Resistente à contratação de jogadores estrangeiros, Renato Portaluppi não titubeou quando a direção do Grêmio colocou para sua análise o nome do meia argentino Walter Montoya, 25 anos.
— Pode trazer. Este é bom — avalizou o treinador.
Era a primeira semana de dezembro, o Brasileirão recém havia se encerrado e o empresário Jorge Baidek, parceiro de Renato nas conquistas da Libertadores e do Mundial de 1983, saiu a campo para negociar com o Cruz Azul, do México, a liberação de Montoya. Àquela altura, já se costurava a transferência de Ramiro para o Corinthians e seria necessária uma reposição qualificada, que o mercado brasileiro não oferecia. Na última sexta-feira, o Cruz Azul finalmente aceitou a oferta do Grêmio, e o jogador, que já estava em Rosario, na Argentina, soube que viajaria para Porto Alegre no dia seguinte.
— Desta vez, conseguimos esconder direitinho de vocês (jornalistas) — brincou Baidek, que estava presente na entrevista de apresentação do reforço, nesta terça-feira (8), no CT Luiz Carvalho.
O vice de futebol, Duda Kroeff, confirma a preferência de Renato por jogadores brasileiros. Esclarece, porém, que o treinador se curva quando defrontado com o argumento da qualidade.
— Se ele achar que vale a pena trazer um estrangeiro, é parceiro. Se o cara não é isso tudo e ainda é estrangeiro, aí é claro que ele veta. No caso do Montoya, é diferente. E Renato aprovou na hora — afirma o dirigente.
A desconfiança de Renato quanto a jogadores não nascidos no Brasil cresceu a partir das fracassadas experiências com os equatorianos Bolaños e Arroyo. Em 2017, o treinador também havia sido contrário à contratação do argentino Gata Fernández, que estava na Universidad de Chile.
Em sua primeira fala, Montoya confirmou que chega mesmo para ocupar a vaga de Ramiro. Em 2016, quando o Rosario Central eliminou o próprio Grêmio nas oitavas de final da Libertadores, com vitórias na Arena e na sua casa, o Gigante de Arroyito, ele atuava pela faixa direita em um meio-campo que também contava com Musto, Cervi e Fernández.
— Posso jogar nos dois lados do meio. Obviamente que, no Rosario, joguei muito pela direita. Esse é o lugar favorito, o que mais gosto, seria bom jogar ali — avisou, com a ressalva de que irá empenhar-se da mesma forma caso o técnico o escale em outra função.
Satisfeito com a acolhida que teve no Grêmio, sobretudo do compatriota Kannemann, a quem consultou ao saber do interesse do clube gaúcho, Montoya tem feito um trabalho específico de recondicionamento físico. Como não atua desde outubro, quando desentendeu-se com o português Pedro Caixinha, treinador do Cruz Azul, o preparador Rogério Dias constata uma leve defasagem física.
— O futebol brasileiro não é fácil. É muito dinâmico. Não venho com tanta continuidade. Quando entrar, quero estar a 100%, e não a 80 ou 90% — promete o meia, que admite ter vivido problemas particulares com Caixinha.
Para Baidek, a dificuldade do argentino foi maior com o diretor de futebol do Cruz Azul, que, ao reformular o grupo de jogadores, passou a dar a Montoya um tratamento distante, o que irritou o jogador. A partir de então, ele passou a interferir junto à direção. O Grêmio chegou na frente de três clubes argentinos, entre eles o Rosario Central.
As dificuldades do novo contratado em compreender as perguntas feitas em português geraram algumas risadas durante a entrevista coletiva. Em um dos questionamentos, Duda Kroeff, que estava sentado ao lado do meia, saiu em seu socorro.
— ¿Qué jugadores conoces de Grêmio? — socorreu o dirigente, ao perceber que o jogador não havia entendido.
Montoya, então, lembrou os confrontos de 2016 e citou Maicon, na ocasião já o capitão do time do Grêmio.
Outra pergunta, um tanto quanto longa, confundiu ainda mais o novo reforço, que abriu sua resposta com um sorriso:
— São duas perguntas, não? A primeira, já esqueci.