quis trabalhar com ele, que é uma pessoa íntegra, autêntica. O São Caetano está passando por um processo de mudança política. Cheguei com a equipe em 13º lugar (na segunda divisão paulista) e agora estamos dentro da faixa de classificação. Neste momento de pandemia, estamos fazendo treinos online, esperando o recomeço das atividades.
Apesar da conquista da Recopa, tivemos problemas de vestiário e hoje percebo que foi o clube certo na hora errada.
ALEXANDRE GALLO
ex-técnico do Inter, hoje no São Caetano
Quais lembranças você tem da passagem pelo Inter?
Quando fui conversar com o Giovanni Luigi (então presidente colorado), que foi um dos caras mais sérios com quem trabalhei, me chamou a atenção a busca pela Tríplice Coroa. Eu era um jovem treinador e estava no Sport fazendo um ótimo trabalho. Talvez, pela experiência que tenho hoje, eu não iria, sendo bastante sincero. O Inter havia sido campeão do mundo, tenho uma ótima relação com o Abel Braga, foi meu treinador, mas ele tem um estilo de comando diferente do meu. Ele tem uma relação interpessoal mais próxima dos atletas, e eu venho de uma escola mais voltada à parte tática e técnica, com cobrança enfática. E os atletas não estavam preparados para essa mudança tão radical. Não foi fácil essa relação com os atletas, depois de eles terem conquistado Libertadores e Mundial. Eu entendo que os jogadores viram ídolos até mesmo dos dirigentes, mas essa relação não foi boa. Apesar da conquista da Recopa, tivemos problemas de vestiário, e hoje percebo que foi o clube certo na hora errada. O Inter é um clube de primeira grandeza, muito organizado, mas o momento não era propício para uma mudança de estilo no comando.
Você treinou o Alexandre Pato no início de carreira. Você também tinha uma grande expectativa sobre ele?
Acho que foi, talvez, uma das grandes decepções que tive como torcedor de futebol. Via no Pato total condição de brigar para ser o melhor jogador do mundo. Trabalhei com grandes atletas, como Robinho, Giovani, Ricardinho, e nunca vi um cara com tanto potencial de finalização como o Pato. Infelizmente, acho que ele deu uma largada, mas a gente respeita as decisões individuais. Como pessoa, ele é um grande ser humano, menino bacana. Lembro quando ele foi vendido e foi à minha sala para agradecer por eu ter posicionado ele mais próximo da área. Lançamos outros jovens naquela época também, porque era um pedido da direção para eu fazer uma reformulação. Eu subi os zagueiros Sidnei e Titi, contratei o volante Magrão, o lateral-esquerdo Marcão, o atacante Adriano. Então, quando você pega uma equipe campeã do mundo e inicia uma reformulação, é visto como uma pessoa que quer desmanchar algo importante. Mesmo em um momento de vitória, é importante a reformulação. Mas isso caiu no meu colo e me causou um desconforto muito grande.
Você ainda deseja voltar a trabalhar em Porto Alegre? E se voltasse, seria como técnico ou dirigente?
Tive essa experiência no Atlético-MG, que foi vitoriosa, em um momento financeiro muito difícil, e que conseguimos nos classificar para a Libertadores e ter um ano superavitário no futebol. Saí por uma questão política, mas foi um ano de muita experiência para mim, e tenho certeza de que cumpri com minha missão. Tinha feito cursos para isso, me preparei, não entrei por ter sido ex-atleta do clube. Mas o que amo é estar no campo. Então, tive uma parada salutar em 2019 e, agora, estou muito feliz por ter voltado. Sobre voltar a Porto Alegre, sem dúvidas, qual treinador não pensa em trabalhar na dupla Gre-Nal? São clubes organizados, com pessoas inteligentes, e são referências. Mas isso tem que acontecer com naturalidade, com a gente voltando a um bom momento, sem forçar nenhuma situação. Ainda mais com a cabeça que tenho hoje, voltar ao Inter seria maravilhoso.