Aos 44 anos, Rolando Schiavi trocou as chuteiras pelo apito. Os carrinhos precisos e viris deram lugar aos cones. Atual técnico do time B do Boca Juniors, o ex-zagueiro do Grêmio recebeu a reportagem de GaúchaZH logo após encerrar o treino com os garotos xeneises na manhã deste sábado (18), no CT de Casa Amarilla, para uma conversa sobre a final da Libertadores. Assunto, aliás, em que ele é especialista.
Ídolo e multicampeão pelo Boca, Schiavi tem mais de 15 anos de experiência no futebol argentino. Na entrevista, relembrou os tempos de Grêmio, quando foi finalista da Libertadores em 2007, e detalhou as armadilhas que aguardam o Tricolor na grande decisão da competição deste ano. A principal delas, segundo ele, é que o time argentino joga sem pressão alguma e, por isso, jamais entra em desespero, por mais complicado que esteja o jogo.
— O Lanús nunca se desespera com a pressão do rival. Sempre joga da mesma forma e não tem a necessidade que tem o Grêmio de ser campeão, então, por isso, eles podem jogar menos pressionados e mais tranquilos — alerta.
Na entrevista, Schiavi detalhou os pontos fortes do Lanús, elogiou o centroavante Jose Sand, relembrou o time gremista finalista em 2007 (que perdeu para o próprio Boca) e falou sobre o projeto de ser treinador, cogitando inclusive trabalhar no futebol brasileiro e treinar um dia o próprio Grêmio.
Confira a entrevista com Schiavi:
Pela tua experiência no futebol argentino, quais são as principais qualidades do Lanús?
O Lanús formou um bom time, que sabe o que quer, sempre tenta sair jogando, nunca se desespera, sempre arrisca, o que é uma virtude do (técnico Jorge) Almirón. E nunca se desespera com a pressão do rival. Sempre joga da mesma forma.
Você acredita em um Lanús ofensivo contra o Grêmio na Arena?
Eu creio que, pelo que vi contra o River e outros rivais, fora trata de ser um time mais cuidadoso, de ter a posse da bola, de fazer o ritmo que quer impor, porque troca muito a atitude do jogo quando é visitante ou é dono da casa. Creio que (na Arena) vão recuar e jogar um pouco mais no contragolpe.
O que faltou para o Grêmio ser campeão há dez anos, contra o Boca?
Foi uma final muito rara, creio que o Boca fez a diferença aqui, jogando em casa. Foi uma partida muito complicada, enfrentamos um Boca muito forte, nos custou muito nos adaptar no campo do Boca. Depois, tivemos chance de fazer um gol, mas encontramos um Riquelme que estava no melhor momento pessoal. Nos golearam também porque tínhamos feito muito sacrifício para chegar àquela fase.
Quais as diferenças entre a final de 2007, contra o Boca, e a final de 2017, agora contra o Lanús?
Creio que a diferença é que o Lanús não é o Boca. O Boca tem muito mais história copeira. Já o Lanús chega pela primeira vez na final da Copa Libertadores. Por isso, eles podem jogar mais tranquilo, não têm tanta necessidade como o Grêmio de ser campeão, já que o gremista sempre acredita que tem que estar na final da Libertadores e faz já um tempo que o Grêmio não é campeão.
Isso é uma vantagem do Lanús?
Creio que sim. Todos os jogos são distintos. Há que ver também se o Lanús pode aguentar o ritmo que o Grêmio vai impor em casa. Tomara que seja uma boa partida e que o Grêmio tenha a sorte de ser campeão.
Quem é o favorito? Grêmio ou Lanús?
Como dizia, o Lanús vai jogar muito mais tranquilo, menos pressionado com a final. Mas creio que o Grêmio tem uma boa equipe para superar isso. Finais são jogos à parte. Quem tiver numa boa noite, pode fazer a diferença.
Que avaliação você faz da dupla de zagueiros do Grêmio, Pedro Geromel e Kannemann?
São jogadores fortes, que tem bom trato com a bola, são agressivos na marcação, estão tendo um nível muito bom, mas na final não precisam só jogadores, mas também toda a equipe para ser campeão.
Quais os pontos fortes do Lanús?
É uma equipe com três atacantes que se mexem bastante e fazem a diferença no mano a mano, tem um goleador como Sand que está sempre no lugar certo e faz gols em todos as partidas. Tem que estar atento e marcá-los de perto.
O Grêmio foi campeão da Copa do Brasil e agora está na final da Libertadores. Se vencer, o time gremista pode iniciar uma série de conquistas como o Boca Juniors do início dos anos 2000?
Tomara. No Brasil, há muitas equipes muito grandes. Tomara que o Grêmio possa ter essa regularidade de se soltar e começar a sair campeão. Creio que merece, pela torcida que tem e pelo grande time que é.
Você hoje é técnico do time B do Boca. Qual o seu projeto na carreira de técnico? Cogita trabalhar no Brasil e, quem sabe, no Grêmio?
Tudo pode acontecer, estou a três anos nos reservas do Boca (algo como um time B). A ideia é em algum momento dirigir um time de Primeira Divisão. Já tenho a minha comissão técnica. Tomara que seja possível. me encantaria. Eu gosto muito do Brasil e de Porto Alegre e, se for possível, tomara que possa ser em breve.