Para o Grêmio, ser campeão terá significados especiais. A conquista do Gauchão vem atrelada a uma série de recordes e marcas inéditas ou há muito não atingidas, que aumentarão ainda mais a mística desta geração de jogadores que Renato Portaluppi consolidou. Não será um simples e protocolar estadual conquistado pelo ídolo que virou estátua e seus comandados que devolveram as conquistas ao clube.
Uma dessas marcas é que o título, obrigatoriamente, será invicto. E isso não ocorre do lado azul desde 1965 — aliás, a única vez desde a unificação. Um time de lendas como Airton, Alcindo e Volmir, comandado por Carlos Froner, ganhou 20 e empatou dois dos 22 jogos daquele campeonato. Venceu, inclusive, os dois Gre-Nais. O segundo, e último, graças a um gol de Alcindo aos 43 minutos do segundo tempo.
O relato do jornal Diário de Notícias de 14 de dezembro de 1965 aponta um Grêmio amplamente superior, que não deixou o Inter crescer e que, por causa disso, permitindo que o goleiro tricolor Arlindo "praticasse apenas esporádicas intervenções".
Outro ponto a se destacar de um eventual título gremista à noite é que também será a primeira vez na década que o time comemoraria o bicampeonato estadual. No século, a única vez que obteve dois títulos consecutivos foi no período 2006/2007, justamente a época de maior glória do Inter. A primeira conquista, inclusive, foi na casa colorada, poucos meses depois de o Tricolor ter conseguido retornar à Série A do Brasileirão de maneira dramática, na Batalha dos Aflitos. Pela dificuldade que a Segunda Divisão havia mostrado, Mano Menezes precisava dar provas de que o time estava pronto para percorrer sem sustos a temporada de volta à elite. Nada melhor do que enfrentar o vice-campeão nacional do ano anterior, em um campeonato recheado de polêmicas, então líder de seu grupo na Libertadores que iria conquistar.
— Lembro que o time deles era chamado de diamantes. O nosso, ferro, por ser mais brigador. Conseguimos ganhar o título na casa deles quando ninguém mais acreditava. Empatamos em 0 a 0 em casa e buscamos o empate depois de sair perdendo lá. O troféu foi importante para nos dar ainda confiança e devolver a autoestima para a torcida — recorda o atacante Pedro Júnior, autor do gol do 1 a 1, e que atualmente joga no Buriram United, da Tailândia.
Há também um recorde a ser estabelecido se o Grêmio for campeão gaúcho. O time completará 10 jogos seguidos sem perder para o Inter em seus domínios. Essa será a maior sequência da história, e que será conquistada na terceira casa gremista, somando os tempos de Baixada e Olímpico. O máximo até hoje foi de nove partidas de invencibilidade. O cartel da nova casa gremista, inaugurada em dezembro de 2012, mostra sete empates, quatro vitórias tricolores e só uma colorada.
— Jogar do lado do nosso torcedor, aqui na Arena com essa torcida maravilhosa, sem dúvida é uma vantagem — declarou o goleiro Paulo Victor.
Existe ainda o gosto especial para Renato. O treinador conquistou campeonatos de níveis estadual, nacional e continental. Mas, agora, o título viria em cima do Inter, o que dá um sabor extra. Principalmente porque o técnico, em sua primeira passagem pelo Grêmio, perdeu a disputa em casa, ainda no Olímpico, para os colorados comandados por Paulo Roberto Falcão.
E, se for possível acrescentar um fator a mais, o título gaúcho dá ânimo para as rodadas decisivas que se aproximam pela Libertadores. Depois de um primeiro turno ruim, com apenas um ponto em três jogos, o time se recuperou e agora só depende de duas vitórias nos dois jogos para avançar. O primeiro compromisso será terça-feira que vem — e até foi por isso que a decisão do Gauchão foi antecipada.
O Gauchão, para o Grêmio, valerá ainda mais. Principalmente por acabar em Gre-Nal.