Dois andarilhos do futebol brasileiro protagonizarão um duelo inédito na final do primeiro turno do Gauchão, às 16h30min, entre Grêmio e Caxias, no Centenário. De um lado estará Marcelo Pitol, goleiro que já defendeu a camisa de sete dos 12 integrantes da Primeira Divisão do Estadual. Do outro, o hoje centroavante Diego Souza, que no Rio Grande do Sul vestiu apenas o uniforme tricolor, mas na carreira já atuou em nove dos principais clubes do país.
Com rodagem e experiência de sobra, eles nunca se cruzaram pelos campos Brasil afora. Nem mesmo na estreia do Gauchão deste ano, quando o Caxias de Pitol derrotou o Tricolor na Arena, por 2 a 0, os dois se enfrentaram, já que o atacante ainda não havia sacramentado seu retorno a Porto Alegre.
No primeiro embate entre os dois, serão colocados à prova também os sistemas ofensivo do Grêmio e defensivo do Caxias. O ataque gremista é o melhor do Estadual até aqui, junto com o do Inter, com 10 gols marcados em seis jogos. Diego Souza é um dos artilheiros do time, ao lado de Everton, com três gols, e segundo maior goleador do campeonato, atrás apenas de Michel, do São Luiz, que tem quatro gols. Já a defesa da equipe grená, iniciada por Pitol, é a menos vazada do Gauchão, ao lado do Ypiranga, com apenas dois gols sofridos.
Todos esses elementos farão parte de um confronto que vale taça, e mais do que isso, pode ser o reconhecimento para um dos dois veteranos que iniciaram 2020 sob desconfiança e hoje são líderes e decisivos em suas equipes. Mas, afinal, a tarde de sábado será do reinventado Diego Souza ou do sanguíneo Marcelo Pitol?
Camisa 1 de confiança
Pedido do técnico Rafael Lacerda para a meta do Caxias em 2020, Marcelo Pitol é daqueles jogadores acostumados ao Gauchão. Além de ter vestido a camisa de 10 clubes do Rio Grande do Sul, é nascido em São Leopoldo e conhece bem cada canto do Estado.
Aos 37 anos, tem usado toda a sua experiência para garantir pontos importantes ao time da Serra. Na semifinal do primeiro turno, contra o Ypiranga, o gol da vitória aos 46 minutos do segundo tempo foi marcado por Da Silva, centroavante emprestado pelo Grêmio, mas Pitol fez duas defesas que impediram a equipe de Erechim de abrir o placar e dificultar a classificação do time grená à decisão.
— É um gol. A gente vibra e torce como se fosse um gol — ressaltou em entrevista ao jornal Pioneiro, antes de completar:
— Se eles fizessem o gol ali, iriam se trancar na defesa e ficaria muito difícil para nós buscarmos o empate. Consegui ajudar e estou feliz.
Sentimento esse, aliás, que Pitol reserva às boas vitórias. Como bom ariano, nascido no início de abril, o camisa 1 do Caxias é extremamente sanguíneo, garante quem já trabalhou com ele. Quando vence, vibra muito, mas quando perde...
— Ele gosta muito de vencer e fica bravo nas derrotas. Reclama no vestiário, briga, cobra dos demais atletas. É um cara louco por vencer — destaca Teco, que tentava facilitar o trabalho de Pitol quando foram parceiros de defesa no Brasil-Pel, em 2017.
Zagueiro da equipe pelotense na Série B daquele ano, no qual o Xavante terminou em oitavo, Teco recorda que Pitol se irritava quando o desempenho não estava bom. Mas, quando a situação estava tranquila, era um dos mais extrovertidos do grupo.
— É um cara muito gente boa, brincalhão. A gente brinca que goleiro tem de ser doido, no bom sentido, claro. E ele é um cara assim, muito bacana, parceiro — afirma o ex-jogador.
Outra característica marcante de Pitol é a personalidade forte, aliada ao espírito de liderança. No título da Segundona Gaúcha pelo Aimoré, em 2012, o técnico Gelson Conte lembra que o goleiro era um atleta diferente dos outros. Gostava de opinar, sugerir e não se importava de divergir quando achava que tinha razão.
— Sempre foi um líder, um cara que ajuda no comando do grupo. Além de ser um grande goleiro, é daqueles jogadores que agregam muito ao grupo. Não à toa está sempre jogando, decidindo títulos e dando a cara à tapa quando precisa — reforça seu ex-comandante, que trabalhou novamente com ele no Aimoré no Gauchão de 2019.
O fator decisivo também chama atenção. Em 2012, um pênalti defendido contra o Guarany de Bagé garantiu a equipe de São Leopoldo nos mata-matas que depois colocaram o time na Divisão de Acesso. Anos mais tarde, foi importante na retomada do Caxias após o rebaixamento no Gauchão, em 2015, estando presente no retorno à elite do futebol estadual. E, mais recentemente, teve a missão de substituir Eduardo Martini, ídolo xavante, na meta do Brasil-Pel.
— Ele é um cara talhado para vencer. Tem jogadores que crescem nos jogos difíceis, e ele é esse tipo de cara, que gosta das partidas complicadas, decisivas — diz Teco.
Criado no Olímpico, o goleiro viverá mais uma decisão em sua carreira, e desta vez contra o clube pelo qual iniciou, 18 anos atrás. O reencontro já virou uma rotina de quase todo Gauchão. Mas a chance de conquistar um título, mesmo que apenas do primeiro turno, com a camisa do Caxias, é algo que mexe com Pitol:
— Por que não? Acredito muito que poderemos chegar no sábado, fazer um grande jogo e sair campeões.
A carreiro do goleiro
Clubes: Grêmio (2002 e 2003), 15 de Novembro (2004), Juventude (2004), Brasil-Pel (2005, 2017 e 2018), Náutico (2005 e 2006), Santa Cruz-RS (2007), Joinville (2007 e 2008), Icasa (2007, 2010 e 2011), Ypiranga (2009 e 2010), São Bernardo (2011), Itumbiara (2012), Aimoré (2012, 2014, 2015 e 2019), São José-SP (2013), Vila Nova-GO (2013), Novo Hamburgo (2014), Glória (2014), Sampaio Corrêa (2014), Caxias (2015, 2016, 2017 e 2020), Boavista-RJ (2019).
Títulos:
- Ypiranga – Campeão do Interior (2009)
- Icasa – Campeão Cearense da Segunda Divisão (2010)
- Aimoré – Campeão Gaúcho da Terceira Divisão (2012)
- Caxias – Campeão Gaúcho da Segunda Divisão (2016)
- Brasil-Pel – Copa Centenária da FGF (2018)