Que uma entrevista com Renato Portaluppi tem conteúdo para dar e vender, ninguém duvida. Historicamente — seja como jogador ou treinador — o gaúcho sempre se mostrou criativo, eloquente, sedutor, inovador e muito bem-humorado com um microfone à sua frente.
Recentemente, o técnico vem chamando atenção em um tipo específico de coletiva: quando o Grêmio tropeça, as explicações mais técnicas estão rareando, e ele vem utilizando expressões mais populares.
De "nana neném" — ainda lá em 2017—, passando por "faltou tesão", "deu mole", "vai decolar" e chegando até os "cornetinhas", Renato tem mostrado um discurso pronto a cada empate empate ou derrota, para falar sobre as falhas da sua equipe.
"Nana neném"
Ainda em 2017, o Grêmio venceu o Iquique na campanha do título da Libertadores daquele ano, mas levou um susto. Enquanto o primeiro tempo mostrou uma atuação de encher os olhos, no segundo tempo, o comandante do Tricolor acusou os comandados de terem "tirado um soninho".
— O problema foi o nana neném do segundo tempo. Michel é muito técnico. O problema foi o sono que deu no nosso time. Tenho que falar com meu grupo. Espero que eles durmam hoje bastante para conversar com eles acordados — brincou.
"Apagão"
Apesar de ter caído apenas nas semifinais da Libertadores do ano passado, após perder para o River Plate na Arena, o Grêmio não começou bem a fase de mata-mata da competição.
No primeiro jogo das oitavas, o time gaúcho perdeu para o Estudiantes, em Quilmes, por 2 a 1. Na volta, o Grêmio devolveu o placar e se classificou nos pênaltis. Depois do jogo na Argentina, o técnico usou o "apagão" para justificar a atuação e o gol sofrido nos primeiros minutos de jogo.
— Conversamos bastante, sabíamos que o Estudiantes iria nos pressionar. Deu um apagão na nossa equipe nos primeiros 15, 20 minutos. Depois começamos a controlar e conseguimos fazer o gol no final do primeiro tempo. Isso deu uma tranqüilidade a mais. Conversamos no intervalo para corrigir algumas cosias, passei tranquilidade e confiança para a equipe. Um gol fora de casa na Libertadores vale bastante, que o resultado não era dos piores. Tínhamos que reencontrar nosso futebol tocando a bola. O adversário teve seus méritos. Agora temos 90 minutos na Arena, lá a história provavelmente será outra — destacou.
"Faltou tesão"
No Gauchão deste ano, o Grêmio empatou em 0 a 0 com o São Luiz fora de casa em uma partida que, segundo Portaluppi, poderia ter terminado com uma vitória dos azuis. O técnico afirmou que o resultado poderia ter sido melhor no jogo de ida das semifinais, não fosse a "falta de tesão" da equipe durante toda a partida.
— Valeu pela luta, mas o meu aborrecimento foi que a gente não teve o tesão de fazer o gol. Em uma semifinal de campeonato, você não pode querer inventar, tem de fazer o simples. No futebol, o simples é bonito, o gol bonito não vale dois. Tivemos duas grandes oportunidades no segundo tempo, mas não aproveitamos — afirmou Renato, referindo-se às chances desperdiçadas.
"Deu mole"
Depois de estar ganhando por 3 a 0 do Fluminense na Arena, o Grêmio levou a virada para o time de Fernando Diniz e foi derrotado por 5 a 4, na terceira rodada do Brasileirão deste ano. Renato disse que a equipe "deu mole" dentro de campo e tratou de salientar a expressão em mais de trinta oportunidades durante a coletiva.
A mesma frase foi utilizada pelo treinador gaúcho na hora de analisar a derrota para o Santos, na primeira rodada, também dentro de casa.
— Às vezes, um, dois ou três jogadores podem achar que não precisam mais fazer o que foi determinado porque está 3 a 0, mas sobrecarrega todo mundo. O primeiro gol foi achado, o segundo, falhamos, e continuamos falhando. Quando tem muitas falhas, com certeza vai pagar por elas. Hoje, foi inadmissível pelo resultado que construímos. Demos mole demais — ressaltou Renato naquela ocasião.
"Vai decolar"
Depois de ser derrotado pelo Ceará em jogo válido pela quinta rodada do Brasileirão, Renato teve de dar explicações para o desempenho aquém do esperado contra um adversário teoricamente mais fraco. O resultado deixou os gaúchos na penúltima colocação na tabela, fato que não pareceu preocupar o técnico.
— Você tem alguma dúvida de que o meu time vai decolar? Faltam 33 rodadas. Se alguém acha que o Grêmio não vai decolar, que pegue as suas fichas e aposte. Não estou nem um pouquinho preocupado. É claro que não estou satisfeito com a colocação do Grêmio na tabela — admitiu.
"Cornetinha" e "amnésia"
Após o empate em 0 a 0 com o Juventude no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil deste ano, o treinador mandou um recado para os "cornetinhas" da imprensa. De acordo com ele, está faltando educação e alguns analistas estão "com amnésia" após algumas partidas irregulares dos gremistas.
— O que os cornetinhas falarem, vai entrar por um ouvido e sair pelo outro. A gente sabe que precisa se recuperar no Campeonato Brasileiro, mas agora estão fazendo uma tempestade em copo d'água. É porque o Grêmio chega em todas as competições, toda hora dá uma volta olímpica. De repente, algum cornetinha não está feliz com isso porque o time deles não dá volta olímpica há muito tempo — disse Renato na coletiva após o empate no Alfredo Jaconi.