Para Wendell, o futebol deve recomeçar em 9 de maio. É a data que federação, liga e governo alemães preveem para a bola rolar nas primeira e segunda divisões, em um retorno gradual às atividades enquanto enfrentam a pandemia de coronavírus. O lateral-esquerdo do Bayer Leverkusen, cuja passagem deixou marcas no Grêmio, atendeu, por telefone, a reportagem. Ele comentou sobre os procedimentos do país para conter o avanço da doença, os treinos adaptados, o Grêmio, a Seleção e até sobre rádio.
Como tem sido sua rotina nesse período?
Os treinos foram muito bem adaptados. Já são duas semanas que vamos ao clube. Eles dão dois dias de folga na semana. Antes eram três, mas agora a possibilidade de voltar fez eles diminuírem. Agora aumentamos o grupo, estamos em oito de linha mais dois goleiros, dez no total. Antes eram quatro, depois subiu para seis.
Já sai de casa com a roupa do treino?
Não usamos o vestiário para tomar banho, só. Querem evitar que fique muita gente junta. Pegamos a roupa na zona mista, que tem um espaço maior, mas nos trocamos no vestiário. Antes, nos entregavam as roupas no vestiário. Levamos as roupas dos treinos para casa, ou podemos usar o hotel do clube e devolver as roupas ao baú para que eles lavem lá.
Vocês passam por testes, termômetro?
Fizemos o teste de temperatura uma vez só, mas todos os dias eles mandam cinco perguntas para respondermos. Se temos tosse, febre, contato com pessoas que tiveram o vírus e se estamos nos sentindo bem. Aqui na Alemanha, já pode sair, mas as ruas estão desertas, as pessoas que saem mantêm distância. Mas se passar por alguém com vírus no mercado, pode pegar. Então tem essa consciência. Na semana passada tive tosse e disse para ele. O médico entrou em contato, pediu para eu ir lá normalmente no dia seguinte e, se continuassem os sintomas, eu não iria treinar. Assim, temos mais segurança no ambiente de trabalho do que saindo para a rua.
Os clubes tentam deixar as atividades mais leves, divertidas. O Bayern usou alvos infláveis gigantes, o Dortmund fez jogos de uma espécie de futevôlei. Aí no Leverkusen como têm sido os treinos?
Temos trabalhos físicos e técnicos. Eles variam, fazemos futevôlei, um torneiozinho de embaixadinhas sem poder sair de um quadrado, futmesa. Eles variam bastante, todo mundo sabe que é difícil treinar em pouca gente, estamos acostumados a treinar o grupo inteiro. Mas esses desafios são bons para a cabeça também.
Dá para perceber que você está feliz aí.
Fico feliz em qualquer lugar. Tenho facilidade para fazer amizade, me adaptar. O clube me ajudou muito aqui. Normalmente, seria dificil porque tem a questão da língua. E o Brasil é tudo de bom. Todos sonhamos em viver em outro lugar, mas quando voltamos para casa, é melhor. Isso não quer dizer que seja ruim. Pelo contrário, agradeço a Deus todos os dias a oportunidade de viver em um país tão organizado.
O time também é forte, né?
O clube tem um pensamento de comprar jovens. Então eles compram barato e depois vendem mais caro. E nem por isso deixa de chegar lá em cima. De todos os anos que estive aqui, só em um não ficamos entre os quatro (11º em 2016). Nos outros, sempre fizemos grandes campanhas. Temos oportunidade de jogar na Europa, o clube nos deixa pensando apenas em jogar, não precisamos nos preocupar com mais nada.
Como é a colônia sul-americana aí?
Tem o Paulinho (titular da seleção sub-23), o Charles Aránguiz, que jogou aí no Inter, o Palacio (Exequiel, ex-River Plate), que chegou no inverno, e o (Lucas) Alario, que já estava antes. Temos boas conexões, nos damos muito bem e isso nos fortalece e ajuda ter esse calor latino.
O que pode dizer sobre a situação do Aránguiz, que chegou a ser especulado para voltar ao Inter?
Todos sabemos a qualidade do Aránguiz e o quanto ele é importante. Sei que ele estava no processo de burocracia para renovar com o Leverkusen e que recebeu muitas propostas de clubes grandes, como você falou do Inter, e de outros clubes sul-americanos também. O clube sabe da importância dele para o time, é fácil quando ele joga e difícil na ausência dele. Torcemos para que tome a melhor decisão porque é uma pessoa muito boa, tem uma família muito bacana. Queremos sempre o melhor para os nossos irmãos. Espero que Deus oriente para ter a melhor escolha.
E o seu futuro? Pretende seguir aí na Alemanha, no Leverkusen, ou tem outros planos?
Entrego nas mãos de Deus, que escolha os melhores caminhos. Chega um tempo que você também quer almejar coisas diferentes. Tenho contrato aqui ainda até 2021, estamos nessa espera, se vou continuar ou sair. Tenho que seguir trabalhando, seguir forte e se continuar aqui, ficar feliz. Se for para sair, que seja de cabeça erguida. Por mais que se esteja feliz em um lugar, gostamos de novos desafios, maiores, melhores. Mas estou em um grande também, então vamos esperar.
Você tem dois jogos na Seleção. Esse retorno ao futebol antes pode ser bom para voltar? Tem saudade da amarelinha?
Saudade a gente tem, trabalha para voltar lá e dar nosso melhor. Se continuar jogando e dando o melhor, a chance vai aparecer novamente e tem que estar bem preparado para representar o país. Se por um lado, ajuda a sair na frente de outras ligas, outros jogadores, por outro, os outros países não vão poder. Temos a grande possibilidade de retomar o campeonato, terminar até agosto e depois parar, porque não tem competições europeias. A gente vai parar e os outros campeonatos vão seguir.
E o Grêmio? Consegue acompanhar?
Sempre disse que o Grêmio me fez amar um time. O Grêmio marcou mais a mim do que a outros jogadores que ficaram mais tempo, tenho muito carinho e acompanho. Quando tinha jogos no meio da semana, eu chegava tarde e via, ficava acordado até de madrugada. Tenho aplicativo da Rádio Gaúcha e escuto. Vejo na TV também. Gosto de acompanhar os jogos. Fico feliz, minha passagem foi curta, mas pude mostrar meu trabalho. Cheguei do Londrina e, mesmo com muitas estrelas no grupo, consegui deixar meu trabalho. Tenho gratidão pelos treinadores, dirigentes e companheiros que tive aí. A torcida me reconhece, e o Grêmio marcou muito. Foi o melhor clube que poderia ter escolhido e fiz bem, a oportunidade apareceu em um clube que admirava já antes, porque a torcida fazia coisas diferentes, como a avalanche, no Olímpico, é um clube grande e fiquei feliz.
Ah, você escuta a gente então?
Escuto! Eu gosto do Pedro (Ernesto Denardin). Eu chamo ele de "Coroa demais". Ele narra demais. Ele fala "O Grêmio é demais". Gosto bastante quando ele narra, admiro. Meu pai sempre escutou rádio e eu me acostumei assim. Vendo na TV e ouvindo no rádio. Quando o Grêmio faz gol, aumento o volume para ouvir. Quando é contra, não boto.
É isso aí: jogo na TV e rádio na Gaúcha!
Quando é jogo do Grêmio, gosto bastante de escutar. Quero mandar um abraço para vocês. Tenho também uma TV que transmite a Globo, gosto do Maurício Saraiva, do Diogo (Olivier). Fico feliz de falar com vocês, merecem o sucesso que têm. Estou devendo uma visita aí, não vou a Porto Alegre desde 2015, mas quando for, vou marcar para conversar com todo mundo.