Uma troca de documentos entre Grêmio e Cruz Azul, do México, foi o ponto final, nesta sexta-feira (4), para a contratação do meia argentino Walter Montoya, 25 anos. O jogador chega a Porto Alegre neste sábado para fazer exames e assinar contrato de um ano. Ele será o terceiro reforço para 2019, somando-se ao goleiro Júlio César, ex-Fluminense, e o volante Rômulo, ex-Flamengo.
— Prevaleceu a vontade do jogador, o que é fundamental. Ele tinha propostas de outros clubes argentinos, mas viu a grandeza e a correção do Grêmio e fez a opção — explica o agente Jorge Baidek, que uniu-se a Ricardo Giusti e Daniel Luzzi, representantes argentinos do jogador, para negociar com o Grêmio.
Hoje empresários, Baidek e Giusti foram adversários como jogadores na Libertadores de 1984. Na ocasião, o brasileiro atuava pelo Grêmio e o argentino, pelo Independiente, que ficaria com o título. Agora, eles se juntaram para trazer ao clube gaúcho o meia nascido na cidade de Machagai, na província de Chaco, ao norte da Argentina, próxima da fronteira com o Paraguai.
Ainda garoto, Montoya pegou a ruta nacional 11, importante estrada que corta o país, e viajou 700 quilômetros até Rosario para tentar a sorte nas categorias de base do Central. Teve sucesso nos testes e logo passou a treinar no CT de Granadero Baigorria, onde o clube forma seus talentos. Lá, desenvolveu características que carrega até hoje: o chute forte e as arrancadas em velocidade pelo lado do campo.
Sua estreia no profissional do Rosario Central ocorreu em 2014, sob o comando do técnico Miguel Ángel Russo, que hoje comanda o Alianza Lima, do Peru. Mas seu crescimento se deu, sobretudo, a partir do ano seguinte, quando Eduardo Coudet assumiu a equipe. Quem acompanhou de perto a trajetória de Montoya foi o experiente goleiro Maurício Caranta, hoje no Talleres, que era o titular do Central na época.
— Walter é um grande jogador que desenvolveu seu potencial graças ao trabalho de Coudet. Acredito que, no México, ele não teve muita continuidade e não pôde crescer. Desejo muita sorte a ele no Grêmio — diz Caranta.
Outra testemunha da trajetória de Montoya no clube argentino é o repórter Aquiles Cadirola, da Rádio Mitre de Rosario. Ele detalha, sobretudo, a temporada de 2016 vivida pelo meia, em que obteve destaque na Libertadores, principalmente pelos confrontos nas oitavas de final que eliminaram o Grêmio.
— Suas melhores atuações foram contra o Grêmio e o Atlético Nacional. No jogo de ida contra os colombianos, pelas quartas de final, ele fez um gol brilhante de fora da área. Trata-se de um clássico meio-campista pela direita. Tem boa técnica e chute de média e longa distância. Além disso, o controle de bola e sua velocidade são suas principais características — relata Cadirola.
O destaque pelo Rosario abriu as portas da Europa a Montoya. A pedido do técnico argentino Jorge Sampaoli, hoje no Santos, foi contratado no início de 2017 pelo Sevilla. No entanto, a demora na adaptação ao futebol espanhol e a concorrência com o meia Jesús Navas em sua posição tornaram seus minutos em campo algo raro, tanto que ele disputou só sete partidas.
— Ainda que sua contratação tenha sido solicitada por Sampaoli, Walter teve passagem discreta pelo Sevilla. Um fator que prejudicou sua trajetória no clube foi o fato de ter chegado em janeiro, com a temporada já em andamento. Assim, não teve condições físicas de competir com os titulares — explica Samuel Silva, repórter do jornal Diário de Sevilla.
Pouco utilizado, Montoya deixou o clube espanhol no início de 2018. Foi comprado por US$ 4 milhões pelo Cruz Azul, do México, que venceu a concorrência com Inter e Boca Juniors pelo meia. No clube mexicano, disputou 17 partidas no primeiro semestre e fez um gol. No segundo, foram nove participações.
No entanto, desde outubro, não disputa uma partida. Isso ocorre, basicamente, por conta de um desentendimento entre Montoya e o técnico português Pedro Caixinha. Segundo o repórter Alberto Villanueva, do canal Fox Sports, do México, o fato de ter sido preterido pelo treinador nos jogos finais do Apertura foi a principal causa do problema.
— A química entre eles não foi a melhor. No Apertura, Montoya só iniciou quatro partidas, mas não chegou a jogar nenhuma até o fim. Nas finais do torneio, o treinador não o colocou para jogar. Na semifinal, não foi convocado e teve de ver o jogo das cabines. Isso provocou a ira de Montoya — conta Villanueva.
Em recente entrevista, o meia desabafou sobre o motivo de sua saída do clube mexicano.
— Senti que o treinador me tratou como lixo. Nos treinos fazia-me sentir o melhor, nos jogos não era utilizado — disse Montoya à rádio argentina La Red.
— Em toda a minha vida, tenho conhecido jogadores de treinamento e jogadores de partidas. Espero que ele vá muito bem no futuro. Sua passagem aqui foi muito parecida ou um pouco melhor do que no Sevilla — respondeu o técnico ao jornal mexicano El Gráfico.
No Grêmio, Montoya tentará deixar os problemas no passado. Ele chega com status de reposição para a saída de Ramiro, que foi para o Corinthians. Sua contratação não diminui a procura por outro jogador de meio-campo. O clube agora tentará buscar um meia com características de criação, para atuar na mesma faixa de campo de Luan.