O Grêmio terá um desfalque de peso para o duelo decisivo contra o Flamengo, na noite desta quarta-feira (23), no Maracanã: Luan não tem condições de jogo e foi vetado da partida. O meia voltou a sentir dores por conta do velho problema de fascite plantar no pé direito.
A lesão foi sentida na derrota para o Bahia, em 16 de outubro, quando o camisa 7 acabou substituído aos 28 minutos do segundo tempo por Patrick. Depois disso, ele sequer conseguiu treinar com o restante do grupo gremista. Na chegada da delegação ao Rio de Janeiro, no domingo pela manhã, ainda caminhava com dificuldade.
Mesmo que o departamento médico do Grêmio não confirme nenhuma informação sobre as condições de Luan, ele não irá a campo. É uma situação semelhante à de Jean Pyerre, que ainda se recupera de lesão muscular na coxa direita sofrida em 20 de setembro e poderá ficar, no máximo, no banco de reservas nesta quarta.
Com essas ausências, o técnico Renato Portaluppi terá de encontrar no grupo um substituto para desempenhar a função de meio-campista ou até mesmo mudar o esquema de jogo. Entre as possibilidades, estão a entrada de Thaciano ou Patrick no meio, sem mexer no sistema tático. Também pode-se considerar o ingresso de André, recuando Tardelli. Ou ainda a escalação de Michel, formando um trio de volantes com Maicon e Matheus Henrique.
Para avaliar essas possibilidades, a reportagem ouviu o ex-jogador campeão por Grêmio e Flamengo Zinho, hoje comentarista dos canais Fox Sports, e o ex-treinador Muricy Ramalho, que trabalha para o Grupo Globo. Eles falaram sobre as diferenças de atuar com um ou outro atleta.
Também pedimos para os colunistas de GaúchaZH Filipe Gamba e Zé Alberto Andrade, além do narrador da Rádio Gaúcha Gustavo Manhago, avaliarem qual seria a melhor opção.
MICHEL
Essa seria a alternativa mais defensiva para a equipe. Com a entrada do volante de 29 anos, Renato poderia formatar o time no 4-1-4-1, com Michel na primeira função do meio e Alisson, Maicon, Matheus Henrique e Everton à sua frente. Ou, ainda, manter o esquema 4-2-3-1, adiantando Maicon ou Matheus para a posição central do meio-campo.
Cabe a lembrança de que tanto Maicon quanto Matheus Henrique já atuaram mais adiantados. O mais experiente iniciou a carreira jogando de meia. Inclusive, quando despontou no Figueirense, era o maestro da equipe que fez a melhor campanha da história do clube na Série A, garantindo o sétimo lugar, ao lado de jogadores como o lateral-direito Bruno, hoje no Inter, o atacante Willian Bigode, do Palmeiras, e até mesmo Roberto Firmino, centroavante do Liverpool e da Seleção Brasileira.
Já o garoto de 21 anos chegou ao Grêmio por empréstimo, no início de 2017, como meio-campista. No São Caetano, onde fez boa parte de sua base, atuava adiantado. Chegou a jogar até mesmo como atacante de lado, mas no Tricolor acabou virando o chamado volante de construção, que marcava e saía para o jogo. Assim, para Zinho, essa pode ser uma alternativa interessante:
— O Michel é um bom jogador. Se ele entrar, o Renato vai liberar mais o Maicon e o Matheus. É uma boa opção para começar o jogo. Se não der certo, pode mexer no segundo tempo. A equipe perde um pouco ofensivamente, mas eles garantem boa marcação e ainda tem o chute de fora da área e a bola aérea.
Números em 2019:
Michel
33 jogos
2.641 minutos em campo
Nenhum gol
1 assistência
71 desarmes
ANDRÉ
Caso André seja o escolhido por Renato para iniciar a partida, Tardelli seria recuado para a posição de Luan e Jean Pyerre e o Grêmio teria mais poder de fogo. Quanto à adaptação do camisa nove ao meio, ela deverá ser tranquila, já que ele desempenhava essa função no Shandong Luneng, da China, último clube em que jogou antes de vestir a camisa tricolor.
O problema, neste caso, será lidar com a rejeição da torcida a André. Em enquete realizada no site de GaúchaZH, o centroavante foi o último na preferência dos torcedores para iniciar a partida contra o Flamengo. Muito disso se deve aos números ruins do atacante na temporada. Foram apenas sete gols e sete assistências em 43 jogos em 2019.
No entanto, essa possibilidade é elogiada por Muricy Ramalho, ex-técnico de Tardelli no São Paulo. Hoje comentarista, ele defende que o atleta pode atuar em qualquer função do meio para a frente. E, além disso, essa seria a ideia que mais se assemelha ao Grêmio ideal escalado por Renato Portaluppi.
— No papel, seria um time bem ofensivo. Mas acho que colocar o Tardelli no meio seria o mais parecido com o que o Renato costuma fazer, mantendo a formação. Como ele não guarda posição, é um jogador de mobilidade, acredito que seria a melhor alternativa dentre essas que o time tem à disposição — avalia.
Números em 2019:
43 jogos
2.635 minutos em campo
7 gols
7 assistências
29 desarmes
THACIANO
Com ele, seria a manutenção do sistema de jogo. É um atleta acostumado a atuar centralizado no meio-campo, ainda que venha sendo utilizado também como volante ou atacante de lado por Renato nesta temporada. Contra o Fortaleza, no sábado passado, foi escalado nessa função. Com dificuldade na criação, não teve grande desempenho.
Outra possibilidade seria a modificação do esquema, formando um 4-1-4-1. Desta forma, Thaciano jogaria ao lado de Alisson, Maicon e Everton, com Matheus Henrique fazendo a função de primeiro volante. Mas, como esse esquema não foi testado em nenhuma partida pelo comandante, é difícil que seja utilizada amanhã, ainda mais em um jogo decisivo.
No entendimento de Muricy Ramalho, a escolha por Thaciano faria com que o Grêmio abrisse mão de uma das suas principais características nos últimos anos: a posse de bola. Pelo estilo do atleta, o ex-treinador e hoje comentarista acredita que Renato não fará essa escolha.
— Vejo mais o Thaciano como um segundo volante. É um atleta de força, não tanto de armação. Com ele, a equipe teria pouca criatividade em um setor tão importante para a equipe como é o meio-campo. Não acredito que o Renato fará isso, de colocar um jogador de pegada e abrir mão da bola, que é alfo que o Grêmio valoriza bastante — destaca.
Números em 2019:
32 jogos
1.787 minutos em campo
4 gols
4 assistências
40 desarmes
PATRICK
Essa seria a escolha que menos mexeria no modelo de jogo gremista, mas ao mesmo tempo a menos provável, pela inexperiência do garoto de 20 anos. Mas também poderia ser uma ideia para surpreender o Flamengo, com um atleta pouco conhecido por Jorge Jesus e sua comissão técnica.
Apesar da pouca idade, Patrick surgiu em 2017 nos profissionais do Grêmio. Estreou no Brasileirão daquele ano, quando os titulares disputavam a Libertadores. Por problemas de indisciplina, voltou para a base e chegou a ser emprestado ao Criciúma, onde não se firmou e retornou ao clube. Neste ano, voltou a figurar no grupo principal, chamado por Renato, que entre broncas e puxões de orelha afirma que o garoto tem grande potencial.
Com a concorrência de Luan e Jean Pyerre, ainda que seja meia de origem, Patrick tem recebido mais oportunidades pelos lados. Nesta temporada, depois de ter destaque em uma excursão com a equipe sub-23 na Europa, fez 13 jogos e tem um gol marcado no Campeonato Brasileiro pelo time principal.
— Ainda não descartaria o Luan para o jogo, porque ele é o cara que gosta desse tipo de jogo, de decisão. Mas, se ele não jogar, acredito mais na entrada do Patrick, que tem as características mais parecidas. Quanto à experiência, tem garotos que não sentem esse peso. Depende muito de jogador para jogador — afirma Zinho.
Números em 2019:
13 jogos
218 minutos em campo
1 gol
Nenhuma assistência
5 desarmes
NA MARCA DO PÊNALTI
Qual a melhor alternativa para substituir Luan contra o Flamengo?
Zé Alberto Andrade, colunista de GaúchaZH: Thaciano
Das opções de Renato, sem Jean Pyerre e Luan, Thaciano aparece como o único jogador eminentemente do setor, tendo menos dificuldade de adaptação. As demais alternativas implicam em mudança tática sem a certeza de compensação técnica. Embora irregular, Thaciano já apresentou boas atuações, inclusive ocupando espaços de articulador. Na comparação com Luan, falta a técnica, mas sobra movimentação e recomposição. Quanto às outras opções, Maicon carece de velocidade, Tardelli de adaptação ao lugar, sem falar que André não se mostra efetivo no ataque, e Patrick ainda não tem estofo e experiência suficientes para começar uma partida tão importante, ainda que seja excelente alternativa para o decorrer do jogo.
Gustavo Manhago, narrador da Rádio Gaúcha: Michel
O Grêmio precisa ter um meio-campo que crie jogadas, porque precisa de pelo menos um gol para se classificar à final da Libertadores. Mas também precisa proteger-se contra o forte ataque do Flamengo. Isso sempre aconteceu com Michel na frente da zaga formada por Geromel e Kannemann. E mais ainda: a entrada de Michel fará com que o lado direito defensivo da equipe, onde deverá atuar Léo Moura, também fique mais guarnecido. Eu usaria Michel e liberaria Maicon para o meio.
Filipe Gamba, colunista de GaúchaZH: Thaciano
Por eliminação, a gente começa a chegar nesse jogador que o Renato pode colocar na vaga do Luan. Um atleta que não deve começar, embora não se deva descartar nada, é o André. Ele já mostrou que é insuficiente para ser a referência no Grêmio. No jogo em que o clube mais precisa que o ataque dê resposta, seria um equívoco depender do André. Se a utilização for pelo Michel, a estratégia seria parecida com a que Renato utilizou no ano passado contra o River Plate, no Monumental de Núñez, em que o Grêmio ganhou por 1 a 0. Lá funcionou, embora o time tenha sido eliminado na volta. Mas, como o Maicon não está com a condição física perfeita, não acho que será essa a opção. Outra possibilidade é o Thaciano, que é o jogador que mais se assemelha em características e seria o mais cotado para jogar no lugar do Luan. Ao meu ver, hoje, ele larga na frente. Uma remota possibilidade seria o Patrick, que é promissor, mas não é momento em um jogo desse tamanho.