O cartão amarelo para Kannemann na primeira partida contra o Lanús dividiu os gremistas entre fatalistas e pessimistas. Aqueles que acham que a ausência do zagueiro argentino é uma desvantagem incontornável na decisão da Libertadores e aqueles que a encaram apenas como mais um duro desafio tricolor na busca pelo tri. Eu não visto uma camisa nem a outra. Para mim, o desfalque de Kannemann oferece ao Grêmio um trunfo: um jogador contestado que se vê diante do jogo de sua vida.
Em Hollywood, território afeito e afoito por histórias de superação, esse roteiro já estaria pré-aprovado. Ainda mais que o personagem principal poderia ser interpretado por um jovem galã do cinema americano – é loiro, alto, bonito e tem olhos claros.
Sob essa aparência perfeitinha, esconde-se um drama que atrairia atores interessados em provar seu talento: o que se passa na cabeça de alguém que, em seus vinte e poucos anos, convive constantemente com a crítica, com a vaia, com o meme? Como se sente alguém que, à menção de seu nome, desperta desconfiança, desespero, destempero?
Bressan, eis o nome.
Acho seguro dizer que muitos não gostariam de estar na pele de Bressan em La Fortaleza. Ele é o bode expiatório por antecedência de um eventual fracasso tricolor (existe até um perfil no Twitter, o @BressanFalhou, que sentencia: "Bressan falhou com a camisa do seu time. Se não falhou, vai falhar!"). Se o Grêmio perder o título, o zagueiro será o suspeito número 1.
Mas, no fundo, no fundo, todos queriam ser Bressan na quarta-feira à noite. Todos nós queríamos ter a oportunidade de disputar uma final de Libertadores (uma final de Libertadores, cara! Não há zagueiro na América que não queira estar no teu lugar). Todos nós queremos uma segunda chance.
Bressan, quarta à noite tu não estarás sozinho. Além dos teus companheiros de time e do técnico Renato Portaluppi, eu também deposito minha confiança em ti. Uma decisão de Libertadores não cai no colo de ninguém – tu trabalhaste para estar aí, na Argentina, a poucas horas de fardar o manto sagrado. Substituir Kannemann não deve ser um peso, mas uma honra. Um prêmio – tu podes ser o herói do título. Se ajudares o Marcelo Grohe a não tomar gol, ao fim da partida a cabeça de vocês já estará em Abu Dhabi. Basta isso, não tomar gol.
Por isso, Bressan, conta comigo em cada dividida, em cada carrinho, em cada disputa pelo alto, em cada enrosco ou confusão. Comigo não: conosco. Não é hora para fatalismo nem pessimismo. Não é hora para filme de terror – o que todos queremos amanhã é ver uma típica história hollywoodiana de redenção, com final feliz e beijo na mocinha: a taça.