Homem de confiança de Renato no Grêmio, Bressan terá pela frente o maior desafio de sua carreira na fumaceira de La Fortaleza, na final da Libertadores contra o Lanús. Ele é o favorito a substituir Kannemann e formar dupla de zaga com Geromel na batalha pelo tri da América.
Jogar no palco da decisão não será novidade para Bressan. O zagueiro de 24 anos, com a camisa do Penãrol, já atuou contra este mesmo Lanús de Jorge Almirón em La Fortaleza no ano passado. Estavam em campo vários dos grandes nomes que o time argentino alinhará contra o Grêmio, como Alejandro Silva, Velázquez, Marcone, Martínez, Lautaro Acosta e Pepe Sand. É bem verdade que a pressão da torcida adversária não era a mesma, já que se tratava de um torneio amistoso em julho, a "Copa Río de La Plata". Ainda assim, o Peñarol buscou a virada por 2 a 1 e Bressan saiu vencedor do estádio ao qual voltará na quarta-feira.
Agora, está em jogo a taça mais importante do continente e a chance de marcar o nome na história do Grêmio. Mesmo que o clube ainda tente recurso na Conmebol para anular o cartão amarelo que tira Kannemann da decisão, Renato conta com Bressan para substituir o argentino, que teve a suspensão confirmada nesta segunda-feira (27). A confiança do técnico no zagueiro ficou clara em seu retorno de empréstimo do Peñarol.
— O Bressan tem qualidade, confio nele. Sempre que precisei, entrou e jogou bem — declarou Renato após a vitória sobre o América-MG pela Primeira Liga, em que confiou ao zagueiro a braçadeira de capitão.
Desde os tempos de Juventude, Bressan já chamava a atenção do treinador. No Gauchão 2011, quando tinha 18 anos, o zagueiro teve atuação destacada em uma vitória do time de Caxias do Sul sobre o Grêmio de Renato no Alfredo Jaconi. O resultado de 3 a 2, inclusive, foi definido com um golaço de Ramiro para a equipe da Serra. O técnico do Ju à época era Picolli, que lembra da serenidade de Bressan na partida.
— É um menino muito equilibrado, centrado. Fez parte de uma ótima equipe no Juventude junto com o Alex Telles e o Ramiro. Nunca precisei falar duas vezes com ele, naquele jogo ele entrou com naturalidade e foi importante para nossa vitória — conta Piccoli.
Dois anos depois, em sua estreia no Grêmio, Bressan teve de encarar um batismo de fogo. Recém-chegado do Juventude em 2013, foi chamado às pressas por Vanderlei Luxemburgo para encarar a LDU, do Equador, no mata-mata da primeira fase da Libertadores. Substituindo o veterano Cris, lesionado, o zagueiro, com apenas 20 anos, teve atuação séria, ajudando para o 1 a 0 no tempo normal — a vaga foi conquistada nos pênaltis, com defesas importantes de Marcelo Grohe.
Naquele seu primeiro ano de Grêmio, Bressan se firmou como titular após a chegada de Renato, que fazia sua segunda passagem como técnico do clube ao ocupar o lugar de Luxemburgo. O zagueiro virou peça importante da equipe vice-campeã brasileira, formando um bom trio defensivo com Werley e Rhodolfo, o que resultou em sua melhor temporada com a camisa do Grêmio, disputando 55 partidas.
Nos anos seguintes, contudo, Bressan teve de conviver com uma série de críticas ao seu estilo de jogo. Por falhas em lances de gols, parte da torcida criou uma espécie de "ranço" com o zagueiro. O ápice desta relação tensa ocorreu em junho do ano passado, no jogo entre Grêmio e Vitória, pelo Brasileirão. Titular ao lado de Fred na zaga gremista, Bressan foi expulso pelo árbitro Sandro Meira Ricci por um pênalti em que o zagueiro não cometeu no atacante Dagoberto. Com o cartão vermelho, o zagueiro foi vaiado em coro na Arena. Uma cena traumática não só para o jogador, mas também para seu pai, Dorivaldo Bressanelli, que estava nas arquibancadas naquele dia.
— Para mim, que sou pai e estava no estádio, não é legal ouvir aquela vaia. É uma coisa que machuca. Mas ele administrou isso, acho que aquele momento fez ele crescer. Apesar de todas as críticas, algumas piores do que ele merecia, hoje está mais forte do que nunca. Está focado e querendo ser campeão como todos no grupo — conta seu Dorivaldo.
A partir dali, Bressan foi emprestado ao Peñarol também para preservá-lo das críticas. Mas no início do ano Renato solicitou sua volta ao Grêmio como opção para a dupla Geromel e Kannemann. Com bons treinos, o zagueiro passou Thyere e Bruno Rodrigo na hierarquia do grupo e tornou-se reserva imediato. No jogo de volta semifinal da Copa do Brasil, contra o Cruzeiro, Bressan foi o escolhido para ocupar a vaga de Geromel, que havia sofrido lesão muscular. E, com a confiança do treinador, foi um dos melhores em campo apesar da eliminação no torneio.
— Se entrar contra o Lanús, o Bressan vai dar tudo de si. Já provou isso contra o Cruzeiro com uma boa atuação. Será um jogo complicado, os argentinos gostam deste clima de guerra. Mas futebol se joga no campo e, neste quesito, o Grêmio tem um time melhor do que o deles. Tem plenas condições de ser campeão — observa seu Dorivaldo.
Ele promete ser um dos 4 mil torcedores gremistas em La Fortaleza para a decisão com o Lanús. Até já combinou a viagem com Gilnei Benetti, pai de Ramiro, amigo do zagueiro desde os tempos do Juventude. Tudo o que ele quer é ver o filho com a taça da Libertadores nos braços.
— Eu jamais perderia essa final. É difícil substituir alguém como o Kannemann, mas se o Bressan for escolhido pelo Renato ele estará com a cabeça boa, focado para ser campeão — completa o pai do zagueiro gremista.