O Grêmio chega nesta segunda (18) a Porto Alegre com o dever cumprido no Mundial dos Emirados Árabes Unidos. Quanto a isso, não resta dúvida. A obrigação era não ficar no meio do caminho. Mas é preciso ter autocrítica. O time foi medonhamente dominado pelo Real Madrid na final de sábado, no Zayed Sports City Stadium. O placar de 1 a 0 ganhou ares de benção: 20 a 1 em finalizações e 61% a 39% de posse de bola. Tirando um chute do meio da rua de Edilson, em cobrança de falta, na da aconteceu no Grêmio. Até aí, tudo bem. É o Real. Mas tem o outro lado.
Houve sofrimento além da conta para eliminar o Pachuca na semifinal, na prorrogação. E o futebol não perdoa. No vestiário chateado, porém aliviado por não levar uma goleada como a do Santos diante do Barcelona, em 2011 — o que, aí sim, seria vexame — o assunto rapidamente virou para o ano que vem. A temporada de 2018 é logo ali e, se o desejo é de fato ingressar nesta rota de disputar títulos, como sugeriu o vice de futebol Odorico Roman, alguns ajustes terão de ser feitos.
Este passa a ser desafio a partir da chegada da delegação em Porto Alegre. A quase inevitável perda de Arthur para a Europa — o Real Madrid deve entrar na briga com o Barcelona por ele — reduzirá o time a muito menos do que é. A meta é tornar a disputa de títulos algo rotineiro, marcando o período da gestão Romildo Bolzan na história tricolor exatamente por este aspecto.
— Vamos analisar tudo com cuidado. Mas o torcedor pode ter certeza que vivemos aqui nos Emirados algo emblemático de um momento do Grêmio. Chegamos a um patamar de disputar títulos com regularidade, pois temos uma base sólida, no campo e na gestão — afirmou Odorico.
As dificuldades, sem Arthur, gritaram nos Emirados Árabes. O meio-campo travou. Jailson não o supre nem de perto. Se Luan for bem marcado, a criação tem enorme prejuízo. Não há como saber em que condições Douglas voltará. O objetivo é não cair de patamar enquanto equipe. Em fevereiro já há outro título em disputa. É a Recopa Sul-Americana, contra o Independiente. Já tem até definição do primeiro que não fica.
Lucas Barrios está fora. Com uma entrevista fora do lugar, dizendo que já sabia ser carta fora do baralho há dois meses, passou a impressão de descomprometimento minutos depois de encerrar um péssimo mundial. A direção negou, e parece razoável que haja boi na linha, no mínimo. As declarações dele foram de alguém se eximindo de culpas. Ficou mal. Mesmo que estivesse já fora dos planos pelo salário alto demais, era um jogador sob contrato. E a regra universal dos vestiáros é: ganham todos, perdem todos.
E, claro, Renato. Tudo passa por renovar com ele. E o mais rápido possível, para planejar o ano e os reforços. O seu empresário, Gerson Oldemburg, está confiante no acerto. Passou o tempo todo nos hotéis gremistas nos Emirados, sempre em contato direto com os dirigentes e toda a delegação.
— Estamos indo bem, com calma — afirmou o empresário.
O presidente Romildo Bolzan cravou que Renato só não fica se não quiser. Pelo que fez com as peças dadas a ele, valorizando vários jogadores que são ativos do Grêmio, qualquer pedida de aumento tem de ser considerada neste sentido: custo e benefício. Em seu caso, a balança pende forte para o lado dos benefícios. Renato já estaria até vendo uma casa que lhe desse privacidade para morar em Porto Alegre, para não ficar mais em hotel.
Neste momento, portanto, antes das compras e vendas de começo de temporada, o Grêmio precisa ir ao mercado buscar um centroavante. E um atacante de velocidade - isso fora contratações para elenco. Só Fernandinho e Everton é pouco para as extremas, embora o segundo mereça sequência de jogos para não ser o eterno herói de segundo tempo.
Os meninos da base ainda não estão prontos. O novo ano será de calendário cheio, este é o ponto. E o futebol não perdoa. Pode-se estar no topo, duelando com o Real Madrid, mas se não mantiver a régua alta, as surpresas vêm. O Grêmio tem de virar para ontem a página do seu sonho não-realizado no deserto.