O Grêmio teve de superar não apenas o Hamburgo para ser campeão do mundo em 1983. A equipe do técnico Valdir Espinosa também precisou vencer as dores e o mau estar de alguns jogadores às vésperas da partida que seria a maior da história do clube gaúcho.
O volante China tinha uma lesão no tornozelo, o meia Mário Sérgio ficou resfriado e o ponta-direita Renato Portaluppi sentiu dores nas costas já no Japão. O caso mais preocupante era do camisa 5, tanto que na edição de 9 de dezembro de 1983, dois dias antes do jogo contra os alemães, a capa de Zero Hora destacava: "China ameaçado de não jogar a decisão".
De acordo com o ex-jogador, a lesão foi ainda anterior ao Mundial. Durante o período de preparação gremista em Gramado, ele passou a sentir o tornozelo. Inclusive, foi poupado de algumas atividades na Serra. Porém, uma brincadeira com Renato acentuou a lesão.
— Éramos jovens, não pensávamos muito nas consequências. Fui brincar com o Renato na piscina, porque ele tinha medo da água, e fui dar um caldinho nele. Mas, como estávamos no raso, a lesão no meu tornozelo se agravou. Precisei fazer bastante gelo e joguei com dores em Tóquio — recorda China.
De fato, o volante atuou durante os 120 minutos (tempo normal mais prorrogação) contra o Hamburgo. Em determinado momento da partida, sentiu a dor mais forte, mas como já haviam sido feitas as duas substituições permitidas na época, seguiu em campo.
— Teve um momento em que eu caí no campo e o De León, que já sabia da minha lesão, porque éramos colegas de quarto, deu uma mexida no meu tornozelo. Não sei o que ele fez, mas funcionou e joguei até o fim. Sentia um pouco de dor, mas queria muito estar em campo naquela partida — conta o ex-volante gremista.
Essa vontade de jogar o Mundial fez com que ele dissesse, na véspera do jogo, que não havia atravessado o mundo para ficar de fora da decisão.
— Estou fazendo todo o tratamento recomendado, procuro caminhar somente o essencial, mas as dores persistem. Não sei mais o que fazer. O jogo já está próximo e continuo sem poder correr normalmente. Mesmo assim, não fico de fora deste jogo de jeito nenhum. Não viajei até o Japão, aqui do outro lado do mundo, para ficar olhando o jogo de fora do campo. Nada disso — falou China um dia antes da partida.
Além dele, o meia Mário Sérgio estava resfriado, com dores no corpo. Ele participou dos treinos em Tóquio, mesmo sem estar 100%, e garantiu que estaria pleno para enfrentar o Hamburgo.
— Ando mesmo azarado. Agora foi uma gripe que me atacou devido ao ar-condicionado do avião que nos trouxe até aqui. Mas isto é perfeitamente superável, tanto que treinei bem e não senti problema algum. Tenho certeza de que até a hora do jogo estarei completamente curado desta gripe — ressaltou o meio-campista à época, que ainda em gramado havia sentido dores no estômago e diarreia.
Outro que preocupou os gremistas antes do Mundial foi Renato. Ele sentiu dores nas costas devido ao colchão, considerado duro por ele, usado no Tóquio Prince Hotel, onde o Grêmio ficou hospedado. O ex-jogador, que marcaria naquela partida os dois gols que deram o título ao Tricolor, recorreu ao massagista Alvaci Almeida, o Banha, para superar esse problema. E, claro, pediu que trocassem o seu colchão por outro mais macio.
Mas, entre dores e resfriados, o Grêmio foi a campo com time completo para enfrentar o Hamburgo. O resto da história você lembra: 2 a 1, vitória na prorrogação e o mundo pintado de azul, preto e branco.