Caxias e Grêmio decidem neste sábado (22) a Taça Coronel Ewaldo Poeta, o primeiro turno do Gauchão 2020. A partida do Estádio Centenário, marcada para as 16h30min, servirá, além de garantir uma vaga na decisão do Estadual, para reviver confrontos recentes entre as duas equipes que estão na memória dos torcedores — e também dos personagens que participaram dos jogos.
Em 2011, os tricolores faturaram justamente o primeiro turno sobre os grenás, nos pênaltis, depois de um empate em 2 a 2 no Olímpico, em que o time treinado por Renato Portaluppi buscou o resultado nos oito minutos de acréscimos concedidos pelo árbitro Márcio Chagas da Silva. O time da Serra deu o troco no ano seguinte, pela semifinal da primeira etapa, também vencendo nos pênaltis após empate em 1 a 1 no Centenário.
A disputa da Taça Piratini em 2011, numa quarta-feira à noite no velho estádio gremista, foi cercada de mistério, tensão e polêmica.
— Era uma noite tensa. O Caxias era um time muito bem armado pelo Lisca. E o Grêmio ainda estava sob desconfiança, apesar de ter nomes como Douglas, Fábio Rochemback e Borges — recorda o narrador Jader Rocha, que transmitiu o confronto pelos canais Premiere.
Antes da partida, Renato divulgou duas escalações — uma com o lateral-esquerdo Lúcio no meio-campo, outra com Willian Magrão —, e o mistério só foi desfeito com os times em campo. O volante foi a opção para o jogo, que teve domínio dos visitantes no primeiro tempo. Os laterais Itaqui, de falta, e Gerley abriram 2 a 0 para o Caxias, que tinha como um de seus destaques Edenilson, atualmente no Inter, contratado pelo Corinthians logo depois do Gauchão.
— O Caxias jogou muito bem no primeiro tempo. Fomos superiores, abrimos 2 a 0 e eles descontaram com Willian Magrão no final do primeiro tempo, o que deu um alento para o Grêmio — afirma Lisca, então técnico do time grená.
Jader Rocha recorda que o Caxias era um time que impunha muitas dificuldades aos grandes.
— O Caxias se impôs dentro do Olímpico, jogou com naturalidade e marcou sob pressão. Mas o Grêmio começou uma reação quase heroica — diz o jornalista.
Jogo teve oito minutos de acréscimos
Com a vantagem, a equipe da Serra tentou esfriar o jogo durante o segundo tempo, especialmente a partir dos 20 minutos, quando o goleiro André Sangalli e outros jogadores passaram a cair e a ganhar tempo em cada jogada disputada dentro da área, o que irritou os tricolores.
A cera não passou batida pelo árbitro Márcio Chagas da Silva. Quando o relógio chegou aos 45 minutos, ele determinou seis de acréscimos — que chegaram a oito após novas tentativas caxienses de retardar o jogo.
— Ali pelos 20 do segundo tempo, os jogadores do Caxias começaram a "amorcegar" o jogo. Em todas as substituições, Lisca mandava os atletas caírem e para pedir atendimento médico. O goleiro fez isso quatro vezes — conta Márcio, hoje comentarista de arbitragem da RBS TV.
O período de recuperação é contestado por Lisca até hoje
— Assisti ao tape do jogo depois e parei o cronômetro em todas as paralisações. Na verdade, deu 4min47s de parada, e o Márcio exagerou nos acréscimos. O Brasil inteiro sabe disso, ele sabe disso. Estava iniciando sua carreira, quem sabe tenha se sentido pressionado no Olímpico. Toda a diretoria do Grêmio estava na pista atlética, então acho que ele se equivocou — dispara o treinador.
Foi nos acréscimos que o Grêmio partiu para o tudo ou nada. A pressão foi intensa, inclusive com o goleiro Victor na área adversária em lances de bola parada. O zagueiro Rafael Marques virou centroavante. E foi ele que, aos 50 minutos, pegou um rebote para marcar, empatar o confronto e levar a decisão para os pênaltis.
— Fazer um gol daqueles... Parece que saiu um caminhão das suas costas, e também do torcedor. Era um momento de desespero, e menos mal que a gente conseguia marcar gols assim — comemora Rafael, que hoje faz cursos de gestão do futebol promovidos pela CBF.
Lisca diz que sua equipe sentiu o desgaste pela intensidade mostrada na primeira etapa.
— A gente controlou bem ate os 15, 20 minutos do segundo tempo. Depois cansamos, pela intensidade, pelo ritmo que a gente propôs, e o Grêmio cresceu, pressionou e achou o gol numa jogada do Borges, que deu o passe para o Rafael Marques.
Enquanto os gremistas comemoravam a igualdade no campo e nas arquibancadas, jogadores e comissão técnica dos grenás partiram para cima da arbitragem.
— A cera demasiada do Caxias possibilitou o empate do Grêmio. Se tivessem jogado normalmente, como fizeram em toda a partida, sem pedir tanto atendimento, teriam vencido, porque estavam melhores — opina Márcio Chagas.
Nos pênaltis, brilhou a estrela de Victor. Ele defendeu os chutes de Dê e Diogo, e o Grêmio confirmou o título ao acertar todas suas cobranças e vencer por 4 a 1.
— Victor estava em um momento mágico. São Victor, né? Erramos as duas primeiras cobranças, o Grêmio foi mais competente e levou — recorda Lisca.
Paulo Porto leva a melhor
O troco veio no ano seguinte, na mesma moeda, pela semifinal da Taça Piratini — desta vez, no Centenário. No lado gremista, Victor, Gabriel, Fernando, Marcelo Moreno, Kléber Gladiador e o pentacampeão Gilberto Silva eram os principais nomes.
Mas o destaque estava no banco: contratado após a demissão de Caio Júnior, Vanderlei Luxemburgo viu das tribunas a vitória do Grêmio sobre o Inter, nas quartas de final, sob o comando interino de Roger Machado. A partida na Serra foi sua estreia pelo clube. Treinado por Paulo Porto, o Caxias tinha na defesa seu ponto forte, com destaque para o zagueiro Lacerda, hoje treinador da equipe.
O jogo foi equilibrado, e os gols vieram no segundo tempo. O Grêmio saiu na frente, com Kléber, aos 17 minutos, mas o atacante Marcos Paulo, de apenas 17 anos, aproveitou raro vacilo de Gilberto Silva e deixou tudo igual aos 39.
— Sabíamos da dificuldade que teríamos, especialmente pelo time do Grêmio e pela estreia do Luxemburgo. Nossa equipe estava encaixada, o grande trunfo era a campanha que fazíamos até aquele momento — ressalta Paulo Porto.
Hoje no comando do Passo Fundo, o técnico de 68 anos recorda com carinho do duelo com o ex-treinador da Seleção Brasileira e do Real Madrid.
— Sou fã do Luxemburgo, um treinador em quem a gente se espelha. Enfrentá-lo numa decisão foi muito importante. Procurei me preparar muito e buscar todas as possibilidades, sabendo que os jogadores do Grêmio estariam motivados pela estreia dele, que também me despertou para buscar todos os elementos para aquela grande oportunidade.
Com o empate em 1 a 1, de novo os pênaltis decidiram a disputa. Dessa vez, o goleiro Paulo Sérgio foi o destaque: ele converteu sua cobrança e defendeu a de Marco Antônio, levando o time da Serra à inédita final de turno entre dois times do Interior, contra o Novo Hamburgo. O Caxias venceu, mais uma vez nos pênaltis, e garantiu vaga na decisão do Gauchão.
— Vencer o Grêmio foi a prova que nos deu a confiança necessária para buscar o título — completa Paulo Porto.
É com estes ingredientes que Caxias e Grêmio voltarão a se encontrar, neste sábado à tarde. Nos 90 minutos ou nos pênaltis, um time vai comemorar e garantir seu lugar na decisão do campeonato - e escrever uma nova página na história centenária do Gauchão.